Diretor de Cidadão Kane (1941), Orson Welles dizia que a sétima arte não tem fronteiras, nem limites. “É um fluxo constante de sonhos”, afirmou o cineasta. Mais de 70 anos depois, a frase simples ainda reverbera, inspira e sintetiza o Espalhando Cinema — projeto idealizado pelo brasiliense Leonardo Resende, no qual o jornalista passeia pelo Distrito Federal colando cartazes com citações cinematográficas. O objetivo: oferecer conforto e motivação para as pessoas suportarem as dificuldades do dia a dia com um pouco mais de poesia.
Apesar de a iniciativa ser recente, Leonardo já conseguiu espalhar mais de 60 cartazes pela cidade. As frases incentivam reflexões sobre vários temas como liberdade, amor, paciência e, como não poderia faltar no centro político do país, indiretas para quem está no poder. “Liberdade, igualdade e justiça são mais do que palavras, são perspectivas”, diz o pôster do filme V de Vingança, colado em frente ao Congresso Nacional.
Outro verso do mesmo filme de James McTeigue – “O medo se tornou a principal arma deste governo”–, está em frente ao Palácio do Buriti. “Os filmes podem nos ensinar de várias maneiras, nos faz refletir”, ressalta Resende.
Sucesso de bilheteria, Pantera Negra é utilizado para retratar a situação política do Brasil. “Em tempos de crise, os sábios constroem pontes, enquanto os tolos erguem muros”, afirma o lambe-lambe fixado em frente à Torre de TV.

“A paixão pelos filmes me fez uma pessoa extremamente otimista e visual, querendo enxergar cinema nas ruas e nas pessoas”, conta Leonardo Resende
A atitude de Leonardo tem arrancado elogios de quem esbarra pelos cartazes. “As pessoas costumam marcar o perfil do Espalhando Cinema no Instagram em seus stories”. De acordo com ele, a maneira como os dizeres resgatam memórias afetivas das pessoas é o que mais o emociona.



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Homofobia
Mas nem tudo são flores, de todos os cartazes colados, os que fazem referência à produção Me Chame Pelo Seu Nome são, recorrentemente, arrancados. “Como você vive sua vida é da sua conta. Só se lembre: nossos corações e nossos corpos nos são dados uma única vez”, ensina o pôster que ainda resiste no Conic.
Para o idealizador do projeto, a ação é fruto da homofobia, já que a obra – ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, em 2018 – trata da relação homoafetiva de dois homens, com uma grande diferença de idade.
Segundo Leonardo, esse comportamento alheio não o assusta, mas entristece. “Escolher uma frase inspiradora, montar o cartaz, confeccionar a goma e sair colando por aí demanda tempo e trabalho. Ter esse empenho desmerecido decepciona”, destaca.
O brasiliense acredita estar fazendo a sua parte para diminuir a discriminação. “São pequenas atitudes para ajudar o movimento LGBT. Com certeza, colarei novamente onde descartaram, vou insistir até perceberem que dali não saio”, garante.

































