Cannes: Filmes de François Ozon e irmãos Safdie chegam com status cult

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    Divulgação

    E o 70º festival de Cannes vai chegando ao fim. Embora a premiação só ocorra no domingo (28/5) de noite, nesta sexta-feira (26), passam os últimos filmes concorrentes – o turco-alemão Fatih Akin assina “In the Fade”, e proporciona a Diane Kruger seu primeiro grande papel no cinema da Alemanha; a inglesa Lynne Ramsay concorre com “You Were Never Really Here”, com Joaquin Phoenix.

    Duas histórias explosivas, de vingança – Diane não pensa em outra coisa senão em vingar o marido e o filho, mortos num ataque terrorista; e Phoenix faz um veterano brutal que parte à caça da filha de um senador, que foi sequestrada, e se envolve numa trama de corrupção e violência.

    No sábado (27), Roman Polanski faz o encerramento com “Based in a True Story”, “Baseado numa História Real”, com sua mulher, Emmanuelle Seigner, e Eva Green. Uma escritora de sucesso se envolve com uma mulher misteriosa, e curiosamente chamada Elle, como o título do thriller de Paul Verhoeven com Isabelle Huppert, que fez sensação no ano passado aqui mesmo na Croisette.

    Prêmios
    O sábado também verá o anúncio dos prêmios da crítica (Fipresci, a Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica) e da seção Un Certain Regard. Vale destacar que essa etapa final do festival está sendo marcada pelo cinema de gênero. A sexta começou com um concorrente dos EUA – “Good Time”, dos irmãos Benny e Josh Safdie. O filme já nasceu com a vocação de cult e a muita gente fez lembrar “Drive”, de Nicolas Winding Refn.

    Dois irmãos (Robert Pattinson e o codiretor Ben) assaltam banco em Nova York. A fuga é uma sucessão de erros que cria a espiral de violência. O título só pode ser irônico – “Bom Tempo” vai contra o que bate na tela, exatamente como Happy End não define o filme de Michael Haneke que também participa da competição.

    “Bom Tempo” seria, ou é, o “Drive” 2017, mas, para dizer a verdade, se tivesse mais sexo que pancadaria a aproximação mais adequada seria com “Depois de Horas”, de Martin Scorsese, premiado nos anos 1980.

    Cult
    A noite trouxe outro thriller, o psicanalítico “L’Amant Double”/”O Amante Duplo”, do francês François Ozon. Marine Vacth faz uma mulher que sofre de dores no ventre. Não encontrando nada que justifique o sofrimento de sua paciente, uma médica a aconselha a procurar um psiquiatra.

    Entra em cena Jérémie Renier, de quem Marina se torna amante. Vão morar juntos e, mexendo nos pertences do companheiro, ela descobre seus segredos, isso é, que Paul (é seu nome) lhe esconde uma parte importante de sua identidade. Sem avançar muito para não entregar a trama – olha o spoiler! -, dá para dizer que o filme constrói-se em torno ao tema dos duplos.

    No final, a plateia dividiu-se entre aplausos e vaias. Não é um grande, sequer um bom Ozon, mas a primeira parte é intrigante e o diretor explora o potencial erótico da dupla Marina/Renier. Ela é um assombro, mas a surpresa é o belga Renier, que revela uma pegada viril totalmente ausente em seus papéis no cinema dos irmãos Dardenne.

    Retorno
    Quem voltou a Cannes e foi recebido como superstar foi David Lynch, que veio apresentar dois episódios da terceira temporada de sua série cultuada dos anos 1990, “Twin Peaks”. Na montée des marches – a subida da escadarias, pelo tapete vermelho -, a multidão gritava o nome do diretor. Dentro do palais, o diretor artístico Thierry Frémaux disse que o retorno de Lynch por trás das câmeras “é todo um acontecimento”.

    Anos atrás, surgiu o boato de que ele estava abandonando o cinemas. Obviamente foi mal interpretado. E o retorno não chega a surpreender. “Twin Peaks” era sobre o assassinato de uma garota na cidade do título. A investigação sobre a morte de Laura Palmer não apenas revelava os podres do lugar.

    Abria janelas para um fantástico, misto de surrealismo e sobrenatural, que nunca deixou de atrair o autor. No final da segunda temporada, Kyle MacLachlan, como o agente Cooper, do FBI, recebia um recado: “Voltaremos a nos ver dentro de 25 anos.”

    No cinema, a prequel surgiu em 1992, na sequência da série – “Laura Palmer: Fire Walks With Me”. Mas, agora, cumprindo a promessa, Twin Peaks está de volta à televisão, 25 anos depois. Nos EUA, estreou no canal Showtime, no dia 21.

    Netflix
    Em Cannes, que este ano selecionou dois filmes da Netflix para a competição, as plataformas têm dado o que falar. Não apenas a programação via streaming, as séries.

    “Twin Peaks” não é a única que Cannes abriga sob a rubrica “Evento do 70.º Aniversário”. Existe outra na mesma programação – “Top of the Lake: China Girl”.

    E se Lynch já ganhou a Palma de Ouro (por “Coração Selvagem”), “China Girl” é assinada por Jane Campion, única mulher a haver recebido o prêmio, ao longo desses 70 anos.

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