O último documentário da Netflix invadiu as redes sociais nas últimas semanas. A produção O Golpista do Tinder, que conta a história de um estelionatário que usa a plataforma de namoro para dar golpes milionários em mulheres, ligou o alerta sobre o estelionato sentimental e os perigos que o catfish pode representar.
No Brasil, o termo é usado desde 2015 e foi “inspirado” em um caso muito parecido com o da Netflix. Na época, uma mulher procurou a Justiça do Distrito Federal para processar o ex-namorado por tê-la feito transferir mais de R$ 100 mil em dois anos de relacionamento.
A vítima ainda alegou que pagou contas e que comprou roupas e sapatos ao ex-companheiro. Enquanto estava com ela, o homem reatou o casamento com a ex-esposa. A defesa da mulher alegou que ela sofreu danos morais e passou “vergonha por ter sido enganada e ludibriada por um sujeito sem escrúpulos”. Ele foi condenado a ressarcir toda a quantia a ela.
Atualmente, a definição desse crime é baseada no Artigo 171 do Código Penal, como explica o advogado criminalista Philipe Benoni: “O crime se enquadra em processos que uma das partes tem a intenção de ‘obter para si ou para outrem vantagem ilícita em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer meio fraudulento’”.
Amor e dinheiro
No caso do estelionato sentimental, a pessoa tende a sentir-se coagida emocionalmente e acaba cedendo aos “empréstimos” de dinheiro. “O criminoso engana suas vítimas fazendo-as acreditar que está envolvido sentimentalmente – apaixonado por elas e, então, aproveita dessa vulnerabilidade para obter dinheiro, bens materiais, imóveis…”, explica o advogado.
A prática também é sútil e, em um relacionamento amoroso e de reciprocidade, poucas pessoas tendem a negar ajuda, como ressalta Leonardo Sant’Anna, especialista em segurança pública.
“Normalmente tem aquela promessa de que se essa dívida não for paga, é algo que coloca sua vida em risco, a do filho… Nesse cenário, ainda aparecem doenças próprias ou de terceiros para agregarem nessa justificativa”, alerta.
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Brasileiros mais vulneráveis
Considerado o pais mais ansioso do mundo e com picos de casos de depressão, os brasileiros tendem a ser mais vulneráveis sentimentalmente e, consequentemente, alvos mais fáceis de golpes relacionados a esse crime. Características que, como pontua Sant’Anna, são exploradas por esses criminosos.
Entre 2014 e 2018, a revista digital Gênero e Número verificou aumento de 253% nas ocorrências policiais envolvendo aplicativos de relacionamento em São Paulo, o estado mais populoso do país. Dados mostram, no entanto, que a pandemia inflou esses números no estado paulista.
De acordo com dados obtidos pelo portal R7, pela Lei de Acesso à Informação, golpes relacionados ao estelionato afetivo ou sentimental tiveram um salto de 508,9% entre 2019 e 2020. A pandemia da Covid-19 e o crescente número de cadastrados nessas plataformas de namoro podem ter sido os influenciadores desse resultados, bem como os relatos de problemas relacionados à saúde mental nesse momento atípico.
Esse cenário de vulnerabilidade fica nítido com dados da empresa de cibersegurança Kaspersky, divulgados em agosto do último ano: 15% das pessoas que utilizam aplicativos de namoro, em todo o mundo, já caíram em golpes. Além dessas, 31% não caíram em fraudes efetivamente, mas tiveram contato com fraudadores – ou seja, quase metade dos usuários (46%) já foi abordado por cibercriminosos.
Como identificar um estelionatário sentimental?
Se você desconfia estar em um relacionamento falso e/ou teme entrar em um, alguns sinais podem ser observados:
- Fique atento se o romance evolui muito rápido e o pretendente tende a querer informações muito íntimas sobre sua vida financeira;
- Por mais que pareça difícil, faça uma boa avaliação desse futuro parceiro (a);
- Desconfie da ausência de características profissionais e a pedidos de pagamento de contas, como cartão de crédito e conta do celular e da solicitação de informações sobre qualidade de crédito do parceiro para conseguir empréstimos em outros estados ou países;
- Fique atento se esses pedidos estão atrelados à risco de vida, saúde própria, do filho ou terceiros;
- Estelionatários são conhecidos por não apresentarem os namoros à família e amigos;
- Raramente assumem o compromisso nas redes sociais ou no ciclo de amizades.
O que fazer?
O crime pode ser sutil. Quando muitas vítimas tomam conhecimento do abuso que sofreram, já podem ter se passado meses ou até anos. Como a maioria se enquadra em crime de estelionato, as vítimas podem procurar uma delegacia de crimes e golpes digitais para registrar ocorrência. Benoni recomenda levar documentos, fotos e vídeos que comprovem o golpe que sofreram.
“Existem casos em que a vítima não deseja passar por um procedimento criminal, mas quer ser ressarcida. Sendo assim, pode-se entrar com uma ação cível com um pedido direto para que o autor do crime devolva os valores que auferiu indevidamente. Nesse caso, a vítima pode pedir, também, uma indenização pelos danos materiais e morais sofridos”, complementa o especialista.
“Busque resgatar provas, como o histórico de mensagem do aparelho celular, porque pode servir para buscar, por exemplo, contradições, mentiras e também para comprovar como o relacionamento aconteceu, a dinâmica desse acontecimento e, consequentemente, de como o estelionato foi produzido”, completa Sant’anna.
O especialista em segurança pública ainda ressalta: fique atento aos acessos do criminoso a contas, senhas e acessos de autoria da vítima: “Tire todos os acessos que ainda estejam liberados para uso do fraudador: cartão de crédito, número de celular e senhas de bancos”, finaliza.
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O post Golpista do Tinder: o que é estelionato sentimental e como se prevenir apareceu primeiro em Metrópoles.