Uma pesquisa conduzida pelo Centro Universitário de Brasília (Ceub) enaltece a eficácia do uso terapêutico de Cannabidiol (CDB) para o tratamento pediátrico de epilepsia. Segundo o estudo, a substância extraída da Cannabis é eficaz para redução de crises em crianças, principalmente nos caso das epilepsias refratárias, resistentes aos fármacos tradicionais.
Entre 627 pacientes, 21% ficaram totalmente livres das crises epiléticas. Enquanto a outra parcela obteve diminuições significativas de 19% a 90% da frequências das crises Matheus Veloso/Metrópoles
Para as pesquisadoras, apesar dos resultados, a pesquisa do uso medicinal da Cannabis ainda enfrenta forte preconceito no Brasil Matheus Veloso/Metrópoles
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O estudo foi conduzido pelas biomédicas Ana Carolina Guimarães e Natasha Gandara, ambas de 23 anos. Seguindo a linha de pesquisa da revisão sistemática, a dupla revisou 647 artigos, com pacientes de todo o mundo, feitos nos últimos 25 anos. Do total, foram selecionadas 25 para fazer o levantamento completo dos resultados do tratamento.
Nos 25 estudos, foram observados 627 pacientes. Desses, 21% – ou seja, aproximadamente 131 crianças – ficaram totalmente livres das crises epiléticas. Enquanto a outra parcela obteve reduções significativas, de 19% a 90%, da frequência dos episódios de epilepsia.
O tratamento com Cannabidiol também apresentou redução dos efeitos adversos, geralmente associados aos fármacos tradicionais, com taxas de apenas 4% a 14% dos pacientes conforme cada estudo. Sendo mais brandos, variando entre sono, fadiga, perda de apetite, vômitos e convulsões pontuais. Os medicamentos convencionais podem apresentar efeitos colaterais mais frequentes e graves.
As pesquisadoras, inclusive, observaram padrões de tratamento, variando de duas a três aplicações diárias com doses entre um a 50 miligramas de CDB, conforme cada paciente. Os artigos contemplaram casos de crianças com idades a partir de 1 mês de vida.
Os experimentos analisaram os tratamentos de crianças com as síndromes: Lennox- Gastaut, West, Dravet, Doose, Ohtahara, Epilepsia focal e Multifocal, Encefalopatía epiléptica, epilepsia generalizada, epilepsia infantil intratável, espasmos infantis, Sturge-Weber e epilepsia infantil de ausência focal.
Em 60% dos casos houve o uso do óleo de cannabidiol purificado, enquanto em 40% havia composição com o Tetrahidrocanabinol (THC), que também é derivado da Cannabis. A composição não se mostrou interessante para pacientes com ansiedade, pois o THC afeta o campo visual e estimula o cérebro.
Demonização
“Essa questão do Cannabidiol é muito demonizada no Brasil. É muito triste ver a comunidade atolada pela política e a burocracia. A maioria dos estudos são de outros países. E o nosso foco não é recreativo. É o uso medicinal“, pontuou Natasha.
“Infelizmente, hoje no Brasil, a gente ainda não consegue avançar mais nos estudos sobre o CDB e os demais produtos da Cannabis. E a epilepsia é uma doença que afeta o sistema nervoso. No caso das crianças, prejudica diretamente o desenvolvimento”, afirmou Ana Carolina.
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A Cannabis, também conhecida como maconha, é uma planta de origem asiática repleta de polêmicas. Socialmente marginalizada, sob a luz da ciência, no entanto, apresenta potencial medicinal para tratar diversas patologias iStock
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Segundo especialistas, a cannabis tem substâncias, como a canabinoides, capazes de agir e desencadear reações em diversas áreas do corpo, como o cérebro
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A cannabis apresenta três espécies: ruderalis, indica e sativa, sendo as duas últimas as mais populares. No caso da sativa, pode-se ainda destacar o canabidiol, que tem efeito relaxante e, por isso, é utilizado com fins terapêuticos janiecbros/ Getty Images
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Além do canabidiol, na cannabis satira é possível encontrar tetrahidrocanabidiol, substância com capacidade de gerar sensações de prazer, alívio, euforia, entre outros wera Rodsawang/ Getty Images
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Na indústria farmacêutica, as propriedades da cannabis podem funcionar como anticonvulsivo, analgésico e sedativo no tratamento de doenças, tais como: epilepsia, esquizofrenia, esclerose múltipla, Parkison e dores intensas janiecbros/ Getty Images
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Por esses motivos, cada vez mais países têm regulamentado o uso da substância para tratamento de enfermidades, apesar de muitos ainda proibirem a utilização da cannabis para fins recreativos Francesco Carta fotografo/ Getty Images
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Canadá, Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Dinamarca, Itália, Espanha, Bélgica, Portugal, entre outros países europeus, permitem, com regras próprias, a utilização da maconha para uso medicinal LauriPatterson/ Getty Images
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Na América Latina, países como Argentina, Uruguai, Colômbia, Jamaica, Equador e México, por exemplo, também liberam a cannabis para fins medicinais e terapêuticos David Trood/ Getty Images
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Cada Estado define as especificidades em torno da utilização da maconha medicinal, mas, no geral, as autorizações funcionam basicamente de duas maneiras: permissão apenas para uso terapêutico e medicinal ou liberação também para uso recreativo Bloomberg Creative/ Getty Images
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No Brasil, a Anvisa permite a importação e uso da substância em alguns remédios desde 2014. Até então, as plantas ainda precisavam ser trazidas do exterior. No entanto, em 2021, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei 399/2015 que autorizou o cultivo de Cannabis sativa no Brasil para fins medicinais, veterinários, científicos e industriais Esther Kelleter / EyeEm/ Getty Images
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Por aqui, para realizar a compra de medicamentos ou produto derivado de cannabis (ambos com fins medicinais) é necessário ter prescrição médica. Além disso, é preciso ter condições para adquirir os produtos, uma vez que o valor a ser desembolsado pode alcançar quatro dígitos Revolu7ion93/ Getty Images
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Para as pesquisadoras, a superação do preconceito pode abrir portas para tratamentos que vão impactar não apenas na vida das crianças, mas também na rotina de famílias. O artigo produzido pelas jovens recebeu o título “Eficácia do Uso de Canabidiol em Pacientes Pediátricos com Epilepsia Refratária ao Tratamento: Uma Revisão Sistemática”.
As pesquisadoras buscam apoio para avançar com a pesquisa e relatam que já foram alvos de golpistas. “Nos procuraram para falar da pesquisa, mas quando vimos o que era na verdade, descobrimos que eram tentativas de golpes”, desabafou Ana Carolina.
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