Sem Silvio e Faustão, TV aberta vê fuga de audiência e fim da era dos apresentadores

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A televisão brasileira enfrentou, ao longo dos seus 70 anos, transformações e mudanças advindas da evolução natural. Mas, nessa trajetória, algo sempre foi comum: a marcante presença de apresentadores tradicionais. Durante seis décadas, por exemplo, Silvio Santos está no ar – mesmo que nos últimos anos, o Homem do Baú esteja afastado por questões de saúde. Nas últimas semanas, com a saída de Fausto Silva da Band, o isolamento do dono do SBT e a internação de Raul Gil, uma pergunta começa a ecoar: a era dos grandes comunicadores estaria acabando?

O Programa Silvio Santos, por exemplo, completou 60 anos no domingo (4/6) e o SBT preparou um especial para o veterano. Acontece que o momento de homenagem não contou com o homenageado: o Dono do Baú não compareceu ao evento na emissora, e foi representado pela pelas filhas e pela esposa, Íris Abravanel.

A última vez que Señor Abravanel apareceu nos bastidores do canal foi em setembro do ano passado. A família alega que Silvio Santos está em um momento de descanso, enquanto o SBT afirma repetidas vezes que o apresentador continua ativo e bem de saúde.

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Além de Silvio, o Brasil já não pode contar mais com o “ô loco meu” de Fausto Silva. A Band anunciou, no mês passado, o fim do contrato de 1 ano e meio com o veterano. Até o momento, ainda não se sabe se o apresentador voltará à TV.

Mas não só dos que decidiram se aposentar ou deixar o trabalho diário nos palcos de emissoras espalhadas pelo país, o Brasil também se viu órfão após a morte de ícones da era de ouro da televisão nacional, como Gugu Liberato (1959-2019), Chacrinha (1917-1988), Jô Soares (1938-2022) e Hebe Camargo (1929-2012).

Hoje, Ratinho, Ana Maria Braga, Carlos Alberto de Nóbrega, Serginho Groisman, Pedro Bial, Eliana e outros ainda atuam na televisão e tantam manter o legado dos grandes ícones, mesmo em um contexto no qual a TV aberta tem perdido, constantemente, parcelas da audiência para o mundo digital.

“É interessante ver os comunicadores mais tradicionais sendo tão enaltecidos atualmente. Quando esses artistas despontaram na TV, eles eram espezinhados pela imprensa. Havia alta carga de preconceito, inclusive por conta da origem simples de vários deles: Hebe Camargo foi empregada doméstica, Raul Gil foi feirante, Silvio Santos foi camelô… Aliás, essa origem explica em parte a forte conexão que tais figuras tem com as massas. Existe uma empatia enorme”, indica Fernando Morgado, consultor e professor de televisão.

O autor dos livros Comunicadores S.A. e Silvio Santos – A Trajetória do Mito ainda afirma que essa “debandada” dos antigos apresentadores “é um processo de mudança geracional, e não de extinção da figura do comunicador”.

Tetel Queiroz, roteirista e desenvolvedor de conteúdo para televisão, aponta também as alterações no consumo dos produtos audiovisuais, que foram profundamente impactos pelo surgimento de novas tecnologias:

“Os programas de auditório, especialmente os dominicais, sempre foram longos e carregavam a missão de falar com a família inteira. A família já não se reúne para assistir a mesma coisa. Hoje, a família pode até estar na mesma sala, mas cada um na sua tela. Então, estes apresentadores passaram a disputar uma parcela de público que foi envelhecendo e que ainda consome por hábito.”

O começo, o meio e a continuidade

Apesar dessa evolução natural citada pelos especialistas, ambos também pontuam o “começo, o meio e a continuidade” da história da televisão. No começo, por exemplo, citam Chacrinha, que estreou na televisão em meados dos anos 1950 e esteve na TV Tupi, Globo, Record e Band.

Em seus programas de auditório, com o conhecido figurino extravagante, Chacrinha lançou vários artistas para o estrelato e moldou os programas de auditório que viriam pela frente.

Silvio Santos, Gugu, Hebe, Raul Gil, Ratinho e outros deram continuidade ao legado de Chacrinha e foram seguidos por Marcos Mion, Luciano Huck, Fátima Bernardes, Eliana, Celso Portiolli e tantos outros que tentam acompanhar a evolução natural da tecnologia em seus programas adaptados aos novos públicos.

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“Os comunicadores pioneiros de fato construíram estilos que servem de base para todos os profissionais que vieram depois. Silvio Santos, por exemplo, inspirou o Gugu. E o Gugu inspirou o Marcos Mion. O panda e o Globolinho lembram muito as personagens que lotavam o palco do Viva a Noite. Silvio Santos é o grande animador, enquanto Blota Jr. foi o grande mestre de cerimônias, Hebe Camargo foi a grande entrevistadora, Flávio Cavalcanti foi referência ao combinar entretenimento com jornalismo no palco”, opina Morgado.

“Thiago Leifert — caso queira voltar a ser apresentador —, Tadeu Schmidt e Mion são nomes interessantes [para dar continuidade aos apresentadores] na medida em que oferecem uma dinâmica e uma prosódia capaz de dialogar com a velocidade exigida por uma sociedade hiperestimulada”, completa Tetel Queiroz.

Uma coisa é certa: não existe mais o contexto que formou figuras como Blota Jr., Faustão, Flávio Cavalcanti, Gugu, Hebe Camargo, Silvio Santos. 

Fernando Morgado

Apesar da mudança natural, Morgado citou que as emissoras entendem a importância da continuidade dos apresentadores: “Quando o Faustão saiu de lá [da Globo], a emissora optou por seguir ocupando a noite de domingo com um programa de auditório personalíssimo, o Domingão com Huck.”

“E fez o mesmo nas tardes de sábado, colocando o Marcos Mion, nas manhãs de segunda a sexta, lançando a Patrícia Poeta no lugar de Fátima Bernardes, e nas madrugadas, com o Pedro Bial ocupando o horário que foi de Jô Soares. E certamente fará esse mesmo tipo de movimento quando Ana Maria Braga, por qualquer razão, deixar o vídeo”, completa.

Era de mudanças

Tetel Queiroz e Morgado também destacam a presença da TV fechada e do streaming na mudança do consumo do público. Nos anos 1980, por exemplo, não havia outra opção que os programas de auditório aos domingos na televisão aberta. Hoje, no entanto, a guerra dos streamings ganha cada vez mais competidores.

Grandes nomes da TV, inclusive, já seguem para atuar como apresentadores em produções do streaming. Eliana esteve no Ideias à Venda, da Netflix, enquanto Fernanda Souza também foi contratada pela locadora vermelha para o Iron Chef Brasil. Angélica foi para o Jornada Astral, da HBO Max, e Tiago Leifert atua no Amazon Prime Video.

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“Esse é um indicativo de que a era dos grandes apresentadores mudou! Foi-se o tempo em que o comunicador podia se dar ao luxo de trabalhar em apenas uma mídia. Tanto o público quanto os anunciantes querem conteúdos em múltiplos meios, afinal, todos nós consumimos tudo ao mesmo tempo e agora. O on demand é complementar à TV linear. Sendo assim, é preciso estar tanto no streaming quanto na televisão convencional, seja ela aberta ou paga”, definiu Morgado.

“A geração mais velha não contava com a diversidade de conteúdo e meios que temos hoje. Então foram décadas construindo uma relação de fidelidade e conforto”, conclui Tetel.

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