Pouco mais de duas semanas após os início da flexibilização da economia em Sorocaba, no dia 1º de junho, todos os indicadores de saúde relacionados à pandemia de coronavírus apresentaram crescimentos significativos. O número de casos confirmados mais que dobrou, assim como houve crescimento no número de mortes, internações e ocupações de leitos de UTIs.
As informações estão em um levantamento realizado pelo jornal Cruzeiro do Sul com base em dados oficiais da Secretaria de Saúde de Sorocaba (SES). A comparação foi feita com os números divulgados pelo município até o dia 18 de junho, sem levar em consideração os 476 casos a mais, divulgados ontem, registrados no sistema prisional da cidade.
Com relação aos casos confirmados, o número era de 995 no dia em que a flexibilização foi iniciada na cidade, acompanhando o chamado Plano São Paulo. Com 18 dias passados, a cidade passou a 2.303 casos. Com isso, esse indicador apresentou aumento de 231%. Foi o dado que mais cresceu.
O número de mortes confirmadas por coronavírus quase dobrou. No início da flexibilização, a cidade registrava 46 óbitos. Ontem, esse número saltou para 88, com aumento de 91%. O número de internações cresceu quase 60%, partindo de 94, em 1º de junho, para 150.
A ocupação em UTIs aumentou de 29 para 43, com alta de 48%. Vale lembrar que os indicadores de ocupação geral de leitos — internações — e de leitos de UTI são rotativos, aumentando e diminuindo ao longo dos dias . A cidade já chegou a ter números maiores com relação a essas ocupações.
Mais testes
O secretário de Saúde de Sorocaba, Ademir Watanabe, foi questionado sobre como encara esses aumentos. “Isso segue, mais ou menos, o que a gente vinha antevendo. Estávamos em uma situação de isolamento. Atingimos anteriormente números bem melhores que os atuais. Tínhamos a pandemia razoavelmente controlada. Ou seja, nós tínhamos um óbito a cada quatro, cinco, seis dias e o número lento de crescimento de casos positivados”, afirma.
Para Watanabe, a alta no número de casos ocorreu em virtude do aumento no número de testes. “A partir do momento que houve a flexibilização, nós passamos a testar mais as pessoas. O número de casos confirmados, obviamente, também aumentou”, diz. O secretário também comentou sobre o aumento no número de óbitos. “O número de óbitos, não que seja estimado, que a gente não quer esperar isso, porém, nós já antevimos que teria mais casos de óbitos. E deve ainda aumentar.”
Consciência
O chefe da pasta da Saúde voltou a pedir por consciência dos sorocabanos. “Quero que entendam que ainda demora um pouquinho para chegar no máximo, para depois começar a pensar em estabilizar, e, mais para a frente, talvez em agosto, começar a ter estimativa (de redução). Até isso, nós pedimos para as pessoas: por favor, fiquem nas suas casas, sempre que puderem. Procurem não sair. Estamos próximos de chegar no final e esse final pode ser muito mais promissor se nós tivermos um pouquinho mais de paciência”, comenta.
“Ninguém precisa relaxar o isolamento e o distanciamento. Precisamos que as pessoas continuem ajudando no isolamento”, termina. Watanabe voltou a pedir também para que as pessoas não deixem de usar, por exemplo, máscara e álcool gel.
MP acompanha
Conforme a promotora Cristina Palma, o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) está acompanhando a situação. De acordo com ela, a entidade leva em consideração o que determina o decreto estadual sobre o tema. Ela também lembrou que essas decisões devem ser técnicas.
Ainda de acordo com a promotora, o município pode ser mais rígido do que determina o Estado. “É importante ressaltar que o município pode ser mais restritivo que o Estado”, diz. “Meu entendimento é de que o município não pode flexibilizar além do permitido pelo Estado. Mas adotar medidas mais restritivas pode”, comenta.
Questionada se considera o avanço dos indicadores como algo preocupante, a promotora foca na questão das condições de atendimento na rede pública de saúde. “O importante é que haja condições de tratamento, que não haja filas por leitos, que se atenda adequadamente a população, porque os casos irão acontecer de qualquer forma. É inerente à pandemia”, acrescenta.
“O que importa é a capacidade de atendimento. Quando essa capacidade se esgota, o isolamento se torna necessário”, opina. “Espero que não ocorra, mas se o sistema de saúde não conseguir atender, providências deverão ser tomadas.” (Marcel Scinocca)
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