Carlos Monforte lança livro sobre os impactos do jornalismo digital

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O jornalista Carlos Monforte, um dos primeiros âncoras do telejornalismo brasileiro, publica o livro O papel do jornalismo sem papel. Na obra, o autor levanta o debate sobre o impacto da internet nas redações.

Monforte ressalta que, somente no ano de 2021, o declínio no número de jornais impressos foi de 13,6%, confirmando a tendência de queda registrada há anos nas tiragens dos principais periódicos brasileiros.

Uma das principais discussões instigadas em O papel do jornalismo sem papel é a relação entre a internet e a veracidade das informações que circulam nas redes sociais a todo momento. Para Monforte, a busca pela credibilidade é o único caminho para combater as fake news.

“Haverá cada vez mais a interação dos indivíduos interferindo nessas formas de comunicação, no tráfego dessas informações. Cada um tem sua visão de mundo, não necessariamente a visão com a qual todos concordam, e é preciso saber escolher em quem acreditar”, diz o autor.

A noite de autógrafos será nesta segunda-feira (28/3), das 18h30 às 21h30, na Livraria da Travessa do Casa Park, em Brasília.

Capa do livro O Papel do Jornalismo Sem Papel
O Papel do Jornalismo Sem Papel, de Carlos Monforte. Matrix Editora; 208 páginas. Preço médio: R$ 47

Leia entrevista com o autor:

Por que você resolveu escrever o livro?

Foram várias provocações, como o surgimento de novas plataformas que tornaram a comunicação mais rápida e fácil, até mesmo mudando a postura do jornalista. Daí, resolvi juntar isso com minha experiência pessoal, mas sem dar o ar de autobiografia, pegando minha experiência de mais de 50 anos mais a experiência e depoimentos de outros colegas e professores, além de algumas pesquisas e estudos realizados por universidades, artigos em revistas e livros especializados.

Essa é a razão do título?

Em parte, sim. O papel do jornalismo na sociedade é importante. Mas vem se desgastando ao longo do tempo, a tal ponto que o Supremo Tribunal Federal decidiu, há alguns anos, que não é mais preciso diploma para ser jornalista, não é necessária nenhuma formação para trabalhar na área. Qualquer um pode ser jornalista. Essa, então, seria a segunda parte do título: o sem papel. E sem papel também porque os meios impressos de comunicação, como jornal, revista etc. vêm perdendo terreno para outros meios de comunicação, mais ágeis e rápidos, nos quais todo mundo pode dar sua versão dos fatos, sem a necessidade de papel.

Você acredita que o jornalismo está morrendo?

Eu conto no livro um episódio vivido pelo jornalista Ethevaldo Siqueira que, ao fazer uma visita a um grande jornal americano, notou um imenso gráfico na parede, mostrando a queda contínua da circulação dos jornais no mundo, com a projeção de que essa circulação chegaria a zero por volta de 2043. Em cima do gráfico, uma frase categórica: “O jornal está morrendo”. No rodapé do quadro, os jornalistas escreveram: “Mas o jornalismo, não”. Na verdade, a circulação das informações com credibilidade é uma espécie de oxigênio da sociedade. Posso estar errado, mas não acho que as empresas jornalísticas tradicionais vão morrer tão cedo. O que elas têm de fazer é se adaptar aos novos tempos, equacionar um novo modelo de negócios, partir do zero, como mostra um estudo do jornalista Caio Túlio Costa, que passou meses pesquisando na Universidade de Columbia.

Como você coloca isso no livro?

Procurei dar ao livro uma linguagem coloquial, para que todo mundo possa entender com facilidade, e assim é o jornalismo – contar os fatos de maneira clara, objetiva, recheando com exemplos e declarações.

Até que ponto a internet atrapalha o jornalismo?

A velocidade da internet ajuda muito o jornalismo: os fatos chegam mais depressa aonde têm de chegar. Você tem o mundo à sua disposição. Mas tem um contraponto. O professor Clay Shirby, da Universidade de Nova York, escreveu um livro chamado Lá vem todo mundo: o poder de organizar sem organizações, onde mostra que as tecnologias estão indo além da liberdade de expressão, na medida em que incentivam a liberdade de cada indivíduo. Tem um capítulo intitulado Todo mundo é um veículo de comunicação, no qual praticamente descarta o papel da imprensa tradicional e mostra a presença cada vez mais forte dos amadores na comunicação. Isso, de fato, é uma ameaça para o jornalismo que se baseia em fatos.

Essa ameaça inclui fake news?

Sem dúvida. O jornalista é um ser sob pressão. Sempre foi assim e vai continuar sendo. É pressão de todo lado – da chefia, do tempo, dos concorrentes – e as novas tecnologias, apesar de ajudarem bastante, também são mais um componente de pressão. Junto com elas, vêm as fake news, que destorcem os fatos e embaralham o entendimento. É mais um fator de estresse. Tanto assim que foi criada em 2015 a Rede Internacional de Verificação de Fatos, que está presente em 51 países, inclusive no Brasil, com o objetivo de verificar a veracidade dos fatos. A rede inclui jornalistas de 79 plataformas de checagem nos países associados, num trabalho custoso até chegar à verdade. E muitos veículos também dispõem, eles mesmos, de um departamento de checagem e verificação da veracidade dos fatos.

As fake news seriam a principal ameaça atualmente?

É uma ameaça importante. Mas há outras bem delicadas. A ameaça da censura, do corte de publicidade por parte do governo, por exemplo. A verba oficial é importante para sustentar os meios de comunicação, embora não seja o único caminho. A publicidade não oficial é uma peça fundamental. E ela chega graças à credibilidade, à difusão e à seriedade dos veículos. E isso tem muito a ver com a postura da empresa e dos jornalistas que trabalham ali. Para isso é fundamental trazer sempre a verdade dos fatos e suas interpretações, de maneira séria e competente. Eu conto no livro algumas experiências que tive com a censura, tanto interna quanto externa, que impactam o coração da redação. Se a censura e a pressão dos governos são maneiras indescritíveis para se ocultar os fatos, a autocensura é aviltante, corrói a autoestima dos jornalistas.

E qual seria a saída?

A saída é a luta permanente pela verdade dos fatos. Mas o papel das redes sociais dificulta essa apuração, na medida em que cada tuíte, cada publicação no Facebook, cada manifestação nas redes, tem seu público e embaralham e distorcem a realidade. A luta está em esclarecer o público, a sociedade, o lado correto do fato, sem deixar de dar as diferentes interpretações. E quem faz isso é o jornalista com credibilidade e independência, sem se deixar levar por paixões e tendências políticas. Não é fácil, mas é necessário.

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