A pandemia do coronavírus mostrou que as previsões podem cair por terra rapidamente. Depois de dois anos com medidas restritivas para conter o vírus e o aumento da vacinação, um cenário “pós-pandêmico” começa a parecer possível. Pensando nessa retomada, a coluna conversou com especialistas de diversos segmentos da moda para entender o que pode despontar no próximo ano.
Vem conferir as apostas!
O período pandêmico nos apresentou o conforto do home office e dos moletons como look de trabalho. Com a volta das atividades presenciais, entra em cena a vontade de caprichar nas produções. Porém, uma tônica que seguirá presente é o estilo comfy!
“Silhuetas fáceis de usar e confortáveis. Um equilíbrio entre natural e tecnológico que já vemos há 10 anos, seja ele nas cores ou nas próprias formas. Vamos ver cada vez mais um mix de silhuetas muito básicas e ao mesmo tempo coisas mais complexas”, conta à coluna Lenny Niemeyer, diretora criativa da marca homônima de beachwear.
Nada discreto
Diversas marcas das semanas de moda internacionais e nacionais desfilaram coleções em que o brilho era o protagonista. A aposta é certeira, segundo Henri Farias, coordenador de Estilo da Coca-Cola Jeans e da Triton. “Muito impulsionado pela geração Z, que tem uma grande atração por tudo que reluz, veremos o brilho em looks inteiros e, em doses homeopáticas, em roupas, acessórios e maquiagens. A regra é misturar cores e texturas”, aposta.
No próximo ano também podemos praticamente esquecer os tons sóbrios. Essa escolha se relaciona com a busca do bem-estar e com o termo dopamine dressing. “A ideia é vestir roupas que te deixarão feliz. E as cores, em especial, terão um efeito muito forte. Será como um arco-íris depois da tempestade que inclui roupas novas, elegantes e de cores vivas”, explica Mariana Santiloni, gerente de atendimento ao cliente e especialista de tendências na WGSN, empresa de tendências de comportamento e consumo.
Segundo Mariana Santiloni, entrarão no nosso radar “cores como o rosa orquídea, que é tom intenso de magenta e o bio lime, um verde quase neon”. A tendência também apareceu no report de previsões para 2022 da rede social Pinterest.
Corpo na rua
Depois de – quase – dois anos confinados, é natural a vontade de ganhar as ruas. Ainda segundo Mariana Santiloni, da WGSN, “o consumidor redescobriu a importância das atividades ao ar livre. Com isso, marcas e varejistas passaram a investir em roupas, calçados e acessórios para explorar a natureza”.
Além de estar na rua, a máxima é se exibir! Decotes e recortes inusitados que deixam a pele à mostra virão com tudo no próximo ano. Quem defende essa ideia é o professor Lorenzo Merlino, do curso de moda da Fundação Armando Álvares Penteado.
“Eu acho que o principal aspecto que a gente verá em 2022 é a exibição corporal. Vamos ter muita roupa transparente, com partes do corpo de fora e roupas pequenas. Minissaia, miniblusa, calças apertadas, enfim, uma hipervalorização do corpo”, explica o professor à coluna.
Revenge buying
O professor Lorenzo Merlino também acredita que o consumo desenfreado vai marcar o próximo ano. “Essa questão da inflação que estamos vendo agora no fim do ano, não só no Brasil, mas no mundo todo é reflexo disso. As pessoas estão voltando a consumir mais porque estão com vontade de comprar”.
E o mercado se beneficiará da tendência do “consumo de vingança”. Como explica Mariana Santiloni, da WGSN: “Provavelmente teremos um aumento na compra de itens de alto luxo que são difíceis de adquirir on-line, como relógios e joias, e itens que a experiência não pode ser reproduzida no digital”.
Práticas sustentáveis
Por outro lado, diferentes nomes da indústria apostam na sustentabilidade como uma tendência deste ano que seguirá no próximo. Cristina Lucchetti, diretora de estilo da Farm, contou à coluna que “a pandemia deu [atenção] para temas importantes como diversidade e sustentabilidade, assuntos urgentes. Aconteceu forte em 2021 e vai ficar para sempre na gente como marca”.
Ana Freitas, head de marketing da Animale, também defende a ideia. “Os consumidores querem se conectar com marcas que trazem para além de uma proposta de estilo, um propósito que abraça causas sociais e/ou ambientais”, explicou.
Moda social e política
O Brasil enfrenta, no próximo ano, eleições. O professor Lorenzo Merlino acredita que a moda vai contribuir para a polarização no país: “A moda não tem esse papel – e nem é sua função – de apaziguar os ânimos. Ela é o reflexo da sociedade. Então, a gente vai ter isso facilmente colocado nas roupas”.
A busca por maior diversidade também é destacada pelo professor. “A questão da aceitação das diferenças, dos padrões corporais diversos, da valorização das culturas antes marginalizadas, a questão trans e a multiplicidade de gêneros: tudo isso é uma macrotendência forte por um período longo”, completa.
O apanhado geral mostra que tendências que surgiram na pandemia, como o desejo por peças confortáveis e por marcas com responsabilidade social e ambiental, seguirão. O fim das medidas restritivas, por sua vez, será um convite para eventos sociais onde cores e brilhos serão os protagonistas.
Colaborou Carina Benedetti
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