É muito difícil, no meio de uma pandemia que tem sido especialmente devastadora no Brasil, com recordes de mortes diárias, haver espaço para a opinião pública se indignar com alguma outra coisa que não seja a crise sanitária mundial.
É preciso ser algo absolutamente devastador. Pois foi isso que aconteceu, nesta quinta-feira (8), com todas as pessoas que acompanharam a escabrosa história envolvendo a morte do garoto Henry Borel Medeiros, de apenas 4 anos de idade.
O caso arrastava-se desde o dia 8 de março, quando Henry deu entrada e morreu em um tradicional hospital do Rio de Janeiro. Ele foi levado ao local pela mãe, a professora Monique Medeiros, e pelo padrasto, Jairo Souza Santos Júnior — mais conhecido como Dr. Jairinho, apelido — ou seria alcunha?! — com o qual foi eleito vereador no Rio de Janeiro pelo partido Solidariedade — chega a ser irônico ele representar um partido com esse nome.
O casal alegava ter encontrado Henry desmaiado no quarto onde dormia. O menino estaria com os olhos revirados, pés e mãos gelados e dificuldades para respirar. Segundo os médicos, o garoto chegou ao hospital com parada cardiorrespiratória e não conseguiu ser salvo.
Inicialmente, o caso foi tratado pela polícia como um acidente, mas perícias médicas constataram que o garoto havia sido vítima de agressões. No Instituto Médico Legal (IML), a necropsia constatou múltiplos sinais de trauma, como equimoses, hemorragia interna e ferimentos no fígado, típicos de agressão.
À polícia, o casal afirmou suspeitar que o menino tenha se ferido em uma queda, mas, segundo as investigações, os machucados detectados pela necropsia não são compatíveis com essa alegação.
E, nesta quinta-feira (8), finalmente, foi confirmada pela polícia tudo aquilo que muita gente já suspeitava. O casal foi preso no curso do inquérito que apura a morte do garotinho.
O delegado responsável pelo caso afirma não ter dúvida da autoria do crime, envolvendo a mãe e o padrasto. A polícia suspeita que Henry tenha morrido depois de ser submetido a uma sessão de torturas por Jairinho, que nega o fato.
Mensagens recuperadas de um celular da babá do garoto, porém, mostram uma rotina de agressões de Jairinho contra Henry. E por mais chocante que possa parecer, com o conhecimento da mãe. Nas trocas de mensagens, a mãe até se mostra relativamente preocupada com o filho, mas na prática não foi capaz de fazer nada para protegê-lo desse verdadeiro monstro.
Do dia da morte até esta quinta-feira (8), reportagens de diversos veículos de comunicação foram revelando todo o histórico de agressões praticadas por Jairinho, principalmente contra crianças — filhos e filhas de suas companheiras. Inclusive, nas investigações, a polícia colheu depoimentos de outras agressões supostamente cometidas pelo político, envolvendo mulheres e crianças.
Aos poucos, foi-se formando a personalidade de um agressor autoritário, cruel e covarde. Não bastassem ter cometido e/ou permitido que tal crime acontecesse, padrasto e mãe ainda atrapalhavam as investigações, intimidando testemunhas e combinando versões, segundo a polícia. A defesa dele nega, claro!
Curiosamente, o apelido Jairinho não vem do tamanho de seu caráter, como poderíamos supor, e sim pelo fato de ele ser filho de um ex-deputado estadual e policial, Coronel Jairo. A carreira política foi feita à sombra do pai e solidificou-se com expressiva votação em bairros dominados pelas milícias cariocas.
Jairinho é aquele tipo de valentão que na hora em que o bicho pega vai correndo chorar na saia da mãe. No caso, a “mãe” dele foi o governador em exercício do Rio, Claudio Castro (PSC), para quem o vereador ligou logo após a morte de Henry.
Castro confirmou ter recebido tal ligação e afirmou ter dito a Jairinho que o caso seria investigado pelas autoridades responsáveis, sem interferências.
Não satisfeito, o “pequeno Jairo” teria procurado outras autoridades com objetivo de “acelerar os trâmites” para a liberação do corpo no IML. O que aparentemente seria uma pressa para aliviar a dor da mãe e dos familiares, provavelmente na verdade era desespero para evitar mais investigações no corpo de Henry.
Jairinho, o pequeno, mostra o que há de pior no caráter de uma pessoa. Arrogante, prepotente, covarde. Um monstro que merece TODO o rigor da lei caso seja condenado por tal atrocidade. A sociedade brasileira precisa e vai cobrar isso.
O post O pequeno Jairo e o grande Henry apareceu primeiro em Jornal Cruzeiro do Sul.