O presidente Jair Bolsonaro reconheceu nesta segunda-feira (15) que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, se tornou um “problema” no governo e passou o dia tentando encontrar uma solução para demitir o auxiliar sem arranhar sua base de apoio. Após se reunir ontem com o ministro no Palácio do Planalto, Bolsonaro o manteve no cargo, mas integrantes da ala militar e aliados políticos insistem que seria importante o presidente substituir o titular da Educação numa tentativa de pacificar a relação com o Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro tem acumulado polêmicas e, no fim de semana, voltou a fazer críticas a integrantes da Corte em um ato de bolsonaristas na Esplanada dos Ministérios.
“Eu acho que ele (Weintraub) não foi muito prudente em participar da manifestação, apesar de não ter falado nada de mais ali. Mas não foi um bom recado. Por quê? Porque ele não estava representando o governo. Ele estava representando a si próprio. Como tudo o que acontece cai no meu colo, é um problema que estamos tentando solucionar com o senhor Abraham Weintraub”, afirmou Bolsonaro em entrevista à BandNews TV quando questionado sobre a ida do auxiliar ao ato.
O argumento dos que defendem a demissão é de que o ministro é um gerador de crises desnecessárias em um momento em que o presidente, pressionado por pedidos de impeachment, inquérito e ações que pode levar à cassação do mandato, tenta diminuir a tensão na Praça dos Três Poderes.
Nos bastidores, ministros do STF veem com bons olhos uma eventual saída do ministro do cargo, mas o recado é de que não seria suficiente para pacificar a relação entre os poderes.
Por outro lado, a ala ideológica e os filhos do presidente afirmam que limá-lo do governo neste momento poderia desagradar a base que tem defendido o presidente no fogo cruzado com Legislativo e Judiciário.
Após a reunião no Planalto, o ministro disse a interlocutores que segue no cargo. Auxiliares do presidente afirmam, no entanto, que uma definição ainda depende de encontrar uma função para ele dentro do governo que agrade a base e também um substituto para a Educação. A exemplo do que fez com outros ministros demitidos, Bolsonaro pode oferecer uma posição em uma embaixada ou um cargo de assessor especial para Weintraub.
A situação do ministro já era considerada insustentável em parte do governo, mas piorou após ele se reunir no domingo, 14, com cerca de 15 manifestantes bolsonaristas. O grupo desrespeitou uma ordem do governo do Distrito Federal para não realizar atos na Esplanada dos Ministérios.
No encontro com os apoiadores do presidente, o ministro repetiu os ataques ao Supremo. “Eu já falei a minha opinião, o que faria com esses vagabundos”. A declaração remete ao que ele já havia falado na reunião ministerial do dia 22 de abril, quando disse que colocaria na cadeia os ministros da Corte, a quem classificou como “vagabundos”. Ele responde a um processo por causa dessa afirmação.
No Supremo, a avaliação é de que há uma escalada nos ataques à Corte, que saíram da esfera virtual e se materializaram em manifestações cada vez mais expressivas, como os fogos de artifício disparados nas proximidades do tribunal no final de semana passado. (Jussara Soares e Rafael Moraes Moura – Estadão Conteúdo)
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