Diante do cenário classificado como desolador pelo governador João Doria (PSDB) em entrevista coletiva realizada no Palácio dos Bandeirantes na última sexta-feira, a quarentena no Estado de São Paulo foi prorrogada até o dia 31 de maio. A medida foi tomada diante da curva crescente de pessoas infectadas pelo novo coronavírus e da ocupação das vagas hospitalares, principalmente nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs). No mesmo dia em que o governador divulgava a prorrogação da quarentena como esforço para diminuir a velocidade da propagação da pandemia, foram contabilizados mais 10.222 novos casos no País e morreram 751 pessoas em 24 horas, um novo recorde trágico.
Criticado por alguns setores pelo rigor com que tenta implantar o distanciamento social no Estado — sem muito sucesso –, o governo de São Paulo suspendeu as aulas na rede pública no dia 13 de março, quando os primeiros casos da doença e as primeiras mortes começaram a ser registradas. A medida atingiu um número gigantesco de alunos, pois paralisou as atividades de todas as escolas públicas estaduais de ensino fundamental, unidades pré-escolares, escolas de nível médio e até 146 unidades de ensino superior. Ao todo são 3,5 milhões de estudantes espalhados por mais de cinco mil escolas.
Somem-se aos alunos das escolas estaduais os estudantes das redes municipais de ensino e das escolas particulares e chegaremos a um número gigantesco de crianças, jovens e adolescentes que, de uma maneira ou de outra, estão sendo prejudicados pela interrupção das aulas presenciais. A quarentena foi prorrogada para o final de maio em todo o Estado, mas não há indícios de que as aulas presenciais voltem nessa data. Em todos os países que adotaram o distanciamento social rigoroso, as aulas têm sido retomadas aos poucos, para evitar a exposição das crianças e dos jovens.
Para que o prejuízo no aprendizado não fosse total, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo iniciou no dia 27 de abril a retomada das aulas por meio do ensino a distância, uma medida que já havia sido tomada por muitas escolas particulares, mais adaptadas às novas tecnologias. A rede estadual optou por transmitir as aulas tendo como base o aplicativo Centro de Mídias SP e os canais de televisão TV Educação e TV Univesp, além de produzir material impresso complementar a ser entregue aos alunos. A rede de ensino municipal de Sorocaba não adotou ensino a distância, pois atende, em sua maioria, crianças pequenas, nas creches e estudantes na fase de alfabetização. A Sedu informa que disponibilizou materiais de estudos pela TV Legislativa que são transmitidos três dias por semana e por meio de um site exclusivo.
As redes que optaram pelo ensino a distância encontram pela frente o problema do acesso a computadores e smartphones pela clientela escolar. O Estado de São Paulo recorreu à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) que mostra que 94% dos domicílios têm celulares e apenas 35% computadores. Com isso foi desenvolvido um programa de educação para smartphones e ao mesmo tempo foi desenvolvida uma programação de televisão. As aulas por aplicativo de celular são mais ricas, há várias funções, enquanto que pela televisão a transmissão é mais democrática, podendo eventualmente atingir mais estudantes por meio do sinal aberto da TV Cultura. Mesmo assim, sabe-se que um bom número de estudantes não terá acesso nem a smartphones, nem a aparelhos de TV. Para esses casos a Secretaria de Educação do Estado está preparando um programa de recuperação para quando as aulas presenciais voltarem. Os alunos serão inicialmente avaliados, para saber quais as habilidades avançaram no período e em quais não avançaram. A partir daí serão montados programas de recuperação.
Mas a maior preocupação das autoridades ligadas à educação em todo o Brasil não está ligada à queda no aproveitamento dos estudantes ou dificuldades de aprendizado que surgirão após período tão longo de afastamento dos bancos escolares. A preocupação maior é com a evasão escolar. Com a quarentena prolongada, a tendência do aumento do desemprego é muito grande. Muitos alunos da rede pública também têm famílias que se dedicam a atividades informais, sem qualquer vínculo empregatício, justamente as mais afetadas pelo isolamento social que ainda vai durar pelo menos mais três semanas. Com esse quadro, muitas famílias podem precisar dos jovens ajudando no sustento da casa, principalmente os alunos que estão no ensino médio ou nos últimos anos do ensino fundamental. Esse será o desafio: mostrar a importância da educação, convencer os estudantes para que voltem para a escola e permaneçam nela. Esse trabalho exigirá grande esforço das autoridades ligadas à educação. Fazer com que todos os alunos voltem a frequentar a escola assim que passe a pandemia.
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