Síndica deixa de pagar contas e moradores têm água cortada no DF

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Moradores do condomínio Total Ville 8, em Planaltina, registraram um boletim de ocorrência contra uma ex-síndica acusada por eles de fraudar documentos, realizar empréstimos sem conhecimento dos moradores e desviar o dinheiro do pagamento de serviços como água, segurança e dedetização.

A fraude foi descoberta pelos condôminos no final de fevereiro deste ano, quando a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) cortou o fornecimento de água do local por inadimplência no pagamento da contas.

O corte da água por falta de pagamento pegou todos os moradores de surpresa, uma vez que os pagamentos das taxas do condomínio estavam sendo repassados para a administração do condomínio todos os meses.

Mesmo que a falta de água no local tivesse ocorrido outras vezes, para os residentes, a ex-síndica Viviele Palmeira dos Santos, 35 anos, dizia que se tratava de um problema na bomba de irrigação. Porém, quando descobriram que o corte do serviço era, na verdade, por atraso, a conduta da funcionária começou a ser questionada pelos moradores.

Segundo eles, o valor da dívida com a Caesb era de R$ 167 mil em contas de água não pagas. Para quitar o valor, os moradores terão que arcar com o valor de R$ 186 mil – pagos em 24 parcelas de R$ 7.677.

Após descobrirem a fraude, os condôminos decidiram afastar Viviele do cargo e fazer novas eleições. O professor Eduardo Alves de Araújo, 42 anos, foi eleito no lugar dela como novo síndico.

Em posse das contas do Total Ville, ele descobriu mais desvios e fraudes por parte da mulher que apontavam a falta de prestação de contas verídicas por parte dela desde agosto de 2022.

“A contabilidade do condomínio era feita por ela mesma se passando por uma empresa terceirizada que havíamos contratado, por meio de um e-mail. Ela lançava o balanço no sistema da empresa sem os devidos comprovantes de pagamentos ou extratos. No sistema, havia as informações de prestações de contas, mas sem comprovantes”, conta Eduardo.

Segundo o atual síndico, documentos aos quais ele teve acesso também mostram transferências mensais não justificadas, em torno de R$ 14 mil, da conta do condomínio para a conta pessoal de Viviele, entre janeiro e março deste ano.

Porém, o que mais chocou os moradores foram os dois empréstimos que a acusada realizou no nome do condomínio nos valores de R$ 50 mil e R$ 27 mil com a justificativa de que seriam para aumentar o muro do local e instalar uma cancela na entrada.

“Os empréstimos foram feitos em uma cooperativa por meio de uma suposta ata de assembleia com os moradores do condomínio, mas nenhum condômino tinha conhecimento, pois essa reunião nunca aconteceu. Ela conseguiu autenticar esse documento falso em cartório e ter acesso ao dinheiro com assinatura de pessoas que nem sabemos quem são”, detalha o síndico.

Além da fraude da ata e a dívida com a Caesb, a inadimplência das contas também abrangia os serviços de energia, medição da água, dedetização dos apartamentos e a empresa responsável pelas câmeras de segurança do condomínio. “Foram realizados 11 protestos cartoriais por conta da falta de pagamentos”, revela Eduardo.

Moradores do condomínio

Viviele, além de síndica, também morava em um dos 384 apartamentos do Total Ville. Porém, desde que foi afastada do cargo, ela não foi mais vista no local e não atende ninguém pelo telefone. De acordo com Eduardo, a mulher trabalha ainda na administração de outros dois condomínios, em Águas Claras e na Cidade Ocidental.

“Uma advogada dela entrou em contato comigo e disse que ela só iria se manifestar após a realização de uma auditoria fiscal no condomínio. Porém, mesmo que ela negue, todos os documentos que colhemos provam as fraudes cometidas na sua gestão”, alega.

Agora, os moradores terão que arcar com os prejuízos das dívidas, mas querem que a Justiça seja feita. “Tivemos que aumentar o valor do condomínio e acrescentar uma taxa extra para conseguir amenizar as dívidas, contratar advogado e realizar uma auditoria fiscal”, diz Eduardo.

Para a vigilante patrimonial Lucicleide Lima, 43 anos, moradora do condomínio, a prestação de contas por parte da ex-síndica sempre foi motivo de desconfiança para os moradores.

“Comprei esse apartamento com o sonho de ter a primeira casa no meu nome. Porém, no último mês, tornou-se um pesadelo. Cada dia que passa, a gente fica mais desmotivado com as dívidas. Tem gente que ainda nem colocou piso na residência. Agora, temos que tirar dinheiro do bolso pra tampar malfeitoria dela”, alega Lucicleide.

O auxiliar de lavanderia Jonathan dos Santos, 35 anos, também vê com descontentamento as fraudes da ex-síndica. “É um caso muito decepcionante. No começo, ela parecia bem organizada com a prestação, mas confiamos em uma pessoa que teve a audácia de prejudicar os moradores, uma estelionatária”, alega.

O caso foi registrado na 16ª DP (Planaltina), dia 28 de março. Por meio de nota, a Polícia Civil do DF (PCDF) informou que investiga os fatos.

Além do boletim de ocorrência, Eduardo também entrou com uma ação contra Viviele na área cível, para que ela preste contas ao condomínio, e na área criminal por apropriação indébita e furto mediante fraude.

O que diz a ex-síndica

Procurada pelo Metrópoles, Viviele Palmeira disse que registrou uma ocorrência contra a empresa de contabilidade que prestava serviço para o Total Ville pela acusação de que ela teria fraudado o e-mail deles. Veja mensagem enviada à reportagem por ela por meio de um aplicativo de mensagens:

Gostaria de informar que não estou foragida, fiz tratativas com o atual Síndico, via e-mail para ficar registrado. Na sexta-feira dia 24/03/2023 houve o contato da advogada junto ao atual Síndico informando que eu estou a disposição para sanar qualquer dúvida. A Gestão atual pede para que eu me apresente no Condomínio, porém, no dia 26/03/2023 conforme ocorrência registrada (Ocorrência Nº: 48.103/2023-0 Protocolo Nº: 642955/202) fui ameaçada por um dos moradores que faz parte do Conselho Fiscal da atual gestão“.

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