Ao que tudo indica, Rita Lee parece ainda em clima de festa, celebrando, a todo vapor, os 70 anos de vida completados no ano passado. Depois de lançar a autobiografia em 2016, acaba de chegar ao mercado, pela editora Globo Livros, FavoRita – obra de fotos inéditas sobre mais de 50 anos de carreira.
“Este livro é uma deliciosa amostra do colorido de Rita Lee. Afinal, o que seria do mundo sem ela? Rita ousou ser a diferente. A esquisitinha. Meio menina, meio menino. Nem um nem outro. Rita transportou para suas músicas sentimentos complexos. Sua obra é um compêndio de segredos da vida”, avalia o fantasminha, Phantom, alter ego criado pela artista em sua autobiografia.
Luxuoso, “FavoRita” é um suntuoso relicário iconográfico, mas não apenas isso. Entre uma galeria de fotos e outras, o lado escritora da cantora expõe lembranças dos tempos de criança, o peso da velhice, a preocupação passional com os animais, o lado feminista. Mas tudo como muito humor e a velha ironia que marcaram as letras de seus sucessos.
“Na verdade, minha rua era uma espécie de ‘A Praça é Nossa’ repleta de personagens femininas desfilando para nenhum Almodóvar botar defeito”, debocha. “Em casa éramos seis fêmeas, um festival de derramamento de sangue, onde meu pai, o único varão, pisava em ovos para não se fazer visto”, comenta, abrindo as torneiras da memória.
Rita censurada
A parte mais surpreendente do livro é a que revela, por meio de documentos, como a censura burra e ridícula foi implacável com o estilo debochado da roqueira. Uma das artistas mais proibidas da época, Rita era tachada pelos censores como rebelde, hippie, perigosa, incitadora da rebelião popular, contrária aos bons costumes, de linguajar vulgar, maliciosa e deseducativa.
De olho na loirinha sardenta desde 1969, os militares entram com marcação cerrada em 1973, ao implicarem com Gente Fina, então gravada para o clássico Tutti Frutti, mas nunca lançada. Tudo porque os funcionários do Departamento de Censura de Diversões Públicas (DCDP) cismaram com os versos: “Não Vai se misturar/Com esses meninos cabeludos/Que só pensam em tocar/E você escuta o papai dizendo/Que gente fina é outra coisa”.
A faixa “Prometida” – uma das primeiras parcerias de Rita com o marido Roberto de Carvalho – nunca caiu no ouvido dos fãs por conta do teor erótico sexual e vocábulos agressivos. Já o sucesso Cor-de-Rosa-Choque, usada na abertura do TV Mulher, ficou mais de dois anos sendo discutida se seria liberada ou não.
Curiosidades das turnês, figurinos, estruturas de shows e comentários de suas participações na TV e Cinema, depoimentos de amigas como Hebe Camargo e Elke Maravilha (ambas já falecidas), a origem sobre as várias personas que criou ao longo da vida, estão entre os atrativos desse favo de mel de memórias da irreverente setentona Rita.
FavoRita
Rita Lee. Globo Livros. 248 páginas, R$ 79,90