Vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB) iniciará seu mandato já empoderado, acumulando a função com o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Assim que saiu o resultado da eleição, o nome de Alckmin foi cogitado para assumir alguma pasta na área econômica ou o Ministério da Defesa. Dias após ser eleito, o próprio Lula descartou essa possibilidade, mas, diante da dificuldade em encontrar um nome para assumir o MDIC, o petista mudou de ideia e indicou seu vice para o posto.
Alckmin será o terceiro vice-presidente a assumir um ministério, o segundo em um governo Lula. Na primeira vez, o então vice de Lula, José Alencar, foi ministro da Defesa de 2004 a 2006. Em 2015, quando o governo Dilma Rousseff já se via ameaçado pelo impeachment, o vice Michel Temer (MDB) comandou a Secretaria de Relações Institucionais, responsável pela articulação política do governo, por um breve período (entre abril e agosto).
Em ambos os casos que antecederam Alckmin, porém, os vices só assumiram funções após já estarem no exercício do cargo. No caso de Temer, ele foi convocado diante do agravamento da crise entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. Já no caso de Alencar, o expediente adotado por Lula foi semelhante ao atual, visto que também naquele momento ele recorreu ao vice por questões de confiança e para atribuir posição de maior destaque ao aliado.
Ponte com empresariado e posicionamento internacional
Com o acúmulo de funções, Alckmin terá papel importante com setores do empresariado e do agronegócio, devendo também ser um ponto de apoio na articulação com militares, em diálogo com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Alckmin assumiu pessoalmente a dianteira da interlocução da equipe de transição com os militares, tendo conversado com alguns de alta patente, para distensionar a relação.
Novo ocupante do Palácio do Jaburu, Alckmin deixou o PSDB em dezembro de 2021 e se aproximou paulatinamente de Lula. Ele atua desde a campanha no sentido de reduzir a resistência ao petista entre os setores mais alinhados ao mercado financeiro.
O ex-governador de São Paulo deverá atuar em interlocução com o setor produtivo. Segundo o relatório final da transição, o objetivo do MDIC é “reindustrializar Brasil e promover uma inserção internacional mais competitiva”. A pasta, que é recriada a partir de um desmembramento do Ministério da Economia, deve auxiliar no processo de reindustrialização do país e na transição para uma economia verde e descarbonizada.
Ao longo dos quatro anos do governo Jair Bolsonaro (PL), a inserção externa brasileira foi prejudicada por questões ideológicas e isolamento do presidente no cenário internacional. Agora, Alckmin deverá fortalecer a presença da economia brasileira internacionalmente e imprimir uma marca de sustentabilidade, em interface com a pasta do Meio Ambiente.
Fábio Vieira/Metrópoles
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Nos dois meses em que o Gabinete de Transição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) funcionou, Alckmin assumiu a coordenação da equipe e mostrou que deve atuar em mais flancos do que o inicilamente previsto. Ele atuou em linha com os grupos temáticos e, em diversas ocasiões, foi porta-voz de decisões e propostas do governo eleito.
Católico ferrenho, durante a campanha, Alckmin também acenou a segmentos religiosos, como evangélicos e os próprios católicos. Desde criança foi criado pelos preceitos do catolicismo e, frequentemente, é relacionado à Opus Dei, uma prelazia – ou diocese – mais conservadora da Igreja Católica Apostólica Romana, da qual não faz parte.
Comparação com antecessores
Alckmin estará longe de ser um “vice decorativo”, a exemplo do que foi Michel Temer no primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT). Com uma ampla bagagem política — assim como Alckmin — o emedebista foi, por vezes, escanteado pela titular, além dos dois não manterem um relacionamento.
O tucano também tampouco será “falastrão” como é o atual vice-presidente da República, Hamilton Mourão (Republicanos). Mesmo que o general tenha sido uma escolha de Jair Bolsonaro de “última hora”, apostava-se em uma boa relação, uma vez que ambos são militares. A verborragia do vice acabou o afastando do presidente.
A comparação mais palatável de Alckmin seria com o já falecido ex-vice-presidente José Alencar, que foi número dois de Lula nos seus dois primeiros mandatos, de 2003 a 2010. Apesar da diferença de idade, o relacionamento entre os dois era de cumplicidade.
A união, inclusive, assim como a que o petista tem com Alckmin, serviu de estratégia para que Lula pegasse carona no engajamento de figuras que representavam os interesses de outros segmentos políticos, como os dos empresários da época.
“Não existe um vice como o meu. Nós tínhamos um relação de irmãos, de pai e filho. É fácil elogiar quem morre porque todo mundo que morre vira uma pessoa boa. Mas ele é especial”, disse Lula após a morte do ex-vice-presidente ao relembrar da relação entre os dois.
Trajetória política
Natural de Pindamonhangaba (SP), Alckmin começou sua trajetória política como prefeito (1977-1982) e vereador de sua cidade natal (1973-1977). Em seguida, foi deputado estadual (1983-1987) e deputado federal (1987-1995).
Governou São Paulo em quatro ocasiões. Na primeira (entre 2001 e 2002), foi alçado de vice a governador após a morte do titular Mário Covas. Depois, foi eleito governador para o mandato de 2003 a 2006 e, posteriormente, comandou o estado em outros dois períodos: de 2011 a 2015 e de 2015 a 2018.
Alckmin e Lula se enfrentaram no segundo turno da eleição presidencial de 2006, quando Lula foi reeleito. Ele também foi, entre 2017 e 2019, presidente nacional do PSDB, partido pelo qual esteve filiado por 33 anos.
O ex-tucano também disputou a eleição presidencial de 2018, ficando em quarto lugar, com 4,7% dos votos válidos.
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