Coluna Ângulo Aberto o Ensino Rural no DF

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O ENSINO RURAL NO DF

Salin Siddartha

A escolaridade afeta positivamente a renda dos agricultores familiares – tome-se como exemplo que, na horticultura familiar do Distrito Federal, na qual 50% dos horticultores possuem apenas 4 anos de escolaridade, cada ano adicional de estudo se reflete em um aumento de 7,1% na renda média. A política educacional do Distrito Federal não pode ignorar a necessidade de um projeto específico para a escola rural, voltada para os valores e os anseios do campo, em que os jovens e as crianças se reportem ao contexto deles, vinculando a educação escolar às questões sociais inerentes à cultura do campo.

Uma escola do campo é a que defende os interesses e a economia da agricultura, que constrói conhecimentos na direção do desenvolvimento social e econômico dessa população. Com tal objetivo, é preciso articular os sujeitos do campo e suas práticas educativas, mas sem criar formas de relação que burocratizem a ação.

A educação do campo deve defender a cultura camponesa, sem a visão determinista histórico-geográfica de que a escola urbana seja superior à escola rural. A educação básica do campo precisa ser um projeto pedagógico da sociedade civil para intervir na educação do DF – um projeto vinculado aos sonhos da população camponesa para cultivar a identidade do morador do campo. Destarte, deve preocupar-se com as demandas provenientes do universo rural para atender escolas rurais, que são isoladas com pedagogias que não respeitam o universo simbólico dos camponeses. Nesse aspecto, o desrespeito à cultura local não é específico do ensino rural praticado no DF: é generalizado também em todas as escolas urbanas. Caso exemplar e nada à parte, a

História do Planalto Central e do Centro-Oeste brasileiro não é ensinada em nossas escolas porque não consta no currículo delas e pelo simples motivo de que os livros didáticos, produzidos que são, em sua maioria, no eixo Rio-São Paulo, também não a revelam, assim como não abordam a Geografia, Arte, Literatura nem a Biologia da Região, em razão de se submeterem às exigências do mercado e à economia de escala, embora esses livros didáticos sejam aqui adotados.

Os livros de Biologia que são utilizados pelos nossos alunos nas escolas rurais do Distrito Federal e de todo Centro-Oeste não dedicam mais do que três ou quatro páginas a respeito do Cerrado, apesar de este ser o segundo maior bioma da Nação. Os livros de História discorrem sobre as pinturas rupestres de Lascaux, na França, e Altamira, na Espanha, entrementes nada dizem sobre as pinturas e gravuras em pedra encontradas no sítio arqueológico de Bisnau ou da Toca da Onça, no Município de Formosa-GO. Ao discorrerem a respeito do Tratado de Tordesilhas, os livros didáticos omitem que ele atravessava o Estado de Goiás por cima de Cocalzinho, a menos de 100 quilômetros do Setor Comercial Sul. Narram a economia açucareira de Pernambuco e da Bahia, porém não se referem à fabricação de açúcar na Fazenda Babilônia, em Pirenópolis-GO (patrimônio histórico tombado e aberto à visitação para as escolas, e que está a cerca de 150 quilômetros da Estação Rodoviária do Plano Piloto).

Não citam as técnicas de caça, pesca, da produção da cera, do mel, do plantio da mandioca e outros cultivos a nós ensinados pelos indígenas que habitaram, e muitos ainda habitam, nossas localidades. Narram sobre o Quilombo dos Palmares, contudo se esquivam de falar do Povoado de Mesquita, remanescente histórico de escravos rebelados, na Cidade Ocidental, ou sobre os Kalungas, de Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros – o primeiro, situado a menos de 50 quilômetros, o segundo, a pouco mais de 300 quilômetros da Rodoviária.

Por sua vez, a implantação do ensino a distância para o setor agropecuário, por intermédio de parcerias do Governo do Distrito Federal com a Embrapa, o Sistema Nacional de Aprendizagem Rural e a UnB, pode ensinar Administração Rural a donos de propriedades em regime de economia familiar, e todo o processo de aprendizagem pode ser realizado pela Internet, sem necessidade de encontros presenciais nem remessa de material pelo correio. O GDF também pode desenvolver ferramentas de ensino acompanhadas de “pen drive” ou CD-ROM interativo que contenham recursos de textos, imagens, sons e vídeos referentes ao conteúdo e explicações dos cursos.

É uma questão de vontade política do Governo.

Cruzeiro-DF, 15 de setembro de 2019

SALIN SIDDARTHA

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