Crítica: Ilha dos Cachorros mostra revolução canina em mundo distópico

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    Quase dez anos após O Fantástico Sr. Raposo (2009), adaptação do livro de Roald Dahl, Wes Anderson dirige, escreve e produz Ilha dos Cachorros, sua nova animação em stop-motion. Trata-se de uma distopia canina em que os cães, renegados pelo clã milenar entusiasta de gatos que controla o Japão, são despejados em uma ilha utilizada como depósito de lixo da metrópole de Megasaki.

    Sob a tutela do prefeito Kobayashi (Kunichi Nomura), o garotinho Atari (Koyu Rankin) vê seu cãozinho, Spots (Liev Schreiber), ser a primeira vítima do expurgo. Todos os cachorros, domesticados e vira-latas, agora vivem em condições precárias na ilha – há até casos de suicídio e surto de canibalismo.

    Tal situação faz com que Atari abandone o conforto da metrópole e vá em busca do seu pet. Uma vez na ilha, ele encontra uma matilha de animais revoltados que o ajudará a encontrá-lo. Quem lidera o grupo de revolucionários é o indomesticável Chief (Bryan Cranston).

    Mui habilidoso na caracterização dos personagens – a ambientação parece evocar uma ficção científica pós-industrial com tons orwellianos de A Revolução dos Bichos –, Anderson consegue aplicar seu cinema de atores à animação quase que sem filtros.

    Os incontáveis detalhes de cena, somados aos posicionamentos de câmera tipicamente frontais e geometricamente estabelecidos, carregam um ar de estranheza que permeia todo o filme. Sem falar na própria condução da narrativa – é um filme para cachorros com tradução em inglês; os humanos falam japonês, sem legendas – e nas soluções criativas – sequências de briga lembram o visual de HQs.

    A própria carga distópica, porém, parece ser um elemento limitador para a fabulação em Ilha dos Cachorros. No fim das contas, a alegorização depende de lugares-comuns de roteiro – os cães lutam contra o extermínio até o último segundo da trama – e de uma já esperada humanização das relações entre os bichos – eles querem liberdade de pensamento e condições de começar uma família.

    Apesar de vacilar na segunda metade, Ilha dos Cachorros sustenta leveza e crueza numa rara animação para adultos que chega aos cinemas.

    Avaliação: Bom

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