A semana é de comemoração à pessoa idosa em Sorocaba, por conta do Dia do Idoso, que foi celebrado nesta terça-feira (1º) em todo o mundo. Porém, os casos de violência contra a pessoa idosa, com 60 anos ou mais, têm aumentando na cidade, pelo menos desde 2017.
Somente este ano, foram 522 denúncias. É o que apontam os números do Centro de Referência do Idoso (CRI), órgão municipal que contabiliza e recebe parte das denúncias de violência contra a pessoa idosa na cidade.
Conforme os dados do CRI, as denúncias de violência contra as pessoas idosas aumentaram 263,90% na comparação dos números de 2018 com 2017.
O levantamento aponta que no ano passado, o CRI recebeu no total 484 denúncias de violência contra a pessoa idosa ante 133 em 2017. Além disso, só este ano o CRI já recebeu o total de 522 denúncias. O número já é maior do que todo o total registrado em 2018 e representa um aumento de 7,85% nos casos de violência contra idosos em Sorocaba em 2019.
De acordo com a Prefeitura de Sorocaba, a maioria das denúncias de violência contra a pessoa idosa são registradas pelo Disque 100 e os principais casos são de negligência, violência psicológica, abuso financeiro, violência física, discriminação, entre outras.
Números altos e preocupantes
De acordo com a presidente do Conselho Municipal do Idoso, Maria Eugênia Filomena de Moraes, os números são considerados altos e bastante preocupantes. Ela afirma ainda que na maioria das denúncias familiares, parentes e pessoas que têm maior contato com as pessoas com 60 anos ou mais são os principais agressores. “São filhos, netos, sobrinhos, outros parentes e até cuidadores. Quase sempre é alguém bem próximo da pessoa idosa que comete algum tipo de violência”, diz.
Maria Eugênia disse ainda que a maioria dos casos que chegam ao conhecimento do CRI são feitos relatórios, que são encaminhados ao Ministério Público. Além disso, principalmente nos casos de violência física os casos são encaminhados para a Polícia Civil. “O que mais a gente recebe são casos de denúncias de maus tratos, que é uma violência praticada por alguém contra pessoa que esteja sob cuidados da mesma, e ela pode ser tanto física quanto psicológica”, diz.
A presidente do Conselho ainda cita que as denúncias de abuso financeiro contra as pessoas idosas também são bastante comuns. “O agressor utiliza o dinheiro como forma de controlar ou manipular a pessoa. São casos de destruição, apropriação e retenção de bens, estelionato, extorsão, furto, roubo, ocultação de documentos, e principalmente apropriação do cartão bancário do idoso”, diz.
Maria Eugênia cita ainda casos de denúncias de maus-tratos contra idosos em casas de longa permanência existentes na cidade. “Nesses casos o Conselho Municipal do Idoso vai até o local para averiguar a denúncia e fiscalizar as casas que dão atendimento aos idosos”, diz.
As denúncias de violência contra a pessoa idosa podem ser registradas na Delegacia do Idoso, pelo Disque 100 (disponível 24 horas por dia) onde o informante não precisa se identificar, e demanda espontânea no CRI.
Estatuto completa 16 anos este mês
O Estatuto do Idoso, que foi regulamentado pela Lei nº 10.741/2003, completa 16 anos neste mês. Criado para garantir uma série de dispositivos legais e os direitos das pessoas idosas o estatuto tem 118 artigos dos quais, do 95 ao 108 aborda as questões classificadas como crimes contra pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Apesar disso, a legislação ainda não foi suficiente para coibir os casos de violência.
Os números divulgados anualmente pelo Disque 100 colocam São Paulo como o Estado com maior número de casos de violência contra a pessoa idosa em 2018: foram 9.010. O total representa 25,92% a mais do que as ocorrências de 2017, quando o Estado somou 7.155.
Idosos lamentam violência
Pessoas com 60 anos ou mais que moram em Sorocaba lamentam o aumento dos casos de violência contra a população idosa na cidade. Os entrevistados pela reportagem afirmam que não passaram por nenhuma situação de violência, mas conhecem casos que são relatados pela imprensa.
O aposentado José Francisco de Oliveira, 71 anos, disse que toma conhecimento de situação de violência contra a pessoa idosa em notícias divulgadas pela televisão. Ele afirma que não nunca sofreu violência de familiar ou parente e que desde que se separou da esposa mora sozinho. “Já fui assaltado quando eu tinha um comércio, mas maus-tratos da minha família eu nunca sofri”, diz.
Nelson Nagamine, 73 anos, também é aposentado e afirma que ouve pouco sobre casos de violência contra idosos na cidade, mas que infelizmente eles ocorrem. “Tem aquela situação de um familiar usar o dinheiro do idoso sem autorização e na minha opinião isso é furto”, diz.
Para a psicóloga e professora Renata Marques, que faz palestra em eventos para idosos sobre relacionamentos abusivos, é importante conscientizar a pessoa com 60 anos ou mais para as relações abusivas, principalmente de familiares. “É muito importante a pessoa idosa reconhecer o comportamento do abusador e pedir ajuda, mesmo que a violência esteja sendo praticada por um filho ou neto”, diz. (Ana Cláudia Martins)
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