Arruda fez o anúncio após reunião com o presidente Bolsonaro
Por Ary Filgueira
O ex-governador José Roberto Arruda (PL) será mesmo candidato a deputado federal em outubro e apoiará a reeleição do atual governador Ibaneis Rocha (MDB), segundo ele próprio anunciou nesta terça-feira (19).
Antes desse anúncio oficial, Ibaneis informou a novidade nas redes sociais, revelando que a decisão foi tomada após reunião de Arruda e de sua mulher, deputada Flávia Arruda, com o presidente Jair Bolsonaro, nesta tarde.
A candidatura de Arruda a deputado, apoiando sua mulher para o Senado e Ibaneis para governador, já estava acertada antes da decisão liminar do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Humberto Martins, autorizando sua participação nas eleições.
Festa no comitê
Na inauguração do Comitê do Partido Liberal (PL) no Setor de Rádio e TV Sul (SRTVS), quem roubou a atenção foi o ex-governador José Roberto Arruda. Mesmo com a expectativa do anúncio de Flávia Arruda, de sua candidatura à única vaga destinada ao Distrito Federal ao Senado nestas eleições, as dezenas de pessoas que se acotovelaram, nesta segunda-feira (18), no pequeno espaço destinado ao comitê situado na Quadra 701, queriam mesmo era saber para onde vai o ex-chefe do Executivo local.
A sondagem em torno dele cresceu depois que uma liminar do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Humberto Martins devolveu seus direitos políticos depois de 22 anos inelegível. Mas, por enquanto, o mistério permanece. O ex-governador admitiu que irá disputar um cargo na política, mas não deu pistas de qual cargo será. É de conhecimento público que Arruda faz parte do mesmo grupo do atual governador Ibaneis Rocha (MDB). E que até o dia de registrar sua candidatura muita água passará por baixo dessa ponte que liga eles dois.
O discurso comedido de Arruda na noite de segunda-feira (18), porém, foi na contramão dos seus apoiadores. Estes sim mais afoitos e otimistas sobre uma possível candidatura dele ao Buriti. Como o ex-deputado Alberto Fraga (PL), que estava presente ao ato político. “(a indicação de Arruda para o GDF) É um caminho sem volta”, vaticinou Fraga, que garantiu não fazer parte de um eventual governo do colega de legenda. “Nem como secretário de Transporte. Sou pré-candidato a deputado federal”, despistou o ex-PM.
Velhas figuras de volta
Na mesma linha Fraga, mas um pouco mais eufórico, estava Roosevelt Vilela (PL). Ao ser perguntado sobre a possibilidade de Arruda trair seu grupo político e concorrer ao governo do DF com Ibaneis Rocha ele foi categórico. “Não tem volta. Arruda é candidato a governador”, disse o distrital, que já foi da base de Ibaneis, tendo indicado vários nomes para o governo, inclusive o do comandante do Corpo de Bombeiros, coronel William Augusto Ferreira Bomfim, no lugar do coronel Lisandro Paixão dos Santos.
Roosevelt não foi o único a trair seu antigo aliado, demonstrando apoio a José Roberto Arruda. Na mesma solenidade, estavam presentes o deputado distrital Agaciel Maia e o Bispo Renato. Este último chegou a ser secretário Relações Parlamentares. Apesar de citados por Arruda e convidados a falarem, nenhum dos dois quis pegar o microfone.
Arruda chegou nos braços da militança, que gritava seu nome a todo momento. Às vezes até atrapalhando o discurso dele quando já estava devidamente embarcado num palanque improvisado com vários figurões da política, como seu ex-chefe de gabinete Fábio Simão, a deputada Bia Kicis (PL) e até políticos mais ligados ao governador Ibaneis Rocha (MDB), como o deputado distrital Agaciel Maia (PL), que sempre integrou a base do atual governo nesses três anos e meio.
Elogios a Flávia Arruda
Antes de passar a palavra aos apoiadores, o ex-governador fez uma espécie de linha do tempo de sua trajetória política para enaltecer quem deveria ser a estrela da noite: Flávia Arruda (PL). Ele começou justamente pelos desdobramentos da Operação Caixa de Pandora, que o levaram à prisão. “Eu estava vendo a entrevista da Flávia a um emissora de tevê e fiquei emocionado porque me lembrei do dia em que fui arrancado do governo e os 62 dias que passei numa prisão… e ela nunca me deixou de me levar marmita”, confidenciou ele.
Momento em que ele chamou de “travessia do deserto”, uma alusão à passagem bíblica. Tudo isso para dizer que a ideia de Flávia Arruda entrar na política foi dele. “Em 2014, quando ainda estava impedido de disputar eleição, foi a ela quem eu recorri e aceitou o desafio de ir no meu lugar ser candidata a vice-governadora junto de Jofran Frejat. O tempo passou. Chegou em 2018 e eu continuava impedido. Então pedi a ela para ser candidata para que a nossa história não se perca. Ela foi a deputada federal mais bem votada. Para surpresa de muitos, ela vem fazendo um excelente mandato. Nosso presidente Bolsonaro a convidou para ser ministra de Estado. E agora está ela aqui prestes a disputar o Senado”, disse ele.
Sobre seu futuro político, preferiu deixar a cargo de Deus. “Se Deus permitir, quero ser candidato a alguma coisa”, disse ele. Se Deus, o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal permitirem. O ministro Alexandre de Moraes, do STF pautou para 3 de agosto o julgamento sobre o alcance da nova Lei de Improbidade Administrativa. A discussão é: se as alterações inseridas pela Lei 14.230/2021 podem retroagir. O que for decidido pelos ministros do STF terá repercussão geral, ou seja, valerá para todos os processos em tramitação relacionados a improbidade no país, inclusive para Arruda.
Até lá, o ex-governador vai surfando na própria fama sem precisar pegar carona na fama da mulher Flávia Arruda a fim de fazer seu legado não cair no esquecimento ou melhor: seu próprio nome.