Jukebox Sentimental: relembre Alice Cooper e seu teatro de horrores

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    O pai e o avô eram pastores da Igreja de Jesus Cristo. Ele também deveria ser um homem de fé, mas resolveu seguir caminho oposto, ou seja, virar cantor de rock, trilhando o lado mais sombrio e “sujo” do gênero. No início dos anos 1970, transformou-se em um dos maiores astros da música com mais de 50 milhões de discos vendidos. Seu nome? Vince Furnier. Ei, mas espera aí!? Quem?

    Para milhares de fãs no mundo todo, simplesmente, Alice Cooper – alcunha emprestada de uma bruxa queimada na fogueira em vidas passadas. “Nossa, parece nome de uma velhinha que faz biscoitos para todos da rua, mas tem vários corpos enterrados no porão”, comentou o jovem Vince, logo depois de consultar o ouija, aquele tabuleiro usado por místicos para falar com os mortos.

    Essas e outras histórias surreais podem ser conferidas no documentário “Super Duper Alice Cooper” (2014), aberto para não assinantes, gratuitamente, até as vésperas do Halloween, no Bis Play. Isso claro, se você não tiver medo de feiticeiras, cobras e outras bizarrices do lado escuro da vida.

    Produção canadense assinada pelo trio Sam Dunn, Scot McFadyen e Reginald Harkema, o documentário, com sua narrativa descolada, é raro no Brasil. Mistura cenas de filmes antigos de terror com cenas de outras raridades toscas do gênero e imagens antológicas das performances do artista.

    Depoimentos dos ex-integrantes da banda de Alice e de astros fãs do artista, como Iggy Pop (parceiro de golf), Elton John e John Lyndon (ex-Pistols), recheiam a fita que mostra a ascensão desse filho ao estrelato, como a persona diabólica que criou se transformou numa espécie de ícone da cultura norte-americana, o vício em drogas que quase acabou com sua carreira e o casamento.

    Eu estava indo à loucura com aquela persona

    Alice Cooper

    O teatro do horror na música
    Nascido em Detroit, em 1948, Vince Fernier tinha tudo para ser um típico filho de religiosos “normais”, até o dia em que ouviu os Beatles. Mais tarde, a paixão por Salvador Dalí e o surrealismo acentuou seu gosto pelo grotesco. O que já dava para notar no primeiro nome da banda que montaria em meados dos anos 1960, The Spiders. Mas a cena musical em sua cidade natal estava saturada e o grupo rumou para Los Angeles.

    Lá, ao se deparar com o doido de pedra Frank Zappa, um dos artistas mais experimentais do rock, conseguiu gravar o primeiro álbum, “Pretties For You” (1969), rotulado pelo lendário crítico musical Lester Bangs, como um “desperdício de plástico”. O visual pesado da banda tinha soturnas maquiagens e figurinos extravagantes.

    Ao se juntar a Bob Ezrin, então um jovem talentoso produtor canadense, o artista se tornaria um ícone internacional. O primeiro sucesso dessa parceria seria a jovial “I’m Eighteen”. “Da noite para o dia passamos a andar de avião e beber cerveja o tempo todo”, lembra Cooper em “Super Duper”.

    Foi com esse hit e os clássicos “I Love The Dead”, “Killer”, “Hello Hooray!”, “Elected”, “Billion Dollar Babies”, “School’s Out” e outros, que Cooper e banda desembarcaram no Brasil em março de 1974, em plena ditadura militar. Quase 160 mil jovens ensandecidos foram vê-lo no Salão de Exposições do Anhembi. A turnê ainda contava no roteiro o Rio de Janeiro.

    “Foi uma das coisas mais maravilhosas da minha carreira. Não esperávamos tanta gente. Teve até um pessoal que veio me procurar pensando que eu fazia macumba”, lembraria o pai do glam rock.

    Uma das pessoas presentes naquele show de estreia no Anhembi foi a roqueira Rita Lee, para conferir o tal teatro dos horrores com guilhotinas, forca, cadeira elétrica e bonecos decapitados. Em sua autobiografia lançada recentemente, a eterna mutante conta ainda que roubou uma das jiboias usadas pelo artistas em suas atuações macabras.

     

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