Nildo Benedetti – [email protected]
O nazismo revela como um Estado, sob o comando de um líder racista delirante, produziu uma guerra que provocou mais de setenta milhões de mortes e corrompeu um povo culto, levando-o a exterminar milhões de homens, mulheres e crianças simplesmente por serem judeus, doentes mentais, ciganos, eslavos, homossexuais, etc.
A ascensão do nazismo na Alemanha deveu-se a motivos econômicos, políticos, históricos etc. Teve também causas psicológicas. É o que veremos a seguir a partir dos conceitos expostos na semana passada sobre as pulsões.
A propagação generalizada do nazismo é explicada pela psicologia das massas tratada por Freud em 1921. Um indivíduo passa a se sentir seguro e em harmonia social quando faz parte de um grupo que se constituiu com algum propósito específico e com o qual comunga ideias pessoais.
Os membros de um grupo estão presos em duas formas de relações: com o líder e com os outros membros. Isto faz que abdiquem de sua singularidade e da sua liberdade e adquiram uma espécie de mente coletiva que os faz sentir, pensar e agir de maneira uniforme e muito diversa daquela que cada membro individualmente sentiria, pensaria e agiria.
Incitado por um genocida como Hitler, a censura moral de cada indivíduo foi afrouxada e a manifestação das pulsões destrutivas foi liberada sob todas as formas em todas as camadas da sociedade alemã. Hitler atiçou o que de pior reside no ser humano e fez os alemães se apegarem à ideia insana de que era preciso construir uma humanidade racialmente superior para criar um novo mundo.
O lado sombrio do inconsciente humano foi valorizado. O ódio, o crime, a tortura, a delação, o desejo de destruir e exterminar se tornaram a norma coletiva, a lei, dentro da qual todos deveriam atuar. Tornaram-se psicologicamente aprisionados ao líder e atacaram as instituições que sustentavam a democracia que garantia a singularidade e a liberdade de cada um: a imprensa, os intelectuais, as instituições parlamentares e jurídicas.
Para justificar a idolatria a um líder extremista, os seguidores apontam muitas razões. Mas esses motivos racionais não devem ser levados muito a sério. O que de fato conta é a liberação das pulsões destrutivas inconscientes que o líder atiça. Por isso, os fanáticos não discutem racionalmente. Agem como feras contra os que discordam das ideias do líder mitificado, por mais estúpidas e confusas que sejam.
O nazi-fascismo adota a bandeira nacional como fantasia. Tal “patriotismo” no Brasil frequentemente vem de indivíduos que admiram e idealizam tudo que vem de fora e, ao mesmo tempo, depreciam o que é nosso. Submetem-se, compassivos, à aprovação do estrangeiro, procuram agradá-lo rebaixando o Brasil e, desse modo, tentam demonstrar que são diferentes dos outros brasileiros.
O nazi-fascismo tem a obsessão do complô, geralmente internacional. Assim como hoje combatem refugiados e não-cristãos, no passado combatiam, judeus, ciganos etc. Como no Brasil esse combate não faz sentido, conflitam com um inimigo fictício a quem dirigem seu ódio — como, por exemplo, ao finado comunismo. Assim, quem discorda do líder é rotulado de “comunista” por pessoas que mal sabem o que isso significa.
Na próxima semana escreverei sobre “La Memoria del Agua”.
Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec.
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