O surrealismo de Elsa Schiaparelli (1890-1973) pode ser considerado um patrimônio da moda. A estilista tinha forte ligação com a arte, e a concretizava por meio de parcerias com personalidades do meio. Ela se inspirava constantemente em obras e laços que criou com a vanguarda parisiense das décadas de 1920 e 1930.
Para sintetizar a icônica trajetória da italiana, o Museu de Artes Decorativas, em Paris, na França, inaugurou a exposição inédita Shocking: Os Mundos Surrealistas de Elsa Schiaparelli. Em cartaz até janeiro de 2023, a mostra reúne trajes e acessórios criados pela designer, além de pinturas, esculturas, joias, frascos de perfumes, cartazes e fotografias. Vem conhecer o legado!
Quem foi Elsa Schiaparelli
Elsa Schiaparelli nasceu em 10 de setembro de 1890, na capital da Itália, Roma. Ela cresceu em uma família de intelectuais e aristocratas que viviam no Palazzo Corsini.
Chegou a morar nos Estados Unidos, mas fundou a própria marca em Paris, na França, no ano de 1927. A primeira coleção ficou marcada por suéteres adornados com trompe-l’oeil — estampa que causa ilusão de ótica — de laços e gravatas.
Desde o início, a italiana apostou na arte e teve forte influência do surrealismo. Elsa Schiaparelli investia em novos materiais e modelagens ousadas. Entre as criações, estavam formas abstratas, esqueletos e a icônica estampa de jornal. Ela também criou a cor rosa-choque, que segue no DNA da grife.
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
Em julho de 1940, Elsa Schiaparelli deixou a França em meio à Segunda Guerra Mundial. Mudou-se para os Estados Unidos, onde já havia morado na década de 1910. Com a ausência, deixou a gestão do próprio ateliê, na Place Vendôme, sob responsabilidade de Irène Dana.
Voltou a Paris depois de cinco anos e revelou uma nova coleção. Já em 1947, a italiana convidou Hubert de Givenchy, aos 19 anos, para ser seu primeiro assistente. O prodígio foi nomeado diretor artístico da Schiaparelli. Em 1954, a designer escreveu uma autobiografia, intitulada Shocking Life (Vida Chocante).
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

As parcerias artísticas
Elsa Schiaparelli tinha uma intensa relação com a arte e com artistas. Uma das colaborações de longa data e amizades mais marcantes foi com o pintor espanhol Salvador Dalí. Em 1936, eles trabalharam juntos pela primeira vez na concepção de peças de moda.
Entre as peças mais famosas desenvolvidas, está o Chapeau Chaussure, um chapéu em formato de sapato. Outra criação memorável é o Vestido Lagosta, com print do crustáceo que era habitual nos trabalhos de Dalí.
“Poder trabalhar com artistas como Bébé Bérard, Jean Cocteau, Salvador Dalí, Vertès e Van Dongen, com fotógrafos como Honingen-Huene, Horst, Cecil Beaton e Man Ray foi emocionante. Sentimo-nos ajudados, encorajados, muito além da realidade material e monótona da confecção de um vestido para vender”
Livro Shocking Life (Vida Chocante), Elsa Schiaparelli,1954
Uma das apostas de Elsa Schiaparelli era na delicadeza dos bordados. Para concretizar o handmade, desde 1936, ela atuava em parceria com Albert Lesage, chefe do famoso estúdio francês de bordados.

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A exposição
Estruturada em dois andares, a exposição Shocking: Os Mundos Surrealistas de Elsa Schiaparelli é organizada de forma temática e cronológica, a partir de momentos-chave da carreira da estilista. A cenografia, descrita como poética e imersiva, é assinada por Nathalie Crinière.
“Em apenas vinte e cinco anos, Elsa Schiaparelli transformou a moda em um elemento natural da vanguarda; um playground em que ela recriou a interação entre mulheres e feminilidade, fascínio e espírito, mantendo-se notavelmente relevante hoje. Ela encarnava uma visão de uma Paris brilhante e vibrante, curiosa por tudo, apreciando cada novidade que surgia em seu caminho”, diz o catálogo da mostra.
As peças expostas incluem coleções apresentadas ano a ano, vinculadas com as obras de amigos e contemporâneos que inspiraram seus designs de moda. “A sala introdutória, um espaço amplo e imersivo, é dedicada aos desenhos da couturier que chegam às centenas, transmitindo a extensão do seu trabalho. O despertar do artista na moda e na modernidade é explorado ao lado do papel definidor que o designer Paul Poiret desempenhou como mentor na vida de Schiaparelli a partir de 1922″, explicou o Museu de Artes Decorativas.
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A exposição reúne 577 obras, das quais 212 são modelagens e acessórios da própria Schiaparelli, exibidas ao lado de pinturas icônicas, esculturas, joias, perfumes, cerâmicas, pôsteres e fotografias de outros artistas. Na lista, estão Man Ray, Salvador Dalí, Jean Cocteau, Meret Oppenheim e Elsa Triolet.
A iniciativa também destaca designers que prestaram homenagem à italiana por meio das próprias criações, como Yves Saint Laurent, Azzedine Alaïa, John Galliano e Christian Lacroix. É claro que o atual diretor artístico da marca, o norte-americano Daniel Roseberry, não ficou de fora.
A parte final da mostra é dedicada à “evolução da herança da maison” sob o comando de Roseberry. “As interpretações dos códigos emblemáticos – o cadeado, a fita métrica, o Shocking pink, a joalheria surreal – são propostas como designs contemporâneos arrojados e desejáveis que convidam as mulheres a revelarem a sua personalidade ou a tornarem-se a pessoa que desejam ser”, apontou a Schiaparelli em nota.
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No cargo desde 2019, Daniel Roseberry “interpreta com ousadia a herança de Elsa Schiaparelli por meio de um design próprio”, como aponta a grife. Ele mantém características originais, sem perder a autenticidade e a pitada moderna.
“Tendo vestido Lady Gaga em Schiaparelli personalizado para a cerimônia de posse do presidente Joe Biden; Beyoncé para a 63ª cerimônia do Grammy; e Bella Hadid para o Festival de Cinema de Cannes, Roseberry estabeleceu uma nova geração de musas que não apenas moldam a cultura, mas também a conversa em torno dela”, completou a label.
Na última Semana de Alta-Costura, em meio à temporada de outono/inverno 2022/23, como de praxe, a Schiaparelli fez a abertura. Com um toque mais comercial, o designer não deixou de fora clássicos do DNA da etiqueta: o volume, o dourado, os drapeados e, claro, o surrealismo.
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A exibição em homenagem à Elsa Schiaparelli foi inaugurada em 6 de julho de 2022 e ficará aberta até 22 de janeiro de 2023, nas galerias de moda Christine & Stephen A. Schwarzman, do Museu de Artes Decorativas, um dos mais conceituados de Paris. A organização sem fins lucrativos está localizada na Rue de Rivoli, número 107.
Colaborou Rebeca Ligabue
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