Quantia foi transferida em parcelas, começando com um pagamento inicial de R$ 2 milhões, seguido de valores menores ao longo do tempo
Marcos Roberto de Almeida, conhecido como Tuta, ex-líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), fez declarações alarmantes sobre sua fuga do sistema penitenciário. Fontes indicam que o criminoso teria pago R$ 5 milhões a integrantes da Rota, unidade especializada da Polícia Militar de São Paulo, em troca de informações privilegiadas que facilitaram sua evasão durante a Operação Sharks, iniciada pelo Ministério Público em setembro de 2020, com o objetivo de desmantelar a cúpula da facção.
A quantia foi transferida em parcelas, começando com um pagamento inicial de R$ 2 milhões, seguido de valores menores ao longo do tempo. A Rota tinha a missão de cumprir diversos mandados de prisão ligados à operação, incluindo um contra Tuta. No entanto, ao chegarem ao endereço indicado, os agentes não conseguiram localizá-lo.
As autoridades levantaram suspeitas sobre um possível vazamento de informações, que poderia ter ocorrido no próprio prédio onde Tuta residia. A situação se complicou ainda mais quando promotores obtiveram um áudio no qual Tuta afirmou: “O pessoal da R [referindo-se à Rota] salvou minha vida na Sharks”. Essa declaração gerou sérias preocupações sobre a conduta dos policiais envolvidos.
Investigadores do Grupo de Atuação Especializado no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) identificaram que os policiais militares envolvidos faziam parte do setor de inteligência da Rota. Em vez de realizar patrulhamentos visíveis, estavam envolvidos em operações discretas. Os promotores expressaram insatisfação com José Augusto Coutinho, então comandante da Rota e atualmente segundo na hierarquia da Polícia Militar, por não ter tomado as providências necessárias para apurar as denúncias, o que pode configurar encobrimento.
Em declaração, a Secretaria da Segurança Pública (SSP), afirmou que a Polícia Militar não tolera desvios éticos e garantiu que todas as denúncias são rigorosamente investigadas pela Corregedoria.
Quem é Tuta?
Tuta ascendeu ao cargo máximo dentro do PCC em 2020, após a transferência dos principais líderes da organização para presídios federais. Ele é acusado de lavar mais de R$ 1 bilhão para a facção e foi expulso em 2022 por enriquecimento ilícito. Investigações recentes sugerem que ele pode ter sido sequestrado e assassinado pelo tribunal do crime do PCC, embora oficialmente ainda seja considerado foragido.
No ano anterior, Tuta foi condenado a 12 anos de prisão pela 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital por associação criminosa e lavagem de dinheiro.
Assassinato de Gritzbach
Outro nome relevante nesse contexto é Silvio Luiz Ferreira, conhecido como “Cebola”, descrito como uma figura chave na organização criminosa e principal suspeito pelo assassinato de Vinícius Gritzbach. Cebola também teria escapado das ações da Operação Sharks devido ao vazamento de informações por parte dos policiais da Rota.
Antes do assassinato de Gritzbach, Cebola estava sob investigação coordenada pelo Gaeco. Ele conseguiu evitar a captura com a ajuda de informações privilegiadas obtidas por meio dos policiais do setor de inteligência da Rota.
Gritzbach havia alertado as autoridades sobre uma reunião crucial entre membros do PCC na residência do advogado Ahmed Hassan, conhecido como Mudi. Esse encontro envolvia outras figuras proeminentes do crime organizado e representantes da empresa UpBus, supostamente utilizada para atividades ilícitas relacionadas à lavagem de dinheiro.
Quando os promotores solicitaram ao Comando de Policiamento de Choque o envio de equipes para prender as lideranças do PCC no local indicado, foram informados de que ninguém estaria presente na residência. Posteriormente, ficou claro que todos os participantes estavam ativamente envolvidos nas operações da facção criminosa.