Passadeira de roupas do DF escreve poesias e sonha em publicar livro

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É entre uma roupa e outra, durante o serviço de passadeira, que Dora Cardoso, 57 anos, escreve poemas. A pernambucana trabalhou na área rural na infância e deixou a escola antes de concluir os estudos. Retornou à sala de aula em 2006, na Educação de Jovens e Adultos (EJA), depois de casar e criar dois filhos. Agora, a mulher sonha em prestar vestibular para o curso de letras e publicar um livro de poesias.

A moradora do Gama diz que a inspiração para os versos vem dos mais diversos lugares. “Se vejo um pássaro na rua, os versos já aparecem em minha cabeça”, conta. Mesmo com tanto talento, Dora nunca teve coragem de mostrar o caderno de poesias para ninguém. A passadeira achava que escrevia mal e, muitas vezes, chegou a jogar fora o que produzia.

“Eu não acreditava em mim. Achava que era besteira e que não daria em nada. Um dia, recitei um poema para um trabalho da escola, já na EJA, e todo mundo gostou. Aí, comecei a despertar para o meu dom e a me criticar menos”, afirma.


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Depois disso, a poetisa ganhou muitos incentivadores. Em todas as casas de família em que passava roupa, Dora aproveitava para recitar os versos e mostrar o caderno de poesias. Com o tempo, a mulher conseguiu juntar os poemas e uni-los no livro: “Um presente para todos”. A obra, no entanto, jamais foi publicada.

Com outros trabalhos e filhos para criar, o sonho do livro publicado foi deixado de lado, mas nunca esquecido. Depois de terminar os estudos, Dora apaixonou-se pelo universo literário. Ela tem como inspiração a poetisa Cora Coralina. “Eu me vejo nela. Enquanto ela fazia doces, criava os poemas. E é o meu caso. Enquanto eu passo roupa, também faço os meus poemas”, revelou.

A mulher coleciona poemas sobre os mais diversos assuntos: escola, infância, família, Brasília e Copa do Mundo. Nos versos sobre a capital federal, Dora ressalta a beleza dos jardins da cidade e a força dos operários que trabalharam na construção.

Veja Dora recitando uma de suas poesias: 

Alfabetização

Ao Metrópoles, Dora falou sobre o período de alfabetização com muito carinho e sorriso no rosto. Em uma família de seis irmãos e pouca condição financeira, ela conta que aprendeu a ler em casa, com o pai.

“Ensinou-me a ler em livro de cordel. Ele juntava as letras e formava as sílabas para eu aprender. Quando entrei na escola, já mais velha, eu sabia ler e escrever, porque tinha aprendido em casa. Era muito difícil ir para a escola nas nossas condições, mas sempre gostei”, relembra.

Agora, Dora acredita que os pais estariam orgulhosos da escritora que se tornou. A mulher prepara-se para publicar um livro de fábulas em outubro deste ano e tenta passar o legado para os filhos. “Acredito que todos na minha casa tenham esse dom”, orgulha-se.

Leia uma das poesias de Dora:

O sonho virou rabisco
O rabisco deu vida a um pássaro
De asas grandes e com o nome de Brasília
Vestido com verdes floridos
E pelas mãos dos artistas
Esculpido.

Voando no alvorecer
Como uma criança no despertar
Do aprender
Da disputa política
Para o poder alcançar

Mas é a mão do operário
Que faz este grande pássaro
Voar com precisão
Batendo o coração
Bombeando o sangue de uma Nação

Deixa o vento nos levar
Nas tuas asas vai nos segurar
No horizonte podemos enxergar
O céu azul e estrelado
E as flores do cerrado
Exalando um aroma no ar
Que nos seduz a ficar

E o senhor JK
Sempre com suas mãos estendidas
Saudando a todos
Que por aqui vierem passar

Uma igreja para rezar
Um lago que se faz mar
Uma ponte que nos faz lembrar
Uma harpa a tocar
Uma canção nos faz sonhar
Que é em Brasília
Que queremos morar

Pegaremos uma carona
Nas tuas asas
Construiremos o nosso lar.

Autora Maria José Cardoso
Pseudônimo Dora Cardoso

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