Cetamina: como é o tratamento contra depressão com alucinógeno

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Numa sala com pouca iluminação, sentado em uma poltrona confortável e ouvindo música clássica, um paciente com depressão grave recebe infusões endovenosas de cetamina. A sensação, de acordo com quem já passou pela experiência, é a de conversar com o próprio cérebro. 

A aposentada Sônia Lisboa, de 73 anos, se encontrava com uma depressão tão profunda que cogitou tirar a própria vida. Há mais de 20 anos fazendo uso de antidepressivos e terapia, nada mais surtia efeito e, em janeiro, ela se viu completamente sem esperanças.  

“Já havia experimentado vários antidepressivos. Nunca fiquei às mil maravilhas, mas também nunca tinha estado tão mal. Foi quando meu psiquiatra recomendou o tratamento com infusões de cetamina”, conta. 

 O que é

A cetamina, também conhecida como ketamina, é um medicamento da classe dos anestésicos. Também é usada “off label” como alucinógeno por pessoas em festas e baladas. A mesma droga, quando administrada de maneira controlada e em dosagem baixa, está sendo considerada como um dos principais avanços contra a depressão dos últimos anos. 

“Descobriu-se que, quando o psicodélico é administrado em doses baixas, ele surte efeitos potentes em pacientes com depressão. Geralmente indicamos para quem não responde bem a dois antidepressivos convencionais ou pessoas com tendência suicida”, afirma o psiquiatra Rodrigo Delfino, da Clínica Beneva, em São Paulo, uma das primeiras a oferecer o tratamento no Brasil. 

Nos Estados Unidos, estima-se que, atualmente, já existam mais de 100 clínicas que aplicam infusões de cetamina. Os estabelecimentos surgiram na esteira de estudos científicos que atestaram a eficácia da droga contra a depressão refratária, que não melhora após o tratamento com antidepressivos convencionais.

A terapia com infusões de cetamina chegou ao Brasil recentemente – a Anvisa aprovou o uso do remédio contra a depressão no fim de 2020. Os centros especializados estão em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. 

Geralmente, são indicadas de 6 a 8 sessões por paciente, mas tudo depende do quadro individual. Cada infusão custa em torno de R$ 800 a R$ 1 mil reais. 

Como é a sessão

As infusões de cetamina duram cerca de 40 minutos. Durante esse tempo, o paciente permanece sozinho em um ambiente relaxante, mas é precisa ser monitorado continuamente por uma equipe de saúde. 

Durante a aplicação, ele vive uma experiência dissociativa: costuma ter percepções sobre questões pessoais que depois vão alimentar o trabalho da psicoterapia. O recomendado é que o paciente faça uma sessão de terapia em até 48 horas depois da infusão. 

Vontade de viver

Sônia conta que, quando iniciou o tratamento, tinha perdido o gosto pela vida, não se alimentava e nem tomava banho. Na tentativa de ajudar a mãe a qualquer custo, o filho dela a convenceu a tentar o tratamento com cetamina. 

Imagem colorida de Sônia, que tem depressão - Metrópoles

Depois de analisar o quadro da paciente, o psiquiatra recomendou 6 sessões de infusões. “Durante algumas sessões, tive a sensação de que estava conversando com meu próprio cérebro. Outras vezes, era como se cores dançassem acompanhando a música de fundo. As infusões me fizeram querer viver novamente”, conta a aposentada.

Livre da depressão

O empresário Sérgio Bianchi, de 64 anos, também sofria de depressão há mais de 20 anos quando iniciou o tratamento. Ele recebeu indicação para fazer uso de infusões de cetamina e diz que, após a 12ª sessão, se sentiu livre dos sintomas da condição. 

Imagem colorida de paciente que fez tratamento com cetamina para depressão - Metrópoles

“Passei a melhorar depois da 3ª sessão. O único sentimento que não consegui me livrar foi o da ansiedade. Mas hoje, me sinto livre da depressão e isso é um alívio enorme”, relata. 

Efeitos colaterais

A cetamina é considerada uma droga relativamente segura, mas ainda há poucos estudos específicos sobre os efeitos colaterais dela no tratamento contra a depressão. Além dos sentimentos de dissociação, o uso pode causar aumento da pressão arterial, dificuldade respiratória, vômitos e cistite.

Outra preocupação diz respeito à maneira como a droga é aplicada. O tratamento exige supervisão médica, monitoramento dos sinais vitais e possibilidade de assistência para atendimentos de emergência, como em caso de necessidade para reanimação cardiopulmonar.

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