Chimamanda sobre racismo no Brasil: “Não aceitam que é um problema”

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A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie foi a entrevistada do Roda Viva, da TV Cultura, desta segunda-feira (14/6). Considerada um dos mais importantes nomes da literatura contemporânea mundial, a autora de Hibisco Roxo, Meio Sol Amarelo e Para Educar Crianças Feministas  era negociada pela emissora há um ano,  devido à agenda sempre cheia. Ela falou ao programa de sua casa, em Lagos, na Nigéria.

Questões sobre racismo e feminismo foram os mais recorrentes durante a entrevista. Ela respondeu, por exemplo, como os pais poderiam ensinar o feminismo para os filhos e se as escolas deveriam ajudar nessa missão. Chimamanda foi direta ao dizer que todos devem falar sobre feminismo para os mais jovens, mas que o assunto deve ser introduzido em casa.

“Isso precisa começar em casa. Posso falar da minha experiência. Quando tive minha filha, meu marido e eu fizemos escolhas muito conscientes sobre como iríamos criá-la e sobre as coisas iríamos lhe dizer. Por exemplo, decidi que ela iria ser muito ativa, fisicamente ativa, e decide isso porque acho que é preciso começar cedo a tentar lidar com as horríveis mensagens que meninas recebem sobre seus corpos”, opinou a autora.

Segundo a intelectual, foi um grande desafio desconstruir os papéis de gênero, como por exemplo os brinquedos que “pertencem” a meninos. Para Chimamanda, mesmo sendo coisas pequenas, isso contribuiu para a forma como meninas pensam de si mesmas.

Em outro ponto alto da conversa, ela discorreu sobre movimentos feministas na Nigéria, país onde já admitiu ser considerada uma “figura polêmica”. “Nada do que eu falo é tão polêmico se realmente acreditarmos que as mulheres são seres humanos completos”.

Chimamanda ainda classificou como “deplorável, triste e perturbadora” a violência de homens negros com as mulheres. “Especialmente entre homens negros, um pouco surpreendente, porque os negros entendem o racismo. Então, acho surpreendente que eles não entendam o machismo. Porque é de se imaginar que, se você sofre um tipo de preconceito, isso deixa você mais compreensivo com outros tipos de preconceito”, explicou.

Racismo no Brasil

Outro questionamento feito à autora foi sobre sua experiência no Brasil e sua percepção da população negra do país. Chimamanda disse que se perguntava “onde estão os brasileiros negros” nos locais que frequentava. “Sei que o Brasil tem muitas pessoas negras e eu queria vê-los”, disse.

Para Chimamanda, o racismo velado fica ainda mais perceptível em países como o Brasil, em que existe uma grande população negra, que não se vê representada.

“Eu também percebi que falar sobre isso deixa as pessoas desconfortáveis, ninguém quer aceitar que é um problema”, contou. “Se tem um país onde as pessoas não tem as mesmas oportunidades que as outras, a culpa é da sociedade que excluiu ela”, completou Chimamanda.

Política

Ao longo do programa, Chimamanda comentou menos sobre política que os internautas que assistiram à transmissão no Youtube, postando comentários contra e a favor do atual governo. Ao ser questionada sobre sua interpretação sobre o atual momento do Brasil, a escritora foi breve. “Não tenho acompanhado muito. Mas penso que o Brasil merece lideranças melhores”, afirmou.

Além da apresentadora Vera Magalhães, a bancada de entrevistadores contou Djmila Ribeiro, escritora; Marcella Franco, editora da Folhinha, na Folha de S.Paulo; Carla Akotirene, pesquisadora em Estudos Feministas na Universidade Federal da Bahia; Adriana Ferreira Silva, redatora-chefe da Revista Marie Claire; e Carol Pires, jornalista brasiliense.


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