Bisneto do Visconde de Taunay lança livro após difíceis experiências

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    Felipe Menezes/Metrópoles

    Para o diplomata Raul de Taunay, de 68 anos, o amor pela arte vem de família. O poeta, com oito livros publicados, é bisneto do Visconde de Taunay e está lançando a nona coletânea de poesias: “Poemas do Desabrigo”.  A obra é lançada nesta quinta-feira (27/4), às 19h30, na Embaixada da Índia (Quadra 805 do Setor de Embaixadas Sul).

    O DNA artístico da família vem de longa data. Tudo começou com Nicolas-Antoine Taunay, que fez parte da Missão Francesa de 1816, quando os primeiros artistas europeus chegaram ao Brasil. “Ele aprendeu o ofício (de pintor) com Jacques Louis-David e foi professor de (Jean-Baptiste) Debret, que documentou os costumes do país”, explica o escritor.

    A linhagem artística não parou por aí. Um dos filhos de Nicolas, Felix-Emile Taunay, tornou-se filósofo e atuou como professor do Imperador Dom Pedro II. Felix, então, teve como herdeiro Alfredo Maria Adriano d’Escragnolle, que viria a ser o Visconde de Taunay, importante escritor do século 19, autor de “Inocência”, uma das principais obras do do romantismo brasileiro.

    Porém, Raul divide sua inspiração romântica com seu lado aventureiro no livro “Poemas do Desabrigo”. “(A obra) leva esse nome porque boa parte dos poemas foram escritos enquanto eu estava em locais inóspitos, insalubres”, conta o autor.

    Mais do que trazer aspectos da realidade, a poesia deve ser referência do que há de mais belo na linguagem. A palavra tem um poder extraordinário

    Raul de Taunay

    Como diplomata, Raul de Taunay já serviu em países como França, Espanha, Angola, Moçambique e Coreia do Norte. Atualmente, o escritor está lotado na embaixada da República Democrática do Congo, na África. “Não é incomum eu estar em regiões sem acesso à internet e cheias de conflitos”, diz.

    Apesar de ter nascido em Paris (França) por conta das missões diplomáticas de seu pai, Raul de Taunay se sente brasileiro por completo. Aos cinco anos se mudou para o Brasil e só saiu para morar fora por conta do trabalho. “Toda vez que volto ao nosso país me sinto bem. Adoro esse lugar”, relata.

    Ao todo, 20 de seus anos foram vividos em Brasília. Sua experiência pela cidade foi documentada (poeticamente, é claro) no livro “Urbe Extrema – Versos Brasilienses” (2012). Também é possível encontrar dois textos do livro “Poemas ao Desabrigo” escritos enquanto o autor estava na capital: “Lamentares” e “Pé no Chão”. Confira, na íntegra, o primeiro:

    Lamentares

    O tempo passou
    E eu não consegui mudar
    O que no fundo sou:

    Uma ventania
    Que venta sozinha,
    Um deserto oco
    Que não silencia,
    A desolação tardia
    Que esconde na rima,
    O acre amargoso
    Da vida contida.

    Quisera encontrar os anjos,
    Ouvir que o meu caso
    Não é exclusivo.
    Escutar que há outros
    Em busca de abrigo.
    Saber que enquanto
    Uns morrem sofridos,
    Nas torres de vidro
    Se vive escondido.

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