Marcelo Augusto Paiva Pereira
Arquitetura vernacular é o nome atribuído às obras populares de qualquer cultura e em qualquer região. Vernáculo deriva do latim “vernaculum” (doméstico, nativo ou indígena) e surgiu da palavra “verna”, provavelmente etrusca, que significa “escravo nativo” ou “escravo nascido em casa”. Ao tempo do Império Romano a palavra “vernae” indicava a linguagem falada pelo povo.
Na arquitetura a qualificou de doméstica ou nativa, para apontar as obras produzidas pelas comunidades que se fixaram em determinados locais ou regiões e lá criaram raízes ou, então, pelas originárias dos locais ou regiões (nativas). Todas, porém, de natureza popular.
A arquitetura vernacular resulta do ambiente em que se insere, depende dos recursos e meio ambiente do local, da cultura e da condição econômica da comunidade local. É rural, empírica, prática, transmitida entre gerações, não há a atuação de arquitetos ou engenheiros e é própria de época e lugar específicos. Representa a linguagem (identidade) de cada comunidade ou grupo e faz foco nas funções de cada edifício, cuja estética é consequência da conclusão da obra. As obras são simples e práticas, sejam residenciais ou para outros fins.
Ela evolui com o tempo e se adapta aos lugares em que se insere. São exemplos os Bangalôs de Chicago (Estados Unidos da América), as “Malay Houses” (Malásia) e as habitações das favelas nas grandes cidades, além de outras. No Brasil, as casas de taipa de pilão e as de taipa de mão (pau-a-pique) são exemplos de arquitetura vernacular, que ainda sobrevivem em nosso país e fazem parte do nosso patrimônio histórico e cultural.
Desde o tempo em que os edifícios públicos eram desenhados por engenheiros militares ou arquitetos trazidos da Europa, as habitações populares acompanharam a urbanização do nosso país e eram construídas pela iniciativa de cada morador, com o conhecimento e condição econômica próprias.
Mais do que preservá-las, necessário restaurá-las com as mesmas técnicas com que foram construídas para renovar o uso, preservar a memória e a identidade da sociedade e a transformação das técnicas de construção, que desenvolveram as escolas e escritórios de arquitetura e engenharia.
Sorocaba tem cursos superiores nas áreas da engenharia, arquitetura e urbanismo. Restaurar referidas habitações em nossa região também contribui para o aprimoramento das pesquisas acadêmicas em relação ao material e técnicas empregadas, ao desenho dos ambientes domésticos, inclusive das habitações urbanas, como os habitantes se relacionavam com a urbe, a área de ocupação, o mobiliário, os usos e costumes urbanos e rurais, etc.
A arquitetura vernacular é patrimônio da cultura porque popular, cujo conhecimento da comunidade é transmitido pelas gerações sucessivas (tradição) e tem o objetivo de atender às necessidades de moradia e sobrevivência. As obras em taipa de pilão e as de mão devem ser restauradas para preservar a memória, a cultura e as técnicas de construção da comunidade e, também, renovar o uso e desenvolver as pesquisas acadêmicas. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.
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