Ainda sob o trauma da derrota eleitoral e da repercussão dos ataques golpistas às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) buscam iniciar uma mobilização para tentar voltar a ocupar as ruas. Em redes sociais e grupos de aplicativos de troca de mensagens, militantes de direita agendaram para abril as primeiras manifestações contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ainda sem a participação de lideranças populares, as convocações que já circulam nas redes bolsonaristas marcam mobilizações para os dias 2 de abril, um domingo, e 21 de abril, sexta-feira, mas feriado de Tiradentes.
Os perfis que fazem a convocação pedem a ajuda da militância para “viralizar” os chamados e para que defensores de Bolsonaro pelo Brasil afora ajudem a fazer atos em suas cidades.
A tática de uma organização descentralizada e supostamente espontânea tem sido usada por militantes de direita para promover manifestações desde a época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, e foi intensificada ao longo do governo Bolsonaro (2019-2022), quando os atos eram realizados em apoio ao chefe do Executivo e costumavam abrigar pautas antidemocráticas, como pedidos para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF) ou por uma intervenção militar.
Veja exemplos das convocações que já circulam nas redes e grupos bolsonaristas:
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Estratégia bolsonarista
A realização de grandes manifestações nas ruas de capitais e mesmo cidades médias ou pequenas foi uma estratégia muito usada pela militância bolsonarista nos últimos anos. Os maiores atos contaram com a participação do próprio ex-presidente e de outras lideranças importantes do bolsonarismo, como parlamentares e influenciadores digitais seguidos por milhões de pessoas nas redes.
Os atos mais relevantes foram promovidos pelos bolsonaristas no feriado de 7 de setembro de 2021 e no ano seguinte, já em plena campanha eleitoral. Na manifestação de 2021, Bolsonaro abusou do tom golpista e ameaçou não cumprir mais decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Pressionado pelo mundo político, porém, o ex-presidente acabou recuando das declarações dois dias depois, em carta sugerida e escrita pelo ex-presidente Michel Temer (MDB).
O tom de enfrentamento institucional com os outros Poderes, porém, foi mantido em todas as manifestações ao longo do mandato de Bolsonaro, numa mobilização que culminou nos acampamentos que se espalharam em frente aos quartéis em todo o país após a derrota de Bolsonaro para Lula nas últimas eleições.
Nesse ponto, as manifestações se tornaram abertamente golpistas, apelando por uma intervenção militar que impedisse a posse do petista. Essa mobilização só foi desfeita pelas autoridades no início deste ano, após militantes que estavam em frente ao QG do Exército em Brasília terem participado ativamente do ato que acabou na depredação do STF, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto.
Reprodução/Instagram
Metrópoles
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Reação ao 8 de janeiro é obstáculo
A reação institucional à depredação golpista em 8 de janeiro é um fator que dificulta a reorganização dos bolsonaristas para retomar as ruas. Lideranças da oposição querem dissociar futuras mobilizações de rua da mancha de golpista e retomar para a militância de direita uma imagem de manifestação ordeira, que não atrapalha o trânsito nem promove quebra-quebra.
As imagens da depredação em Brasília, porém, ainda estão muito vivas na lembrança dos brasileiros e são um obstáculo para a retomada das ruas pela direita. Ao menos 942 pessoas seguem presas em Brasília por envolvimento nos atos golpistas e há uma operação da Polícia Federal em curso, a Operação Lesa Pátria, que segue prendendo mais envolvidos quase que semanalmente.
As investigações visam, no mento, individualizar a conduta de cada participante e buscar financiadores e mentores intelectuais da tentativa de insurreição. Pela complexidade das investigações, é improvável que o assunto se esgote nos próximos meses.
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