Gustavo Loiola
Hoje, são milhares de data centers espalhados pelo planeta. Eles são ambientes projetados para abrigar servidores e outros componentes como sistemas de armazenamento de dados e ativos de rede. Alguns deles têm mais de 10 mil metros quadrados e armazenam uma grande quantidade de dados que mantém, por exemplo, o Google funcionando. É engraçado pensar nisso quando hoje falamos da tal da “nuvem” que armazena os nossos dados. Tiramos uma foto? Vai para a nuvem. Postamos no Instagram? Vai para a nuvem. Netflix, Spotify, Deezer? O streaming também está na nuvem.
Essa tal de “nuvem” está em algum lugar. São espaços físicos espalhados pelo mundo inteiro feitos para armazenar informações. Para qualquer tráfego e armazenamento de dados é necessário uma grande quantidade de energia. Hoje, estima-se que tecnologias como essa, chamadas de TICs (tecnologias da comunicação e informação) são responsáveis por mais de 2% das emissões globais de carbono. No recorte até 2030, em cenários mais pessimistas, a energia usada para desenvolver e manter essas tecnologias podem corresponder a 21% da demanda de energia do planeta.
É fácil pensar nessa evolução, cada vez mais recorremos as TICs em todas as atividades do dia a dia. Estamos mais conectados e é crescente a fatia da população que passa a ter acesso à internet, smartphones e diferentes tecnologias. Tudo isso gera uma demanda maior pelos centros de dados, que consomem mais de 200 terawatts/hora por ano, quase o mesmo que a Turquia e seus 80 milhões de habitantes. A maior parte desse consumo vai para manter a temperatura desses locais, pois toda a energia consumida pelos equipamentos é transformada em calor: já observou como o seu computador esquenta depois de usar por bastante tempo?
Além do engajamento do setor público e da sociedade, algumas empresas já vêm trabalhando para mudar essa realidade. O Google é um exemplo disso. Desde 2007, a corporação se comprometeu com a neutralidade de carbono, e em 2010 firmou seu primeiro contrato de compra de energia (PPA) em alinhamento com sua meta de correspondência de 100% de seu consumo global de eletricidade — alcançada em 2017 e pretende manter à medida que a empresa cresce. Hoje, é o maior comprador corporativo de energia renovável do mundo.
Outro exemplo nesse contexto é o Facebook. Com o crescimento de sua base global de usuários e a expansão de conteúdo com alto volume de dados, como vídeos, stories e realidade virtual, a empresa vem investindo constantemente na infraestrutura dos seus data centers. A planta de Luleå, na Suécia, tem cerca de U$ 1 bilhão investidos, e por estar em uma região de clima ameno, tem maior eficiência energética — ventiladores gigantes são usados para resfriar os servidores, aproveitando a temperatura ambiente, e no inverno, com temperaturas de até -30 graus, o calor dos servidores garante o conforto térmico dos prédios.
Desde 2015, a também empresa de tecnologia Microsoft vem trabalhando com o Projeto Natick, que tem o objetivo de projetar centro de dados com mais eficiência energética. Trata-se de implementar o equipamento em águas profundas oferecendo acesso imediato ao resfriamento e a um ambiente controlado com grande potencial de ser alimentado por fontes de energia renováveis. Agora na fase 2, um novo datacenter está submerso na região de Orkney Islands, no Reino Unido, que pode ter uma emissão sem nenhum resíduo para o meio ambiente — seja devido à geração de energia, computadores ou mão de obra humana.
A Conferência das Partes sobre o Clima da ONU — COP 25, realizada entre os dias 2 e 13 de dezembro de 2019, em Madrid, na Espanha, discutiu, entre outros temas, a urgência para conter ações climáticas. Apesar de poucos acordos aprovados nos pontos essenciais, o alerta continua em relação a maneira com que nos relacionamos com o planeta. As TICs têm um papel paradoxal em tudo isso, pois ao mesmo tempo que auxiliam no desenvolvimento e no atendimento de muitas das metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, também se tornam uma grande vilã no consumo de energia. A reflexão individual é necessária, será que já conseguimos viver com menos tecnologia no dia a dia?
Gustavo Loiola é Mestre em Governança e Sustentabilidade e supervisor de Sustentabilidade e Relações Internacionais no ISAE Escola de Negócios, responsável por ações alinhadas com a Organização das Nações Unidas (ONU).
O post Você já pensou no impacto que os seus dados geram no planeta? apareceu primeiro em Jornal Cruzeiro do Sul.