Falta de testes deixa Brasil no escuro para conter avanço da Ômicron

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O país vive uma pane no diagnóstico da Covid-19, doença causada pelo coronavírus. A falta de exames afeta hospitais privados, clínicas e redes de farmácias. Esse é mais um entrave que impõe um desafio ao Brasil: como monitorar o avanço da variante Ômicron?

A escalada do problema colocou a comunidade médico-científica em alerta. Quando a testagem cai, a subnotificação de casos cresce. Dessa forma, o Brasil, que sempre testou muito pouco para a doença, dispõe de dados menos condizentes com a realidade para lidar com a disseminação do vírus.

Com o agravamento do problema, planos de saúde pedem a criação de critérios para o uso dos exames. A União Nacional das Operadoras de Autogestão em Saúde (Unidas), entidade que representa mais de 100 seguradoras, defende a priorização da testagem para pacientes com sintomas graves ou hospitalizados, devido à falta de testes no país.

“Estamos atuando junto à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), com o objetivo de implementar medidas excepcionais para a demanda atual. Defendemos que sejam firmados critérios para testagem, de maneira a evitar a falta de exames — seja no sistema privado ou público”, explica, em nota.

O texto ressalta. “Também solicitamos que a ANS altere temporariamente os critérios de autorização para a realização da testagem de Covid”, finaliza.

Testes suspensos

Redes de farmácias, como a Drogaria Raia, a Drogasil, a Drogarias Pacheco e a Drogaria São Paulo, e de hospitais, como a Rede D’Or – maior rede de hospitais particulares do Brasil –, suspenderam testagens de casos leves.

Para o leitor ter dimensão do impacto, a Drogarias Pacheco, a Drogaria São Paulo e o grupo Raia Drogasil possuem, juntas, 3,6 mil lojas pelo país. As marcas enfrentam o mesmo problema: falta de insumos junto aos distribuidores e fabricantes.

O grupo Dasa, que reúne mais de 40 marcas de laboratórios, reorganizou “temporariamente” o estoque de testes e está priorizando o atendimento dos pacientes internados e dos profissionais da área de saúde e de serviços essenciais.

A Rede D’Or admite que existe uma limitação no mercado nacional de insumos em função da explosão de casos causada pela nova variante, que tem se mostrado muito mais contagiosa.


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“Estamos priorizando a realização de exames em pacientes com indicação clínica para definição de tratamento e isolamento, pacientes internados e em profissionais de saúde, e limitando a realização dos exames eletivos ou em pacientes com bom estado geral”, informa, em comunicado.

Alta em janeiro

Segundo a Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias, o número de testes rápidos feitos na primeira semana de janeiro foi 70% maior do que na semana anterior. O levantamento abrange 4.613 farmácias, que juntas fizeram cerca de 480 mil atendimentos.

Capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília já registram escassez de exames. Fortaleza entrou na quinta-feira (13/1) na lista. O Sindicato do Comércio Varejista dos Produtos Farmacêuticos Estado Ceará (Sincofarma) confirmou que os estoques estão baixos.

O consórcio da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) solicitou ao Ministério da Saúde o envio de mais testes para os municípios como forma de massificar a estratégia de diagnóstico da doença.

Restrição na rede pública

Na rede pública, os efeitos da falta de teste começam a dar sinais mais contundentes. O aumento da procura por testes de Covid-19 em Rio Branco (AC) fez a prefeitura restringir o uso. Agora, somente pacientes sintomáticos serão testados na capital acreana.

Em Poços de Caldas, cidade mineira distante 460 km de Belo Horizonte, o mesmo aconteceu. Os testes serão feitos  prioritariamente em pacientes oncológicos, pessoas que estejam realizando hemodiálise, gestantes e idosos (a partir de 60 anos) com comorbidades.

Segundo a prefeitura, ainda há testes disponíveis, mas, por conta da alta demanda e por risco do material acabar, a Secretaria Municipal de Saúde adotou novas regras para aplicação dos exames.

A testagem em Santo Antônio do Jardim, município paulista distante 140 km da capital, a prefeitura restringiu uso dos exames a casos graves.

Importância da testagem

A infectologista Ana Helena Germoglio, professora assistente de medicina Centro Universitário de Brasília (UniCeub), salienta que a testagem é o método de monitorar  a disseminação do vírus e planejar ações. Para ela, a falta de testagem é arriscada.

“Quando temos duas doenças de circulação viral [a gripe e a Covid-19], a gente precisa testar. É a forma que temos de mensurar o que está acontecendo com a sociedade. Isso é importante para planejar as ações. Sem testar, não consigo saber a dinâmica de transmissão, se eu preciso implementar medidas de restrição, não tenho certeza do comportamento da circulação viral”, frisa.

Versão oficial

Em visita a São Paulo na manhã de quinta-feira (13/1), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, voltou a afirmar que a pasta deve distribuir aos estados 28 milhões de testes para a detecção da Covid-19 até o fim de janeiro.

“É necessário que os estados e os municípios se associem nessa questão da testagem, porque na ponta quem testa são os municípios, não é o Ministério da Saúde”, criticou o ministro.

Na quarta-feira (12/1), a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), por meio de seu Comitê de Análises Clínicas, divulgou alerta para o possível desabastecimento.

A entidade pede “a utilização criteriosa de testes” para evitar risco de redução na oferta de exames para detecção da Covid-19.

“A importância da testagem de toda a população para controle epidemiológico e manejo de pacientes em uma pandemia é reconhecida por todos os profissionais de saúde e até mesmo por pacientes”, frisa o texto.

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