Locadoras faturaram mais com venda de carros do que com locação

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O mercado de carros usados no Brasil atravessou um período de supervalorização durante a pandemia de Covid-19, quando a produção de veículos automotores caiu e o comércio de usados aqueceu. Esse cenário representou desafios para as locadoras de automóveis, que não renovaram a frota, mas viram o faturamento crescer graças às vendas de seminovos.

O resultado dessa situação pôde ser visto no balanço financeiro das empresas do setor, como é o caso da Localiza. Uma situação inédita: algumas locadoras faturaram, no 2º semestre de 2022, mais com a venda de carros do que com a locação dos mesmos.

A Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla) reconhece que o mercado de veículos usados ficou realmente aquecido e que, por um curto espaço de tempo, isso gerou mais faturamento ao setor.

Mas o porta-voz e conselheiro da Abla, Miguel Júnior, pondera quanto ao cenário atual do mercado. “A idade média dos automóveis das locadoras aumentou muito, gerando gastos com manutenção”, afirma.

“A excassez de carros novos, somada à alta de preços do zero quilômetro, obrigou o setor a avaliar o momento para iniciar a renovação”, completa Miguel Júnior.

O conselheiro da Abla lembra como o período de escassez de microchips e demais componentes eletrônicos interrompeu a produção nas montadoras e que o lucro com a venda dos seminovos foi “diluído no faturamento” na hora de recompor a frota, já que o carro “zero quilômetro estava muito caro nos últimos meses de 2022”.

Para o analista da XP Investimentos Pedro Bruno, o cenário econômico que favorecia o mercado de seminovos foi bem aproveitado pelas locadoras de automóveis.

O especialista lembra que, assim como qualquer empresa do setor frotista, as locadoras de automóveis recebem benefício fiscal. Ele explica que há valores diferenciados para o IPVA, maior ou menor dependendo do estado, e desconto que incide sobre o PIS/Cofins e o ICMS.

Além disso, Bruno lembra que as locadoras, sendo frotistas, têm o direito de realizar a compra direta de automóveis com as montadoras, o que rende entre 15% e 30% de desconto sobre o valor de mercado do automóvel. “As maiores locadoras trabalham com índices não divulgados”, explica.

Mesmo assim, o analista da XP concorda que os ganhos com venda de carros pelas locadoras foram pontuais. “O giro da frota é relativamente rápido. Contando que estamos falando de milhares, às vezes, dezenas de milhares de veículos, avalio que esse ganho acaba se diluindo na operação”, completa Bruno.

Lucro com usados

Em abril, a locadora Localiza divulgou os resultados referentes ao quarto trimestre de 2022 com registro de receita líquida de R$ 7,4 bilhões, um crescimento de 28,2% em relação ao mesmo periodo do ano anterior.

Mas o dado que mais chamou atenção foi o impacto da venda de veículos seminovos no faturamento da empresa. Isso porque a companhia faturou mais com a venda de automóveis do que com o aluguel deles — foram R$ 2,3 bilhões a mais.

Com a entrega de novas unidades à locadora, informa a empresa, a venda de automóveis usados acelerou, alcançando 141,2 mil carros e representando uma receita líquida de R$ 9,7 bilhões, superior em 14,1% quando comparada à receita de 2021.

Oportunidade

Outro detalhe destacado pelo porta-voz da Abla é que, ao longo da pandemia, as locadoras que não puderam renovar suas frotas agora têm pela frente um cenário de oportunidades.

Miguel Jr. lembra que, neste momento, os pátios das montadoras estão cheios e a negociação tem sido interessante para o frotista.

“Juros altos, queda do poder de compra do brasileiro, inflação e os financiamentos caros, e raros, assustam o consumidor. Por isso, as vendas de automóveis novos e usados estão estagnadas”, explica o porta-voz da Abla.

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