Daniela Arbex narra em livro a tragédia humana ocorrida em Brumadinho

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Às 12 horas e 28 minutos de 25 de janeiro de 2019, a Barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão, da Vale, se rompeu em Brumadinho, em Belo Horizonte, deixando 270 pessoas mortas e tornando-se a maior tragédia humanitária do Brasil. Pouco mais de três anos depois do ocorrido, a jornalista Daniela Arbex conta os bastidores de sobreviventes, bombeiros e profissionais do Instituto Médico Legal (IML) no livro Arrastados, lançado pela editora Intrínseca.

Em Arrastados, Daniela relata a linha do tempo do terror vivido pelos moradores de Brumadinho, desde o rompimento da barragem que armazenava o equivalente a 400 mil caminhões-pipa carregados de rejeitos de mineração, até a avalanche que encobriu e carregou tudo que encontrou pela frente ― casas, pontes, árvores, bichos. A tragédia provocou a morte de 270 pessoas (ou 272, se consideradas as duas vítimas grávidas).

“O que me fez querer contar essa história foi uma foto que eu recebi na internet, das amigas de uma engenheira da Vale, que estava desaparecida. Ela chama Isabela Barroso Câmara Pinto. No dia do rompimento, eu estava no ônibus que me levaria do Aeroporto de Porto Alegre para Santa Maria, porque eu combinei com os pais da Boate Kiss que eu passaria os seis anos do incêndio com eles”, conta Daniela, que também é autora do livro Todo Dia a Mesma Noite, sobre a tragédia da Boate Kiss, ao Metrópoles.


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“Essas amigas da Isabela me procuraram pedindo ajuda, e eu me senti impotente. Mas quando mandaram a foto dela pra mim, foi devastador. Era uma menina linda, jovem e vestida de noiva. Ali eu prometi para mim mesma que se um dia eu fosse contar essa história, a primeira família que eu procuraria seria a da Isabela. E eu cumpri essa promessa”, completa.

Além de Arrastados e Todo Dia a Mesma Noite, Arbex também é responsável pelas obras Cova 312, Holocausto Brasileiro e Os Dois Mundos de Isabel. Ela, no entanto, afirmou que a obra sobre Brumadinho foi o mais difícil de produzir. Ela perdeu o irmão para a Covid-19 no processo e precisou passar por 26 testes RT-PCRs, já que ficou exposta ao risco do coronavírus no auge da pandemia.

“O que me impactou muito no Arrastados foi perceber que é um livro em que tudo nele tem escala industrial. Você tem o tamanho da dor das pessoas, você tem o tamanho da destruição provocada pelo rompimento da barragem, você tem uma indústria bilionária. Tudo é muito grande, é muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, muitos detalhes, um volume imenso de dores, de perdas. Isso realmente foi impactante pra mim”, pondera ela, que passou um ano em Brumadinho para produção da obra.

Todo Dia [a Mesma Noite] me tirou do eixo, mas Arrastados é tudo tão brutal, inimaginável, que é aterrador e assustador o que aquelas pessoas viveram. 

Daniela Arbex

A Morte Avermelhada

Um dos focos que Daniela dá ao livro é o papel dos profissionais do Instituto Médico Legal em Brumadinho. Em um dos capítulos, o que a jornalista aponta como “a tônica” da obra, profissionais do IML relatam que as vítimas do ocorrido perderam a cor da pele após serem arrastados pela onda de lama e rejeitos.

“Quando eu descubro que essas pessoas perderam a camada superficial da pele porque foram arrastadas e é essa camada que dá coloração aos corpos brancos, pretos e pardos, e que elas ficaram iguais na morte, isso tem um simbolismo tão profundo. Em uma sociedade com tanto racismo estrutural, essas pessoas ficaram todas iguais, independente da hierarquia”, revela ela.

Produções de televisão

No começo deste ano, a Netflix anunciou a minissérie sobre o incêndio na Boate Kiss, baseado no livro Todo Dia a Mesma Noite. A tragédia deixou 242 pessoas mortas e 680 feridas em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Daniela contou que, recentemente, participou da leitura do roteiro da série. Ela também adiantou que outras obras serão adaptadas para a televisão.

“Essa semana eu vivi uma coisa muito emocionante que foi a leitura do roteiro com os atores da série da Netflix, cada um interpretou sua fala. E eu fiquei pensando: ‘Quando eu imaginei que uma coisa que eu escrevi ia dar vida a uma coisa desse tamanho?’. Eu tenho outros livros que vão começar a ser adaptados, de cinco livros eu tenho quatro indo para a TV. Está sendo feito com muito cuidado, os atores estão muito comprometidos”, contou.

Quanto aos próximos livros, Arbex também adiantou que já tem contratos assinados para mais duas obras, mas não adiantou os temas: “Eu não posso contar, mas posso dizer que são histórias muito humanas e que são reveladoras. São sempre histórias de denúncias que ajudam a gente a apresentar o Brasil aos brasileiros.”

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