Os problemas estruturais e de sinalização da Estrada Parque Taguatinga (EPTG) são apontados como as principais causas das frequentes colisões. Apenas nos primeiros três dias de 2012, a pista registrou uma morte e três acidentes. O mais recente ocorreu ontem no sentido Plano Piloto—Taguatinga, na bifurcação da entrada do Guará, um dos vários gargalos da estrada. Para resolver a questão, o governador Agnelo Queiroz se reuniu ontem com integrantes do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e da Secretaria de Obras, órgãos envolvidos na construção da via, e determinou que fossem tomadas providências urgentes para deixá-la mais segura.
Agnelo Queiroz pediu que se convoquem as empresas executoras das intervenções na EPTG para corrigir falhas. “Essa obra foi mal planejada, mal executada e mal supervisionada pelos gestores do governo responsáveis por ela, na época em que foi realizada. As providências devem ser tomadas para garantir a segurança da população que trafega diariamente pela EPTG”, declarou Agnelo ao Correio.
Por pouco, a motorista do Peugeot 207 Marianny Leite Gurgel, 52 anos, e o tio Roberto Lopes Leite, 54, não entraram ontem para as estatísticas de óbitos da via. Às 10h, o carro rodou na pista, atingiu um poste, uma placa e um táxi e ficou virado. A condutora foi levada para um hospital particular com escoriações leves. O passageiro saiu ileso. Ele disse não ter visto o acidente porque estava lendo um jornal, mas contou que a sobrinha afirmou ter levado uma fechada.
O taxista Francisco Hélio Oliveira, 47 anos, conduzia o outro carro envolvido na colisão, um Corsa, e contou uma versão diferente. Ele afirmou que seguia para Águas Claras pela faixa de rolamento do meio da EPTG, quando foi surpreendido pelo carro de Marianny, vindo do lado esquerdo. “De repente, ela viu que tinha de virar à direita para entrar no Guará e cortou a pista. Isso ocorreu por falta sinalização. A EPTG é um via assassina”, afirmou.
O trecho é um dos vários gargalos da rodovia, segundo especialistas. A bifurcação confunde os motoristas que querem acessar o Guará e o Setor Habitacional Lucio Costa ou Águas Claras e Taguatinga. “A sinalização é muito mal feita e obriga o motorista a decidir em cima da hora. Com isso, ele faz manobras bruscas e corre um maior risco de se envolver em um acidente”, explicou o presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito, David Duarte.
Correção
Em pleno período de férias, o fluxo diário de automóveis na via cai de 140 mil para 90 mil. Apesar da redução de 35%, as colisões não diminuem na mesma proporção. No último domingo, o médico Vitor Hugo Morato Moura, 30 anos, se tornou a primeira vítima da EPTG em 2011 (leia Memória). Ele morreu depois de o carro que dirigia deslizar em uma poça d’água e ser atingido por outro automóvel. No dia seguinte, no mesmo ponto, a Tucson guiada pela administradora Meirili Sampaio, 34 anos, se desgovernou, quase acertou um poste e parou no canteiro central. A motorista não se feriu.
Inaugurada em outubro de 2010 pelo então governador Rogério Rosso, a pista apresenta falhas ao longo dos 12,7km de extensão. “A EPTG está cheia de armadilhas. É um risco de acidente instalado pelo poder público. Há vários pontos em que a sinalização é deficiente. Os problemas de drenagem acumulam água e jogam cascalho no asfalto”, acrescentou Flavio Dias, especialista em transportes e pesquisador do Centro Interdisciplinar de Estudos em Transportes (Ceftru), da Universidade de Brasília (UnB).
O diretor-geral do DER, Fauzi Nacfur, afirmou que haverá hoje uma reunião entre os órgãos do GDF e as companhias responsáveis pelo projeto e pela construção da EPTG. Segundo ele, as empresas são responsáveis pela obra pelo período de cinco anos. Nacfur afirmou que a licitação para a drenagem da via está em fase de homologação, e o serviço deve começar até fevereiro. Ele admitiu, no entanto, que não há sinalização em pontos como a entrada do Guará, onde houve o acidente de ontem. Mas acrescentou que a empresa licitada para o serviço está confeccionando e instalando as placas e só não deu início à sinalização horizontal por conta das chuvas.
Por meio de nota, o secretário de Transportes, José Vazquez, informou que não está descartado o aumento do número de pardais eletrônicos na EPTG, além da permanência de carros oficiais para monitorar as condições de tráfego e de segurança. Diante de tantos problemas, a via registrou elevados índices de tragédias. Os dados do Departamento de Trânsito (Detran) mostram que, até setembro de 2011, 12 pessoas morreram na rodovia. Com um atropelamento registrado em outubro, subiu para pelo menos 13 o número de óbitos no local. Ao longo de 2010, houve 14 acidentes fatais.
Acidentes de ano-novo
Os acidentes fatais nas rodovias federais aumentaram no fim de ano. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), 14 pessoas morreram em 187 acidentes ocorridos nas estradas entre 16 de dezembro de 2011 e a última segunda-feira. No mesmo período, entre 2010 e o ano passado, houve 168 colisões, com 11 óbitos. Segundo o chefe do 1º Distrito Rodoviário da PRF, inspetor Carlos Dantas, os dados se referem aos acidentes ocorridos no DF e em alguns trechos de Goiás e de Minas Gerais.