Passageiros do ônibus que tombou relatam situação após acidente

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“Eu comprei a passagem no terminal do Tietê”, começou Josiel Rodrigues, 39 anos. “Quando eu estava para embarcar na plataforma 71, parou um táxi e disse para a gente entrar, levou a gente para o [bairro do] Brás e nos botaram nesse ônibus”, contou. A reportagem do Metrópoles esteve no ponto de apoio aos passageiros que tombaram junto ao automóvel da Prado Durães Turismo e Transporte nessa quinta-feira (23/12). Rodrigues, uma das vítimas parecia cansado, mas fisicamente bem, e mostrou-se indignado com a situação pela qual estava passando desde o acidente.

O posto para onde foram levados, a 30 km ao norte de Formosa, em Goiás, tinha cerca de 20 pessoas espalhadas pelo restaurante do local. “Deixaram a gente aqui, disseram que não tinha hotel e não falaram mais nada”, queixou-se o homem. Com pequenas dores pelo corpo, ele estava acordado na hora do acidente na DF-130. “Quando eu senti um tranco, pensei ‘vixe, caiu’, e aí começou a cair, todo mundo gritando. Aquele desespero”, contou. Ele, que seguia para a cidade de Paraibano, no Maranhão, esperava a continuação da viagem a poucos quilômetros de Formosa.

O ônibus em que ele estava não tinha autorização para aquela excursão, segundo informou a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Além disso, a empresa poderia fazer viagens de ônibus fretadas, mas não vender passagens separadas. Esta foi a primeira viagem da empresa desde que foi homologada junto à agência reguladora.

A ANTT precisa homologar as empresas que podem prestar serviços, seja de ônibus fretados ou excursões abertas – aquelas em que se pode comprar uma passagem. Após o cadastro desses estabelecimentos, a agência reguladora tem de aprovar cada uma das viagens individualmente, o que não aconteceu com a feita pela empresa Prado Durães Turismo e Transporte.

Empresa de ônibus que tombou não podia vender passagens, diz ANTT

Ônibus que tombou no DF não estava autorizado a fazer viagem, diz ANTT

Veja como ficou o ônibus tombado:


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Jucimara da Silva, 21, estava na parte de baixo do veículo de dois andares. Assim como ele, a maioria dos passageiros que aguardavam no posto próximo a Formosa viajou no primeiro andar. Em geral, quem estava na parte superior teve de se dirigir ao hospital. Junto à filha, Ágata, 2, Jucimara esperava despertar um pouco mais perto de São Mateus, no Maranhão, mas acordou com o ônibus já no chão. “Estava todo mundo dormindo, graças a Deus minha filha não teve nada”, ponderou.

Para Orisvaldo Rocha, o acidente também agiu como despertador. “Foi rápido demais”, contou. “Ele já tinha o costume de andar rápido, sim. Teve até uma hora que estava chovendo, mas continuaram em alta velocidade”, relatou o homem, que embarcou em São Paulo para ir a Teresina. Segundo disse, ele comprou a passagem de “um homem que falou que trabalhava para a TransBrasil”, por R$ 600. “O resgate chegou meia hora depois, e o outro ônibus foi chegar era mais de 9h”, explicou.

“Eu levei foi um calote”

Sentada na primeira cadeira do segundo andar, Priscila Valentina, 29, também estava acompanhada do filho, Cauã, mas relatou a ausência do esposo, Clodoaldo. “Ele já tinha a coluna ruim, mas o impacto machucou bastante e ele vai precisar de cirurgia”, lamentou. De mudança para Presidente Dutra, também no Maranhão, ela era a mais abalada entre os que aguardam o ônibus reserva no qual seguirá viagem – sem o companheiro.

“Eu tenho R$ 100, como eu vou ficar aqui? Com meu filho ainda, não tem jeito. Meu marido vai ter que ficar sozinho”, reclamou.

A família embarcou em Ribeirão Preto, num posto de gasolina. A passagem foi comprada por depósito de R$ 600 via PIX na conta de um homem identificado apenas como “Gato”. “Ele mandou até uma foto do ônibus, vermelho, e era esse mesmo que a gente entrou”, relatou. Jucimara não teve a mesma sorte. “Eu levei foi um calote. Depositei R$ 700 na conta de um cara para depois ele falar que eu não tinha comprado nada dele. Tive que comprar outra”, contou, com a filha no colo.

A Prado Durães foi aberta em outubro de 2021 e obteve autorização para viagens fretadas da ANTT em 3 de dezembro. No momento em que o ônibus tombou, os motoristas fugiram do local do acidente. A fuga dos motoristas fez a agência reguladora suspeitar que a viagem era feita de modo irregular.


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“Não tinha nem cinto de segurança”

Consenso entre os passageiros ouvidos pela reportagem era o estado do automóvel que os conduzia ao Nordeste. “Não tinha nem cinto de segurança, o banheiro era imundo e tinha muita bagagem no corredor, no meio dos passageiros”, relatou Josiel. Ele conta que comprou a passagem no guichê da rodoviária do Tietê, numa empresa identificada como TransBrasil. Mesmo assim, viajou em um veículo descaracterizado, da Prado Durães.

Sem se identificar, uma passageira revelou que ouviu um diálogo entre os motoristas logo após o acidente. “Eles estavam assustados, mas um pedia para o outro recolher o dinheiro e os bilhetes”, lembrou a mulher, que estava na primeiro andar e próxima à cabine dos condutores Conforme o relato, eles quebraram a janela e fugiram. “Eu ainda pensei que fosse para buscar ajuda, mas chegou até o outro ônibus e eles não voltaram”, contou.

A reportagem encaminhou novos questionamentos a Leonardo Prado. O sócio da Prado e Durães alegou que a empresa foi contratada “por Alessandro Dias para uma única viagem de São Paulo ao Piauí por R$ 14 mil, sendo R$ 8 mil via PIX e R$ 6 mil em dinheiro para despesas com diesel”, ressaltou.

Segundo o empresário, o homem chamado de Alessandro ainda mandou junto um motorista de responsabilidade do próprio. “Desconhecemos venda de passagens”, finalizou.

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