Diretor de Amado mergulha em corrupção policial: “Lazer e reflexão”

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O filme Amado chega aos cinemas na próxima quinta-feira (9/6) com uma história de tirar o fôlego. Inteiramente filmado em Brasília, com a maioria das cenas retratando a região de Ceilândia, o longa conta com a tutela de dois diretores renomados: o cineasta Edu Felistoque (de Cracolândia), e sua maneira diferenciada de mostrar um cenário, e Erik de Castro (Federal), conhecido do verdadeiro policial civil que inspira a obra — e não teve o seu nome revelado.

O personagem principal da produção, interpretado por Sérgio Menezes, existe e ainda mora em Ceilândia. Entretanto, o nome dos envolvidos, assim como alguns locais, fatos e moradias também foram alterados. Mas, é claro, muitos outros acontecimentos e rotinas do ex-policial foram mantidas para dar veracidade à produção.

Na trama, Amado é um policial honesto em Ceilândia, Distrito Federal. Ele trabalha mais do que deveria, prende, julga e executa sentenças a todos os criminosos, independente de credo, cor ou sexo. Sempre em desfavor dos supostos bandidos, cortando caminho e se tornando mais ágil do que o burocrático processo oficial. Pela postura, o cabo Amado ganha a alcunha de policial truculento para uns, e, para muitos outros, se torna um herói brasileiro. Seu único objetivo é resolver conflitos injustos, sem delongas, e fazer a coisa certa.


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Em conversa com o Metrópoles, Edu Felistoque revelou ter insistido para que o filme fosse gravado em Ceilândia, e repetiu o mesmo modus operandi de Cracolândia, quando conviveu com moradores e até foi atacado por uma usuária de drogas. “Eu amo respirar o local. Costumava andar muito a pé, pegava o metrô e fui tirando muitas fotos. Conheci diversos lugares para filmar. Utilizamos alguns por onde o Amado passou. Eu respirei e decupei o ambiente. As pessoas são maravilhosas, era muito seguro, eu não tive um problema. Foi muito inspirador. Eu recebi muita ajuda dos anfitriões”, relembra o diretor.

Foi lá que ele conheceu cerca de 80% do elenco, formado por pessoas do Jovem de Expressão, iniciativa do Instituto CNP Brasil, em parceria com o RUAS, e que tem como objetivo promover a saúde de jovens entre 18 e 29 anos de idade. O programa também promove o empoderamento da juventude por meio de atividades culturais. “Precisava gravar uma festa e eles ajudaram muito”.

Durante uma pausa nas gravações de Cano Serrado (2018), dirigido por Erik de Castro, surgiu o primeiro passo para a construção de Amado: a transmissão da história. Isso porque foi Castro que conhecia o ex-policial e fez questão de narra o caso para Edu Felistoque.

“Conheço a pessoa que inspirou tudo, morador da Ceilândia, no Distrito Federal, onde também se passa o filme. Há mais de 20 anos, ouço suas vivências. Um dia sentei com ele e aprofundei o papo, buscando uma narrativa. Importante dizer que foi inspirado, e não baseado em uma história real. Há, assim, ainda mais liberdade para imaginação”, explica Erik de Castro.

Segundo Edu Felistoque, o longa não deseja responder perguntas, e, sim, questionar. “Quando o poder público não está presente, o crime toma conta. Eu sou contra o armamento e o uso indiscriminado de armas, mas a gente só vê crescer os crimes e os acidentes”. Durante o filme Cano Serrado, Felistoque pôde conviver e conhecer mais a personalidade de Amado: “Ele é muito calmo e deu uma suavidade. Ele é um artista e o ateliê (mostrado no filme) é real e ele tinha dois peixinhos. É um homem enorme, gigante e muito carinhoso”, avalia.

Pandemia

A gravação do filme também passou por diversos desafios durante a pandemia. As filmagens foram pausadas em duas oportunidades e os cuidados redobrados. “Ficamos mais criteriosos, o elenco foi reduzido. Tínhamos verba para gravar, mas não para testar todo mundo todos os dias”, conta Felistoque. Outro momento de comemoração foi na apresentação do filme. “A ideia era trazer a história para o público e não deixar somente no festival. Imagine o medo de entregar o primeiro corte… e se eles negassem? Entretanto, o Bruno Wainer, da Downtown, gostou muito de tudo o que eu apresentei e elogiou demais a produção. Eu fiquei muito feliz”, comemora.

Edu Felistoque se disse muito ansioso para lançar o filme, o que ele define como uma produção que busca trazer lazer, entretenimento e reflexão. “É como se fosse um dia de casamento. Eu tenho muito interesse em ver como que vai ser”.

Por fim, Felistoque lamenta a forma como a região do DF é retratada. “Me chama muito a atenção e vejo que a imagem que a imprensa passa é de muita violência, com Rio de Janeiro e São Paulo. As pessoas da Ceilândia ficam até com medo de falar que são de lá. Gravamos de madrugada, com equipamento muito caro e não aconteceu nada. O filme é uma homenagem para a cidade”.

Elenco local

Assim como as gravações, muitos personagens também foram vividos por pessoas que moram em Brasília como Gabriela Correa, que dá vida à Linda, uma prostituta e companheira de Amado, e Similião Aurélio, que interpreta o chefe do tráfico Black Zen, que participam ativamente do filme. A produção também conta com Japão, rapper que faz parte da trilha sonora do filme e também está presente em algumas cenas.

Nascida e criada no Guará, Gabriela se mostra muito animada com o filme, apesar de ter visto o resultado apenas na pré-estreia. “Foi uma personagem que me atraiu bastante e é um gatilho para o Amado. É uma personagem definitiva para a história”, comemora, e completa: “É uma história que contempla um aspecto da cidade que a gente não vê e ainda tem uma perspectiva interessante de abordagem”, explica.

Por sua vez, Similião ressalta a competência dos diretores. “Foi muito diferente de tudo o que eu já trabalhei. Não é normal as pessoas receberem antes e ele já pagou os atores antes das gravações. Isso já te coloca em um lugar diferente de engajamento e me senti realmente no filme”, comenta o ator, que é natural do Setor O.

“Se eu estou bem é porque o elenco todo está bem. O elenco geralmente cria, porque é um jogo muito íntimo. Foi muito bem feito esse caminho com a direção e elenco para a gente ter essa facilidade e essa relação”, afirma o artista.

Similião lamenta o momento vivido pela arte brasileira.  “Hoje, nós temos dois vetos presidenciais para a área da cultura. Todas as tentativas de sucesso de obra de arte, seja qual for ela, que consegue existir nos tempos de hoje, já é muito importante. É algo muito maior do que a gente. Fazer um filme com o contexto da Ceilândia, com a pandemia, com a vivência política, é um milagre”, opina. “Que os diretores pretos e pretas, trans, também consigam”.

Japão é natural da Ceilândia e agradece Edu Felistoque e Erik de Castro pelo filme. “Ter a Ceilândia retratada em um longa metragem já é algo espetacular, ainda mais quando o assunto é pertinente na comunidade. Amado será, sem dúvida alguma, um grande filme e renderá bastante debate sobre seu enredo”, finaliza o músico.

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