Durante a pandemia da Covid-19 muitas pessoas deixaram de procurar atendimento nos hospitais por medo de contaminação pela doença. Já para as parturientes não há como evitar a internação, a não ser que se opte pelo parto domiciliar. Em Sorocaba, de 1º de março até 29 de maio, foram registrados 2.715 partos e desses, 13 foram feitos em casa.
Segundo a doula Michelle Antunes Rocha, 35, que faz parte do Bem Gerar, na média mensal a realização de partos domiciliares se manteve, mesmo durante a quarentena. “O medo nunca é um bom motivo de escolha do parto domiciliar. A mãe precisa entender os motivos que a fizeram optar por ele”, frisou. As doulas, além dos partos domiciliares, também podem acompanhar as parturientes nos hospitais e o trabalho é referenciado pela Organização Mundial da Saúde e também pelo Ministério da Saúde.
Entre os hospitais de Sorocaba, o que lidera o ranking de partos realizados desde o início da pandemia é o Santa Lucinda, com 753 bebês nascidos desde março. Em seguida aparece a Santa Casa de Misericórdia, com 515 nascimentos. O hospital da Unimed, Doutor Miguel Soeiro, registrou 420 partos, enquanto o Hospital Modelo e o Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) aparecem em seguida, com 389 e 358 nascimentos, respectivamente. No Hospital Samaritano mães deram à luz 267 bebês.
Do total de nascidos nos hospitais sorocabanos, 2.060 são de mães residentes da cidade, enquanto 655 foram de moradoras de cidades da região. Questionada sobre a adoção de novos protocolos de atendimento por conta da pandemia de Covid-19, a Secretaria de Saúde de Sorocaba (SES) informou que “cada hospital possui um plano de contingência próprio em relação ao coronavírus”.
Planejamento
Muito planejada e desejada, a chegada da pequena Laura aconteceu no dia 21 de maio, no Hospital Modelo. A mãe, Lara Cristina Alves da Fonseca, 33, conta que o avanço da pandemia causou medo e insegurança, mas junto ao marido ela conseguiu seguir com o plano de parto e contou com o auxílio de uma doula. “No começo falaram que o risco para gestantes e puérperas era pequeno, mas já no início da pandemia no Brasil morreram três puérperas e aí fiquei bastante apreensiva”, contou.
Lara, que é engenheira química em uma indústria da região e professora na Facens, passou a trabalhar em casa desde março. “Só saía para as consultas médicas e o meu marido ficou responsável pelas compras”, relembra. Ela relata que o parto de Laura foi tranquilo, normal, mas uma infecção no líquido amniótico fez a internação se estender. “Fui pensando que ficaria somente 24 horas no hospital, que é o padrão para parto normal, mas fiz as malas sendo precavida. Fiquei quatro dias internada e a Laura sendo monitorada”, fala a engenheira.
Como a família já mora longe, Lara conta que o distanciamento já faz parte da rotina. “Se não fosse a Covid, com certeza minha mãe teria vindo para Sorocaba, mas como ela já é idosa nós achamos melhor não. A família conheceu Laura por fotos e vídeos”, disse. Os sogros, conta, foram fundamentais durante a internação, pois mesmo sem poder visitar, iam até o hospital para levar itens necessários.
Já para Gabriela Nascimento Rodrigues, 22, a necessidade do isolamento social tem sido um desafio desde o nascimento de Leandro Kalel, que chegou ao mundo no dia 15 de maio, por meio de uma cesariana no Hospital Santa Lucinda. “Sinceramente está sendo triste esse isolamento porque pouquíssimas pessoas conheceram o Leandro, então tiramos foto dele o tempo inteiro para matar a vontade dos amigos e familiares”, contou.
Durante a gestação a atendente recebeu uma surpresa com um chá de bebê em forma de carreata. “Eu tive que cancelar o chá de bebê por conta da pandemia, mas por fim me fizeram essa surpresa linda. Parentes e amigos deixaram presentes e fraldas na frente de casa e cada um deu as felicitações do carro mesmo, foi muito emocionante ver que quando se tem união as pessoas sempre arrumam um jeito” relembrou. Todo o enxoval do bebê foi montado com compras on-line.
A doce e isolada espera
Murilo era esperado desde o começo do mês e nasceu ontem pela manhã, em casa, com 4,2 kg. A mãe, a tecnóloga Juliana Correia, 34, optou o parto domiciliar depois de muito estudar as possibilidades e buscar informações sobre parto. Mesmo antes da pandemia ela e o marido decidiram que o nascimento de Murilo seria em casa. Juliana falou com a reportagem no início do mês. “Estou na reta final, minha expectativa é que seja um parto sem complicações, que possa ser feito todo em casa. Confio muito na equipe que escolhi para me acompanhar e quero viver essa experiência por completo, sabendo que meu corpo dará conta”, disse. E assim foi. Murilo nasceu em casa e a mãe o recebeu sem complicações.
Para a família o anúncio do parto domiciliar foi recebido com naturalidade, já que a própria Juliana nasceu em casa. “Meu parto foi domiciliar, mas não foi planejado já que eu nasci muito rápido”, conta aos risos. Sobre as visitas no pós parto, ela conta que junto ao marido decidiram evitar. “Vamos aguardar para ver como ficará a situação da pandemia.”
Assim como Gabriela, Juliana também precisou fazer as compras do enxoval de Murilo pela internet e um chá de bebê on-line comemorou de forma inusitada a gestação. “Nossos amigos mandaram fraldas e presentes aqui para a casa e nós conversamos em grupo por chamada de vídeo”, disse a tecnóloga, que recebeu, ontem seu primeiro filho. (Larissa Pessoa)
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