O presidente Jair Bolsonaro alcançou seu melhor índice de aprovação desde o início do mandato, segundo pesquisa divulgada nesta sexta-feira (14) pelo Instituto Datafolha. Integrantes do alto escalão do governo avaliam que o resultado se deve à mudança de tom do presidente. Isto porque ele tem evitado declarações na porta do Palácio do Alvorada, e ao auxílio emergencial de R$ 600.
De acordo com o levantamento, 37% dos brasileiros consideram o governo ótimo ou bom, ante os 32% registrados em junho. Até então, os melhores índices de aprovação haviam sido os de abril e maio deste ano, 33% de ótimo ou bom.
Rejeição a Bolsonaro também caiu
A pesquisa também mostra que a rejeição a Bolsonaro caiu 10 pontos porcentuais em comparação com o levantamento anterior. Enquanto em junho 44% dos entrevistados avaliaram o governo como ruim/péssimo, agora a taxa foi de 34%.
O levantamento foi realizado com entrevistas por telefone com 2 065 pessoas entre os dias 11 e 12 de agosto. A margem de erro é de dois pontos.
Após elevar a tensão com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) no início do ano, Bolsonaro foi convencido por ministros a dar uma trégua. Tudo para evitar o agravamento da crise que o ameaça com dezenas de pedidos de impeachment.
Investigações no Supremo
O presidente também é pressionado por investigações no Supremo contra aliados e o caso da ‘rachadinha‘ no antigo gabinete do seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), na Assembleia Legislativa do Rio.
Outra medida adotada por Bolsonaro foi se distanciar de apoiadores mais radicais e mostrar disposição ao diálogo. “Gosto de falar, mas vi que estava fazendo errado. Às vezes eu ficava dez minutos, 20 minutos, uma hora conversando. Pegavam cinco segundos e no dia seguinte era só pancadaria”, disse Bolsonaro em live anteontem.
Apesar de o presidente frequentemente questionar a credibilidade de institutos de pesquisa, desta vez o índice foi comemorado por indicar que Bolsonaro cresceu mesmo após o Brasil superar 100 mil mortes por coronavírus.
Perfil dos favoráveis a Bolsonaro
A aprovação do presidente continua alta entre os homens — 42% consideram o governo ótimo/bom –, entre quem tem entre 35 e 44 anos (45%) e entre moradores das regiões sul, centro-oeste e norte (42%). A maior parcela que aprova o governo, no entanto, são empresários (58%).
Já a avaliação de que o governo é ruim/péssimo é maior entre as mulheres (39%), entre pretos (48%) e entre quem tem ensino superior e quem ganha mais de 10 salários mínimos (47% em ambas as categorias). A maior rejeição ocorre entre os estudantes (56%).
Na comparação com os ex-presidentes desde a redemocratização, no entanto, Bolsonaro mantém a segunda pior rejeição — só à frente de Fernando Collor de Mello, que durante a mesma fase de governo tinha 41% de reprovação.
Crise econômica
Paradoxalmente, a mudança substancial na forma como parte da população vê o governo Bolsonaro ocorre no momento em que o país vive uma grave crise sanitária e econômica. No último fim de semana, o Brasil superou a marca de 100 mil mortes por Covid-19, com o presidente ainda insistindo numa postura negacionista da pandemia.
Já as projeções do PIB no segundo trimestre apontam para um tombo de pelo menos 11%, segundo o Banco Central.
No entanto, o aumento da popularidade também coincide com a continuidade da distribuição do auxílio-emergencial de 600 reais para trabalhadores afetados pela crise.
Trabalhadores e desempregados
O governo federal, que inicialmente havia proposto o valor de 200 reais e concordou em triplicar o valor após votação na Câmara dos Deputados, hoje celebra a cada semana o número total de beneficiados, que tem aumentado a aprovação do presidente até mesmo em antigos redutos do PT, como o Nordeste.
Segundo o Datafolha, dos cinco pontos de crescimento da taxa de avaliação positiva, pelo menos três vieram de trabalhadores informais ou desempregados que têm renda familiar de até três salários mínimos. Eles fazem parte justamente do grupo alvo do auxílio emergencial.
Ainda assim esta pesquisa não marcou o fundo do poço para Bolsonaro, apesar da imagem do governo ter sofrido com a prisão. A pior avaliação do presidente continua sendo a de agosto de 2019, em meio à crise das queimadas e o derretimento da imagem do Brasil no exterior, quando apenas 29% consideraram seu governo bom ou ótimo. (Estadão Conteúdo)
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