Crítica: Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald não decola

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    Uma crítica recorrente à franquia Harry Potter (2001–2011) eram os roteiros desestruturados, compreensíveis somente aos leitores das obras de J. K. Rowling. Se a série original padecia desse problema, Animais Fantásticos, agora em seu segundo filme, Os Crimes de Grindelwald, exige esforço ainda maior: para entender o que se passa nesse longa, é preciso habitar a cabeça da autora, quem assina o roteiro da produção.

    Atenção: esta crítica pode conter alguns spoilers do filme!

    Os problemas de inconsistência da história e dos passes de mágica mal explicados não são novidade em Animais Fantásticos. O primeiro filme apresentou essas falhas, mas ainda tinha algum encanto. A continuação – o segundo de cinco longas previstos – tem sequências de ação absolutamente confusas, objetos mágicos importantes cujas funções não são explicadas na trama e até mesmo uma chave de portal com funcionamento bem diferente do mostrado na franquia Harry Potter.

    Enquanto Rowling falha com um roteiro confuso que leva do nada a lugar nenhum, David Yates apresenta uma direção morosa e absolutamente sem graça. Esqueça os movimentos de câmera dinâmicos – vistos pela primeira vez em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004) – e os cenários vivos, com um mundo mágico acontecendo no segundo plano. A melhor perspectiva desse novo longa é notar, no plano de fundo, uma pena que escreve, sozinha, na mesma linha de um livro por toda a duração de um longo diálogo. Como um GIF.

    O saudosismo da franquia Harry Potter, é claro, tem seu lugar, das referências mais diretas – como a participação de Nicolau Flamel (Brontis Jodorowsky) e o literal retorno a Hogwarts – até mesmo as mais mascaradas – como o porão de Newt Scamander (Eddie Redmayne), que lembra as escadarias da escola inglesa; ou a fuga do Ministério da Magia francês, uma clara referência ao momento em que Harry, Ron e Hermione escapam de Gringotes no último filme da saga original.

    Se Os Crimes de Grindelwald brilha, é pelos momentos quando revisitamos a franquia que conquistou toda uma geração. O novo longa é tão sem graça quanto os figurinos escolhidos para os bruxos dos loucos anos 1920 – mais cinzentos, impossível. E, para quem ainda tem dúvidas quanto à falta de criatividade acachapante que se instalou sobre esse universo, fica a reflexão sobre o último (e pavoroso) diálogo do filme: será mesmo necessário criar parentescos estapafúrdios para tornar novos personagens mais interessantes?

    Avaliação: Regular

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