O novo Halloween, dirigido por David Gordon Green, espelha o original, lançado em 1978, ao se colocar como sequência direta do filme feito 40 anos atrás. Mas isso vai muito além de uma mera uma ideia de filiação a uma das obras definidoras do slasher, o tão adorado e popular subgênero de terror. Essa conexão transborda para dentro da própria narrativa, do começo ao fim.
Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) sobreviveu ao stalker assassino Michael Myers naquela noite de Halloween de 1978. Passou as quatro décadas seguintes se preparando a mínima possibilidade de perigo.
Aprendeu a atirar e montou um arsenal de armas. Transformou seu refúgio, uma casa no campo, em uma espécie de bunker. Em perigo, a brava ex-babá pode acionar gaiolas para isolar ambientes. Uma passagem secreta para o porão revela mais uma camada de proteção em seu lar.
Crítica: novo Halloween é terror sobre trauma vivido em família

Crítica: novo Halloween é terror sobre trauma vivido em família
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Laurie Strode (Jamie Lee Curtis): preparada para reencontrar Michael Myers Universal Pictures/Divulgação

Laurie e Karen (Judy Greer), mãe e filha: dor compartilhada Universal Pictures/Divulgação

O retorno de Myers à cidade de Haddonfield: longa ignora todas as nova sequências de Halloween (1978) Universal Pictures/Divulgação
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Assassino mascarado, sem face e voz: novo filme não abre mão das características originais de Myers Universal Pictures/Divulgação

Sanguinolência à vista: novo Halloween não economiza na violência para mostrar rastro deixado por Myers em sua jornada para reencontrar Laurie Strode Universal Pictures/Divulgação
Como aprendemos em 1978, Myers, ainda criança, matou a irmã em 1963 e fugiu da cadeia nos anos 1970 para perseguir jovens em Haddonfield, Illinois. Em 2018, adivinha? Uma nova escapada no dia do Halloween. Um reencontro está por vir entre Laurie, antes presa e agora caçadora, e o assassino mascarado e silencioso, cuja face jamais vemos, cuja “voz” só ouvimos em sua respiração sussurrada.
As pistas visuais de que Laurie quer um revival surgem por toda parte. O que serviu para identificar a presença de Myers em 1978 agora antecipa atitudes de uma mulher em busca de se livrar do trauma passado. No clímax, cai no quintal, mas desaparece no plano seguinte. Noutra cena, aparece subitamente de um canto escuro para confrontar seu atacante.
Apesar da constante e talvez excessiva reverência ao original – o que pode significar mais um êxito do que uma falha para quem é fã de John Carpenter, diretor do original e hoje compositor da trilha e produtor executivo –, Gordon Green traz algum frescor ao coletivizar o trauma de Laurie. Desta vez, ela não luta sozinha, mas em família.
A criação sufocante, voltada para a autodefesa e desconfiança do outro, provocou marcas em Karen (Judy Greer), sua filha única. A mãe projetou nela “paranoias e neuroses”, como a própria filha adulta explica. A neta de Laurie, Allyson (Andi Matichak), sugere uma conexão mais amistosa com a avó.
De certa maneira, a volta de Myers, por mais virulenta que pareça, inspira um sentimento de dor compartilhada nas três.
Entre o segundo e terceiro atos, Gordon Green perde tempo precioso com coadjuvantes absolutamente descartáveis – eles fazem parte do universo Halloween, mas mereciam mais capricho –, como o Dr. Sartain (Haluk Bilginer) e os policiais sempre incapazes de sequer atrasar o indestrutível serial killer.
O cineasta, conhecido por transitar entre gêneros diversos no cinema indie, da comédia ao recente drama O que Te Faz Mais Forte, “arruma a casa” ao evocar o desfecho de outro slasher primordial, O Massacre da Serra Elétrica (1974), assinado por Tobe Hooper. Em vez de uma moça exibindo expressão horrorizada na traseira de uma picape, vemos Laurie, Karen e Allyson juntas, com um misto de alívio e serenidade.
Avaliação: Bom