À primeira vista, o apartamento localizado no Sudoeste, em Brasília, de José Carlos Gomes Costa, 71 anos, e Simoni Lira dá a impressão de ser mais uma moradia em tons de branco, na medida do convencional brasiliense. A sensação, no entanto, é interrompida já na sala de estar: do amarelo vibrante ao azul mais chamativo, a residência do casal é um reduto de obras de arte produzidas em vidro pelo engenheiro mecânico aposentado.
Após encerrar a longa carreira como engenheiro em órgãos públicos do país, em meados de 2013, JCosta buscou na arte um refúgio para o que se podee considerar o “limbo” da aposentadoria. Procurando formas de se distrair e não se deixar levar pelo tédio que a falta de trabalho pode causar, o artista definiu um plano de metas, que incluía viagens, momentos com a família e a esposa, com quem está casado há 23 anos.
Uma das principais metas era retornar a produzir arte. Costa, no entanto, nunca imaginou que fosse encontrar no vidro a sua maior paixão. Em 2016, ele conheceu, em uma viagem ao Canadá, a arte em vidro do escultor Dale Chihuly. Encantado por aquela prática, pouco representada na capital do país, o engenheiro contou com auxílio da artista Luiza Dornas, e logo fugiu do convencional de utilitários em vidro, como pratos e xícaras, para a peça mais evidente de sua casa: a Mesa Parede (veja abaixo), hoje mesa de jantar da família.

Mesa Parede, um dos trabalhos de Costa que mais chamam atenção em seu apartamento
Metrópoles/ Arthur Menescal

JCosta tem 71 anos
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Ele contou ao Metrópoles que encontrou na arte uma forma de fugir do limbo da aposentadoria
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Agora, Costa trabalha com vidro
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Ele usa a influência da engenharia mecânica para melhorar ainda mais suas peças
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Costa e Sorvetão, uma de suas obras
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Ele mora no Sudoeste com a esposa, Simoni
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Suas peças são feitas em seu apartamento
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Homenagem ao Dale Chihuly, seu artista favorito
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Praia do Rio de Janeiro vista de cima, aos olhos de Costa
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“Para algumas pessoas, a aposentadoria acaba se tornando quase que uma morte. As pessoas deixam de ter algo forte para poder se ocupar. Eu já tinha alguma experiência em pintura e na aposentadoria eu fiz uma programação, onde eu faria viagens, que tipo de cuidados eu teria comigo mesmo. Um dos projetos era voltar à fotografia, mas também desenvolver arte. Nesse processo eu descobri o vidro, que é o meu mote atual”, explica JCosta, em entrevista ao Metrópoles.
Ele afirma que, apesar de ter se aposentado, a engenharia mecânica ainda é presente em sua vida artística, já que ajuda na montagem das peças, em controle de cores, luzes, medidas, tempo de forno para que a peça em vidro tome formato e outras exigências peculiares deste trabalho.
“Eu faço desenhos detalhados do que eu quero, com as medidas, como ele [serralheiro] deve cortar o aço. O trabalho já chega pronto para ele. Como tenho uma certa origem da engenheira elétrica, começo a inventar as coisas, colocar luz nas minhas obras”, diz.

Quando questionado sobre de onde surge inspiração para a produção de suas artes, Costa é sucinto: apenas vem! Sorvete em vidro, pincel escorrendo tinta, praia do Rio de Janeiro vista de cima, rosto sorrindo, homenagens à esposa e por aí vai. Mesmo que não tenha limites para sua imaginação, uma sensação é presente quando se encara as obras do artista: amor.
Eu adorava ser o que eu era como engenheiro. Como artista, eu admito, estou muito feliz”
JCosta, artista em vidro
Pandemia da Covid-19 e a luta com o câncer
Já não é novidade que a pandemia da Covid-19, que teve início no Brasil em março do ano passado, assolou a rotina do mundo inteiro. Para JCosta não foi diferente. Além de lidar com a batalha diária do isolamento social e de uma recente aposentadoria, o artista precisou enfrentar dois cânceres apenas em 2020.
“2020 foi um ano complicado para todo mundo. Ano passado eu tive dois cânceres, [que] já [estão] sanados. Ano passado eu fiquei praticamente trancado mesmo, não só pela pandemia, mas pelo câncer. E foi o ano que eu mais desenvolvi. Estava em casa, podia me dedicar a novas técnicas, novos experimentos”, pondera o artista, que aproveitou para brincar com a esposa:
“Meu problema é que há uma certa falta de parede e sou puxado as orelhas pela madame, me cerceia para não invadir (risos). Eu já propus até colocar quadro no teto, mas não sei porquê, ela não deixou (risos)”.

O artista, no entanto, afirma que não pretende guardar suas obras apenas para os sortudos que são convidados à conhecer o seu apartamento. Costa pontuou que suas obras foram expostas, de forma virtual, em uma galeria de Nova York, nos Estados Unidos, e, agora, ele está em fase de enviar uma de suas artes para que seja apreciada de forma presencial.
“A minha professora de vidro, a Luiza, montou turma e me chama para ir lá em algumas aulas, para mostrar minha arte. Eu levo uma ou outra peça e é muito legal a empolgação das meninas. É como se elas descobrissem um mundo que elas são capazes de fazer. Elas acham que só podem fazer xícara, pratinho, mas elas podem fazer algo muito mais belo do que xícaras e pratos. É uma alegria muito grande fazer parte disso”, finaliza o engenheiro e artista.
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