Sem aceitar endossar a política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) quanto ao uso abrangente da hidroxicloroquina contra a Covid-19, o médico oncologista Nelson Teich se demitiu, nesta sexta-feira (15/05), pouco antes de completar um mês à frente do Ministério da Saúde. A brevidade no cargo do 46º homem a comandar a pasta (e o segundo durante a pandemia do novo coronavírus) só é superada por três outros nomes – mas todos ocuparam a função apenas como interinos.
Uma consulta à galeria de ministros da Saúde aponta que somente Vasco Tristão Leitão da Cunha, José Goldemberg e Saulo Pinto Moreira deixaram o posto em um intervalo mais curto de tempo.
O recorde é de Vasco Tristão, indicado ao cargo pelo ex-presidente interino Ranieri Mazzilli, que presidia a Câmara dos Deputados em 1964, quando um golpe militar depôs o então presidente João Goulart e instaurou uma ditadura no país. Tendo tomado posse em 6 de abril daquele ano, Vasco deixou a pasta oito dias depois.
Com apenas 48h a mais de ministério, Saulo Pinto Moreira assumiu interinamente a pasta durante a gestão de Itamar Franco, substituindo o ex-senador Jamil Haddad e antecedendo o ex-governador de Goiás Henrique Santillo.
Já Goldemberg, auxiliar do ex-presidente Fernando Collor (hoje no Pros-AL), era, na verdade, ministro da Educação e só ficou interinamente, por 20 dias, à frente da Saúde. Na época, aliás, ele também respondeu pelo Meio Ambiente de forma interina, o que rendeu a ele o apelido de “biministro”.
Outros dois nomes chegaram perto de bater a marca de Teich no Ministério da Saúde: Armando Ribeiro Falcão, ministro de Jânio Quadros, ficou por 32 dias na função; e José Carlos Seixas, por 36 dias, durante a gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Nova mudança
Assim como seu antecessor no cargo, Luiz Henrique Mandetta, Teich sucumbiu após desentendimentos com Jair Bolsonaro (sem partido). Depois de assumir afirmando “alinhamento completo” com o presidente, Teich acumulou desgastes: o primeiro ponto de divergência foi o grau de isolamento social necessário para enfrentar a propagação da pandemia.
Como não há vacina nem remédio comprovado contra a Covid-19, restringir a circulação de pessoas é a principal maneira de conter o vírus e possibilitar que os serviços de saúde se preparem. Alegando preocupação com a economia, entretanto, Bolsonaro já se manifestou diversas vezes pela flexibilização da medida e desrespeita, ele próprio, as recomendações de evitar aglomeração. Teich não conseguiu viabilizar uma estratégia de relaxamento mais rápido da quarentena.
Nesta semana, o agora ex-ministro foi surpreendido por decreto, editado pelo presidente sem consultá-lo, que incluía salões de beleza, academias e barbearias como serviços essenciais durante a pandemia e que, portanto, poderiam se manter funcionando.
A queda, contudo, teve como estopim o uso da hidroxicloroquina – que, embora não seja recomendada cientificamente por falta de estudos suficientes, como protocolo de tratamento generalizado da Covid-19, é ativamente defendida por Bolsonaro.
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