A adesão ao isolamento social em Sorocaba continua caindo. Nesta semana, a cidade registrou os índices mais baixos desde o lançamento do decreto municipal que instituiu a quarentena, em 23 de março. Ao longo de dez dias, a taxa de adesão caiu 13 pontos e o número de infectados subiu 80%, totalizando 188 casos até esta quinta-feira (7).
O pior percentual foi marcado na segunda-feira, dia 4, quando apenas 43% da população permaneceu em suas residências. Nos dois dias seguintes, terça e quarta-feira, o número chegou a 44%. Os dados foram divulgados ontem pelo Sistema de Monitoramento Inteligente do Governo de São Paulo (SMISP).
No lançamento do decreto, em 23 de março, 49% da população tinha aderido à quarentena. O maior índice foi registrado em finais de semana, consecutivamente nos domingos 12, 19 e 26 de abril, com 57%. No último pico de isolamento, a cidade tinha 104 casos do novo coronavírus.
Reflexo
O médico infectologista e professor do curso de medicina da PUC São Paulo, Carlos Alberto Lazar, explica que o relaxamento no isolamento por parte da população já teve reflexo no aumento no número de casos confirmados do novo coronavírus. “A única forma de evitar a contaminação é o isolamento social. Se ele cai abaixo de 50%, como é nosso caso agora, aumenta o número de casos, de internações, da necessidade de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e provavelmente do número de óbitos”, analisa o especialista.
Lazar destaca ainda que o aumento no número de infectados pelo Sar-Cov-2 no interior tem preocupado os especialistas, por conta de um possível surto da doença na nossa região, o que poderia ser evitado se mais pessoas aderissem à medida preventiva. “Às vezes é muito difícil aderir, por questões econômicas e de trabalho, mas o ideal seria fazer o isolamento de uma maneira mais intensa, mais de 50% e em direção aos 70%” diz o médico.
A Prefeitura de Sorocaba informou que vem tomando medidas restritivas no combate a pandemia para aumentar o engajamento ao isolamento, entre elas a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais públicos. O Executivo destacou que a adesão ao isolamento social “também parte de consciência e responsabilidade de cada cidadão”.
Comparativos
Ainda segundo o mapeamento feito pelo SMISP, as taxas de adesão de isolamento social na cidade são inferiores às do Estado de São Paulo e da capital paulista, ambas com 47% no último dia avaliado. Dentre as cidades monitoradas pelo órgão, o município continua tendo o pior desempenho da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) se comparado a Ibiúna (55%), São Roque (51%), Tatuí (49%), Votorantim e Itapetininga (48%), Salto (47%) e Itu (45%).
Se comparados os números apresentados pelo governo do Estado, Sorocaba ficou atrás de Barueri (47%), São José dos Campos (48%) e Osasco (50%), tendo desempenho superior apenas a Ribeirão Preto (39%).
Durante uma coletiva de imprensa, o governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), mencionou a preocupação com o aumento de casos da doença no interior paulista e citou Sorocaba como um dos piores exemplos de isolamento, acompanhado por Jundiaí e Americana, ambas com os mesmos 44%.
Na ocasião, o chefe do executivo estadual informou que os municípios com adesão inferior a 50% serão excluídos da lista de cidades aptas à reabertura gradual da economia, programada para ter início no próximo dia 11 de maio.
“Todas estas cidades precisam melhorar os seus índices, principalmente se desejarem ter algum tipo de flexibilização”, enfatizou Doria. Jundiaí tem atualmente 230 casos confirmados e 19 óbitos. Já Americana totaliza 53 pacientes infectados e três mortes.
A médica infectologista e especialista em saúde pública, Rosana Maria Paiva dos Anjos, classifica como autoritária a decisão do governo estadual de criar uma taxa mínima de isolamento para autorizar a retomada das atividades econômicas, que não leva em consideração a diferenças de cada município.
“Esses índices não têm nenhum embasamento científico. Não é o autoritarismo que vai fazer as coisas funcionarem”, opina. “Essa retomada precisa ser feita de forma organizada e criteriosa. Os municípios é que conhecem seus problemas, cada um tem que ver sua própria situação,” complementa. (Wesley Gonsalves)
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