O Carnaval de Rua

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A Prefeitura de Sorocaba não vai investir recursos públicos para a realização do Carnaval de Rua no ano que vem, nem apoiar financeiramente as escolas de samba, como já aconteceu em anos anteriores.

A informação foi divulgada pelo secretário da Cultura do município, Marcel Stefano Tavares da Silva, que trabalha com um dos menores orçamentos da Prefeitura e, no próximo exercício, terá de desenvolver todas as atividades ao longo do ano com um orçamento 17% menor que o de 2019: serão apenas R$ 13,4 milhões de um orçamento de mais de R$ 3 bilhões, o que obrigará o secretário a repensar algumas ações da Pasta para adaptá-las a essa nova realidade financeira.

Sem recursos, acertadamente o poder público municipal optou por não financiar a festa realizando apenas alguns eventos paralelos ainda a serem definidos para comemorar a data.

O Carnaval de Rua de Sorocaba sofreu grandes alterações nos últimos anos e com certeza é uma festa que reúne um bom público, onde quer que o desfile seja realizado.

Os primeiros desfiles de Carnaval, pelo que mostram os arquivos dos jornais, ocorriam no eixo das ruas São Bento e 15 de Novembro nas décadas de 1940 e 1950, reunindo agremiações que se formaram para participar, inclusive alguns clubes de destaque e com grande número de associados, como o 28 de Setembro, fundado em 1945 por um grupo de ferroviários.

Era a época dos “cordões” que realizavam um desfile improvisado para os padrões de hoje, mas nem por isso menos animado.

A partir desse período, várias escolas de samba surgiram na cidade e, aos poucos, implantaram um pouco de profissionalismo nas apresentações.

Os desfiles já foram realizados em um trecho da avenida Dom Aguirre, nas proximidades da ponte Francisco Dell’Osso. Em seguida passaram para a avenida Dr. Afonso Vergueiro assim que ela foi duplicada e, mais tarde, se alteraram entre a avenida Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes, próximo à Prefeitura, e o Parque das Águas.

O escritor cearense Lira Neto, brilhante biógrafo de Getúlio Vargas e Padre Cícero, no primeiro volume de sua obra “Uma história do samba” (Companhia das Letras, 2017) revela o dedo do governo Getúlio Vargas, durante o Estado Novo, na criação dos desfiles das escolas de samba do Rio nos moldes que conhecemos hoje, inclusive na orientação ufanista dos temas dos sambas-enredo.

Essa tradição chapa-branca dos desfiles carnavalescos se espalhou pelo país inteiro, sempre atrelado ao financiamento público de pelo menos parte do espetáculo.

Em Sorocaba, o auge dos desfiles coincidiu com a realização de animadíssimos bailes carnavalescos nos clubes sociais da cidade localizados na região central, o que garantia a animação durante todo o período carnavalesco.

A realização do Carnaval de Rua foi interrompida por alguns anos justamente pelo seu custo elevado, ao mesmo tempo em que os bailes carnavalescos deixaram de ser realizados pelos clubes, alterando profundamente a comemoração da festa de Momo.

A medida adotada pela Prefeitura teve reações. Muita gente aprovou a não realização do Carnaval, como provam as dezenas de manifestações nas redes sociais dos leitores deste jornal.

Também teve reações negativas, principalmente de pessoas ligadas a blocos e escolas de samba que aguardavam a liberação dos recursos para planejar os desfiles.

A direção da União Sorocabana das Escolas de Samba lamentou a decisão uma vez que, segundo a entidade, os membros das agremiações já vinham preparando os sambas-enredo e alegorias para o desfile de 2020. Informa que as escolas não esperavam subvenção direta do poder público, mas apoio na infraestrutura do desfile.

Como vinha ocorrendo nos últimos anos, a Secult ficava responsável pela montagem das arquibancadas e do sistema de som. No ano passado os gastos teriam ficado em torno de R$ 200 mil.

Outros membros de escolas de samba lamentaram o fato de não terem sido chamados para uma conversa pela Secult, oportunidade em que poderiam ter encontrado alternativas para viabilizar o evento.

Nada impede que as escolas de samba e os blocos busquem patrocinadores para os desfiles, que usem da criatividade para fazer um evento diferenciado, sem necessidade de uma grande estrutura para acomodar o público.

Escolas de samba dos grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo realizam festas e eventos durante todo o ano para bancar seus desfiles e não depender totalmente do poder público.

Recebem ainda direitos de imagem pela transmissão dos desfiles. Em São Paulo ganham corpo a cada ano os desfiles de blocos que reúnem milhares de pessoas em vários pontos da cidade.

O caminho para manter as tradições carnavalescas da cidade passa necessariamente por soluções criativas e inovadoras das agremiações. Só agindo de maneira independente é que será possível evitar surpresas como esta no futuro e garantir o sucesso da festa.

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