Após demissão, Santos Cruz diz que governo tem “fumaceira danada”

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    Sete dias após uma abrupta demissão, o ex-secretário de Governo da Presidência general Carlos Alberto dos Santos Cruz comentou sua saída da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Em entrevista à revista Época, publicada nesta quinta-feira (20/06/2019), o general é categórico: “Não falei mais com ele (Bolsonaro) depois disso”, pontua.

    Nem as quatro décadas de amizade foram suficiente para explicar os motivos da demissão. “Ele resolveu me substituir por alguma razão que é ele que tem de dizer, tem de ser perguntada para ele. Se tivesse pedido demissão, diria a razão. Como foi ele que demitiu, tem de perguntar para ele. Mas é uma prerrogativa do presidente”, comenta.

    Santos Cruz dá a entender que não está chateado com o presidente. “Substituir ministro é uma coisa normal, não é coisa excepcional. Não perguntei o porquê para facilitar as coisas. A partir da hora que decidiu, não vou ficar gastando tempo para discutir o porquê. É mais uma obrigação da pessoa explicar. Não é só direito meu saber, como também é obrigação da pessoa explicar. Ele não explicou”, acrescenta.

    O general foi nomeado por Bolsonaro para comandar a Secretaria de Governo da Presidência em 1º de janeiro, mas fora escolhido dias depois do segundo turno das eleições, em outubro passado. Ele acredita que a amizade longeva motivou o convite. “Acredito que tenha sido pela ligação que eu tinha com ele”, contou. “Conheço Bolsonaro desde os 20 e poucos anos de idade, praticávamos esportes juntos”, destaca.

    Questionado sobre os fatos que precederam sua saída do primeiro escalão, o general comentou que não era o momento de falar — mas que isso talvez mudasse no futuro. Ele não quis “entrar em detalhes”. “Tem de saber, nesta vida, a hora em que fala e a hora em que não fala”, disse. “Calar a boca, às vezes, é muito importante. Se muita gente aí ficasse de boca fechada, ajudaria muito. Por isso, estou quieto”, avalia.
    Ele emendou. “Claro que tenho algumas impressões pessoais. Fico com elas por enquanto. Não é o caso de exprimi-las. Isso não ajuda, só atrapalha. Tenho minhas ideias, imagino alguma coisa, mas não vou falar nada. Imaginar coisas é criar tumulto. Sou um cara muito preto no branco. Aquilo que desconfio pode não ser verdade. Aquilo que imagino pode não ser verdade. A pessoa tem de saber que aquilo que ela pensa pode ser verdade ou não. Quanto menos fumaceira você fizer, melhor para enxergar a realidade.”
    Sem mencionar nomes, Santos Cruz provocou: “Você vê a quantidade de especulações que existe? Até as coisas boas do governo não aparecem porque é uma fumaceira danada. É tanto tiroteio bobo que você acaba não escutando a música. Não é característica minha, por exemplo, ficar fuçando em Twitter”, disse. “Tem gente que passa o dia inteiro nisso aí. Eu não tenho essa característica. Meu desejo é que o governo dê certo”, continuou.
    O militar defende uma reorganização no governo.  “Ficar discutindo bobagem em vez de colocar o foco sobre as coisas boas que cada ministério está fazendo. Estamos com seis meses de governo, e quais são as principais conversas? As pessoas vêm me perguntar do filósofo, do Twitter do outro que xingou o outro … Espere aí, não é?”, reclama.

    O general explica. “Estou dizendo que tem de aproveitar essa oportunidade para tirar a fumaça da frente para o público enxergar as coisas boas, e não uma fofocagem desgraçada. Se você fizer uma análise das bobagens que se têm vivido, é um negócio impressionante. É um show de besteiras. Isso tira o foco daquilo que é importante. Tem muita besteira. Tem muita coisa importante que acaba não aparecendo porque todo dia tem uma bobagem ou outra para distrair a população, tirando a atenção das coisas importantes”, completa.

    Sobre a até então longeva amizade com Bolsonaro, Santos Cruz acredita que as coisas não serão como antes. “Não tem nem chance de cultivar essa amizade”, disse, creditando o motivo da fala à lógica. “Ele está no governo como presidente da República. Não tem nem oportunidade de que isso seja cultivado porque a pessoa está em outras atribuições que tomam muito a vida da pessoa. Deixa governar. Tomara que dê tudo certo.”
    Santos Cruz afastou qualquer hipótese de desavença: “Para mim, ele continua sendo a mesma pessoa. Não estamos aqui falando de uma briga pessoal, e sim de uma substituição funcional”. Se encontrar o presidente, o general disse, não vai tocar no assunto da demissão. “Sobre isso, jamais”, afirmou. “De jeito nenhum.”

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