Alimentos “fakes” custam até 62% menos e confundem consumidor

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A escalada de preço dos alimentos fez o consumidor buscar alternativas para manter a quantidade de comida na mesa. Com isso, subprodutos estão cada vez mais presentes nas gôndolas dos supermercados. São os casos do soro do leite, do requeijão com amido de milho e de uma série de alimentos que deixam de ter em sua composição o produto em si, para conter o “produto a base de” ou “produto sabor de”.

Nesta semana, o Metrópoles esteve em cinco supermercados na capital federal para comparar os preços e entender se é possível economizar sem deixar de ter uma alimentação nutritiva.

A reportagem percorreu estabelecimentos em Taguatinga, Guará e Cruzeiro, regiões administrativas do Distrito Federal. Em todos, os produtos apelidados de “fakes” estavam presentes. A variação de preço chega a 68%. A lista considerou sete alimentos com a mesma quantidade e de marcas conhecidas pelo consumidor.


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Enquanto o leite condensado integral chega a custar R$ 9,99, a mistura láctea condensada com soro de leite e amido é bem mais barata: R$ 5,99. Ou seja, o produto similar é 40%  mais barato. 

O chocolate em pó apresenta a variação mais brusca de preço. Duzentos gramas de chocolate em pó solúvel custa R$ 19,49. Já o alimento achocolatado em pó, na mesma quantidade, sai por R$ 4,99 — 74% menos. 

Porém, nem sempre substituir é tão vantajoso. O leite em pó também já conta com variações. Enquanto o produto original é vendido por R$ 19,99, a variação, chamada de composto lácteo com fibras, custa R$ 16,99. A economia chega a 15%. A mesma tendência é observada entre o iogurte e a bebida láctea fermentada. 

Veja a diferença entre os produtos comparados pelo Metrópoles:

  • Requeijão cremoso com queijo (R$ 9,99) x Mistura de requeijão e amido (R$ 4,99): 50% mais barato
  • Bandeja de iogurte integral com fruta (R$ 5,89) x Bebida láctea fermentada (R$ 4,99): 15% mais barato
  • Queijo minas padrão (R$ 94,90/kg) x Queijo fresco com soro de leite (R$ 35,99/kg): 62% mais barato
  • Mel de abelha (R$ 27,99) x A alimento a base de glucose de milho (R$ 18,99): 32% mais barato
  • Leite condensado integral (R$ 9,99) x Mistura láctea condensada com soro de leite e amido (R$ 5,99): 40%  mais barato
  • Leite em pó integral (R$ 19,99) x Composto lácteo com fibras (R$ 16,99): 15% mais barato
  • Iogurte integral (R$ 5,89) x Bebida láctea fermentada (R$ 4,99): 15,2% mais barato

O consumidor tem que ficar atento na hora da escolha. Pagar mais barato pode significar uma economia, mas na prática, está levando produtos similares em vez dos originais. 

Os fabricantes são obrigados a indicar a composição nos rótulos e os processos de manufatura alimentícia. As leis brasileiras são claras em relação ao que é cada alimento. O chocolate, por exemplo, para ser classificado como tal, o produto precisa ter pelo menos 25% de cacau.

Valor nutricional

Thaiz Brito, nutricionista formada pela Universidade Católica de Brasília e colunista do Metrópoles, alerta que o consumidor deve estar atento aos rótulos para saber com exatidão o que está levando para a mesa. “Esteja atento aos ingredientes na tabela nutricional”, resume.

Ela cita como exemplo a substituição de leite por soro de leite em derivados do produto que comumente são mais baratos.

“O soro do leite é obtido a partir da produção do leite, como líquido residual da transformação do leite em queijo. Ele possui nutrientes semelhantes ao leite. É a parte líquida que sobra quando acontece a coagulação para fabricar queijo. Porém, ele não tem a parte gordurosa do leite. Rico em cálcio, proteína, fósforo, minerais e vitaminas do complexo B”, conclui.

Carolina Rosa de Siqueira, nutricionista especializada em saúde da mulher e nutrição estética, explica que os efeitos dessa troca na dieta são graves. “O impacto disso na alimentação é o consumo de ingredientes que não têm o mesmo valor nutricional que o proposto. Por exemplo, em vez de ter alto teor de proteínas, é pobre em proteína, alto em gordura.”

Ela ressalta que até mesmo o processamento pode ser diferente nesses casos. “Isso ocasiona um impacto na alimentação e consequentemente na saúde, pois a pessoa está consumindo um produto sendo que, na verdade, falando no sentido nutricional, não é isso.”

A nutricionista esportiva Isabela Zago ressalta que é fundamental que a indústria não tente esconder a real composição do produto.

“A pessoa tem que saber o que está consumindo. Então, se ela comprar uma bebida láctea, ela não vai estar comprando um produto da mesma qualidade que um iogurte, que é feito realmente do leite integral”, explica. “Eles reduzem os nutrientes e a concentração do produto para ele ter uma maior rentabilidade, uma maior duração de prateleira, colocando mais produto químico.”

Inflação alta

Luiz Alberto Machado, economista a Faculdade de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e conselheiro do Conselho Federal de Economia (Cofecon), explica que a maior presença desses alimentos nas prateleiras são um reflexo do aumento da inflação

Nos últimos meses, observa Luiz Alberto, o custo de produção aumentou por causa de diversos fatores, como a guerra na Ucrânia, que deixou o mercado instável. Leite, legumes, frutas, carnes e outros alimentos encareceram. 

“No Brasil, temos uma combinação de fatores, como perda da qualidade do emprego, trabalho, queda na renda. Neste cenário, existe uma situação de perda de qualidade de vida. As pessoas estão recorrendo a hábitos que não tinham em tempos normais. Vimos famílias comprando pele de frango, por exemplo. Isso mostra que a segurança alimentar está mais distante”, analisa.

O especialista ressalta que as famílias das classes C e D são as que mais recorrem a esse tipo de produto. “Sempre nessas ocasiões o mais prejudicado é o de baixa renda”, conclui.

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