Carlos Brickmann
Este é o país dos extremos: ou tem o melhor futebol do mundo, invencível, ou a torcida acha que apanha de 7×1 de qualquer time vietnamita. Economia também é assim: ou nada funciona ou vamos deslanchar já neste ano. Crise na área petroleira do Oriente Médio? Besteira — crise é coisa para os fracos. O Brasil, que já fazia excelentes previsões de desenvolvimento econômico, com crescimento do PIB que não vemos há tempos, mantendo-se a inflação em baixa, começou a refazer os cálculos, prevendo crescimento ainda maior, sem mexer na inflação prevista, e na primeira quinzena do ano!
Delfim sonhava com inflação de 12% ao ano, Dilma sonhava com um forte crescimento induzido por seu governo, Bolsonaro (ou Guedes) sonha com um PIB que, do quase zero, acelera como um Fórmula 1 e em poucos segundos assume a ponta da corrida. Tudo bem, pode acontecer — no Brasil isso aconteceu com Emerson, Piquet e Senna. Só.
O problema é que quando acontece é ótimo, mas quando não acontece é terrível. Se a previsão de alta do PIB é de 2,5 e vai a 2,7, a economia ganha fôlego e pode crescer ainda mais. Mas, se a previsão é de 2,5 e dá menos do que isso, o pessimismo domina a economia e tudo desaba, o consumo e os investimentos. O pessimismo é uma profecia auto-realizável. E, ao mesmo tempo, é consequência que não pode ser evitada quando falham as profecias otimistas e aquele magnífico drive econômico vira apenas uma freada.
As boas notícias
A inflação brasileira está baixa, o agronegócio exporta bem, a queda dos juros pode permitir que a indústria, massacrada nos últimos anos, volte a se desenvolver. No mercado internacional, a situação é boa: Estados Unidos e China assinam seu pacto comercial, que põe fim à guerra comercial entre as duas maiores potências econômicas do mundo. Os EUA decidiram suspender o título da China de “maior manipuladora cambial” do mercado — o que significa que as intenções americanas de paz comercial são para valer. As bolsas de lá estão subindo. Claro que o mundo é um moinho e o Irã, hoje quieto, pode se sentir tentado a incomodar os americanos. Já os americanos, hoje quietos, pensam em novas sanções econômicas ao Irã. Em suma, tudo está bem enquanto estiver bem. É o que mantém o Brasil bem.
A política é a política
Quem acreditava que os políticos iriam tomar providências que limitassem sua boa vida está na hora de voltar à velha sabedoria popular: “Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é bobo ou não entende da arte”. E ninguém, imaginemos, terá a coragem de acusar nossos políticos de bobos, ou de não entender da nobre arte de cobrir-se de benefícios. Portanto, nada de surpresa com a decisão que vem sendo encaminhada pela Câmara sobre o fim do foro privilegiado. Suas Excelências foram buscar no Senado uma emenda constitucional já aprovada sobre prerrogativa de foro, prevendo que só seriam beneficiados os presidentes do Executivo, Legislativo e Judiciário e o vice-presidente da República. Ninguém mais escaparia dos magistrados de primeira instância. Mas abolir privilégios sem aboli-los é uma arte. Os juízes de primeiro grau não poderiam determinar que políticos fossem preventivamente presos, ou vítimas de ordens de busca e apreensão, quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico. Isso ficaria para os tribunais, o segundo grau, se o caso até lá chegasse, se os parlamentares não fossem perdoados por sua avançada idade.
A verdade como ela é
Na segunda, dia 20, sai o livro “Tormenta o Governo Bolsonaro”, da boa jornalista Thaís Oyama, em edição muito bem cuidada da Editora Contexto. Thaís conta detalhes da difícil relação entre o presidente Bolsonaro e o 02, seu filho Carluxo, as brigas que tiveram — por exemplo, Carluxo quis nomear para um bom cargo público seu primo Leo Índio, que o general Santos Cruz rejeitou (mais tarde, Carluxo torpedeou o general Santos Cruz e conseguiu fazer com que fosse demitido). Thaís conta que Bolsonaro quis demitir Moro e foi convencido a desistir pelo general Augusto Heleno; e dá a história, com todos os detalhes, de como Toffoli, sempre petista, e Bolsonaro, que fez campanha contra o PT, foram transformados pelo caso Queiroz em amigos desde criancinhas. O livro foi feito com cuidado por uma jornalista de peso (Thaís é editora-chefe de Veja desde 1999) e editado pela Contexto, do professor universitário Jaime Pinsky, uma das empresas mais conceituadas do setor. Vale a leitura. Detalhe: não é contra nem a favor de Bolsonaro.
Carlos Brickmann é jornalista. E-mail: [email protected]
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