Na batalha por apoio político para vencer a eleição mais acirrada desde a redemocratização, o presidente Jair Bolsonaro (PL) largou o segundo turno na frente ao costurar alianças com os governadores dos três maiores estados do país, enquanto o ex-mandatário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mirou na adesão dos outros dois principais candidatos derrotados no primeiro turno.
Bolsonaro celebrou a rápida declaração de apoio dos governadores Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Rodrigo Garcia (PSDB), de São Paulo. Os dois primeiros já eram aguardados por causa da proximidade com o presidente, e podem ajudar o mandatário a ganhar pelo menos 1 milhão de votos em relação ao primeiro turno — essa é a soma de quantos votos os governadores tiveram a mais que o titular do Planalto.
Já o “apoio incondicional” anunciado por Rodrigo Garcia na terça-feira (4/10) não era tão óbvio no meio político, e tem como objetivo ajudar Bolsonaro a ampliar ainda mais a diferença obtida sobre Lula em São Paulo no primeiro turno. Além de articular de olho nos 4,2 milhões de eleitores que votaram em Garcia e podem não ter escolhido Bolsonaro, a campanha do presidente agiu rapidamente para evitar que o assédio do PT assegurasse o apoio dos tucanos a Lula.
Segundo aliados, Garcia estava inclinado a se posicionar a favor do chefe do Executivo nacional, mas iria aguardar orientação da cúpula do PSDB. Na terça (4/10), o governador recebeu o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, no Palácio dos Bandeirantes e foi pressionado a declarar apoio ao presidente no mesmo dia, durante visita de Bolsonaro ao estado, como de fato ocorreu. Só depois da manifestação de Garcia que a sigla tucana decidiu ficar neutra e liberar seus filiados.
Com o apoio dos três governadores, Bolsonaro espera melhorar seu desempenho no Sudeste, região mais populosa do país, e diminuir a vantagem aberta por Lula no primeiro turno, que foi de 6 milhões de votos. O petista obteve 48,4% dos votos válidos, contra 43,2% do atual presidente. Bolsonaro já conta com o respaldo do governador reeleito do Paraná, Ratinho Junior (PSD), sexto maior colégio eleitoral, e fez acenos a ACM Neto (União), que disputa contra o PT o governo da Bahia, quarto estado com mais eleitores.
Enquanto Bolsonaro avançou rapidamente sobre os governadores, Lula mirou o apoio dos outros dois principais candidatos derrotados no primeiro turno: Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT). Juntos, eles somaram 8,5 milhões de votos, muito mais do que o montante que Lula precisaria para derrotar Bolsonaro – 1,9 milhão de votos –, considerando o resultado do primeiro turno.
Na terça-feira, Ciro acenou a Lula, de forma tímida e crítica, sem sequer mencionar o nome do petista. Mesmo assim, o gesto do pedetista foi comemorado pelo PT, que atacou o presidenciável por não ter declarado voto em Fernando Haddad nas eleições de 2018. Agora, o ex-mandatário espera a adesão da senadora Simone Tebet, que já sinalizou apoio ao petista, mas também deve fazê-lo de forma mais comedida. Ambos já conversaram por telefone.
A exemplo do que foi feito no primeiro turno, com a estratégia de alavancar o voto útil em Lula, o PT intensificou as articulações para atrair o apoio de outros partidos e lideranças políticas. Já obteve, além do PDT de Ciro Gomes, respaldo do Cidadania, que fez federação com o PSDB, e busca fechar adesões com o maior número de políticos dissidentes de PSD e MDB – siglas que têm se posicionado pela neutralidade.
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Próximos passos
Nesta quarta-feira (5/10), Lula reúne governadores e senadores de oito partidos que foram eleitos no primeiro turno ou que já exercem mandato, para mostrar a força da coligação petista que a sigla tem classificado como “frente ampla e democrática” contra Bolsonaro. Por causa do peso eleitoral, o foco da campanha também será o Sudeste, região em que há apenas um petista no segundo turno – no caso, o ex-prefeito de São Paulo disputa contra o ex-ministro bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Lula também espera ampliar a diferença sobre Bolsonaro no Nordeste – região na qual venceu em todos os estados –, principalmente com as campanhas de rua nas unidades da Federação em que o PT ou partidos aliados ainda disputam o segundo turno, como Bahia, Pernambuco, Paraíba e Sergipe.
Bolsonaro deve recorrer a governadores aliados. O presidente recebe, também nesta quarta, o governador reeleito do DF, Ibaneis Rocha (MDB), e o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL), que disputa o segundo turno no Rio Grande do Sul contra Eduardo Leite (PSDB). O chefe do Executivo federal também deve reunir-se com os senadores eleitos pelo PL – sigla que terá a maior bancada da Casa Alta a partir de 2023.
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