Na madrugada do último dia 20 de abril, o deputado federal Israel Matos Batista (PSB-DF), conhecido como Professor Israel, foi alvo de um assalto perto do Parque da Cidade, na área central de Brasília. Na abordagem, três homens renderam e ameaçaram o político com um facão. Ele entregou carteira, celular e as chaves do carro. Em seguida, correu da cena do crime para procurar ajuda e chegou a uma viatura da Polícia Militar do DF (PMDF). O parlamentar foi levado à 5ª DP para registro de ocorrência.
Desde esse momento, as investigações sobre o episódio apontam contradições. Um inquérito sobre o incidente contendo 103 páginas foi relatado pela Polícia Civil e é mantido em sigilo.
Em sua versão, Israel sustenta ter sido rendido pelos bandidos quando deixava uma loja de conveniência no Posto da Torre, no Setor Hoteleiro Sul. O lugar ficou famoso no Brasil por ser o epicentro das negociatas que deram origem à Operação Lava Jato. Durante duas madrugadas seguidas, o deputado frequentou o local, que também é um ponto de tráfico de drogas e de prostituição.
O Metrópoles apurou que, naquela noite, Israel interagiu amistosamente com um de seus algozes antes de ter sido vítima de um assalto. As câmeras de segurança flagraram os dois homens caminhando tranquilamente nos momentos que antecederam a emboscada ao político.
Dias depois do ocorrido, a PCDF conseguiu ouvir os suspeitos. Entre os relatos, o do morador de rua que fazia companhia para o deputado antes do assalto é perturbador.
O homem confessa à polícia que armou com seus comparsas uma arapuca para o parlamentar. Mas, com a mesma frieza que admite o crime, também relata o motivo de estar na companhia de Israel. Até aquele momento, ele não sabia que se tratava de um congressista.
Israel Batista é vice-líder do PSB na Câmara dos Deputados, integra a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da População em Situação de Rua e preside a Frente Parlamentar de Educação.
Em relato à polícia, o morador de rua descreve detalhadamente as interações que manteve com o político. Ele conta ter aceitado R$ 50 de Israel para realizar um fetiche do parlamentar. Afirma também ter comprado três pedras de crack na Rodoviária a pedido do integrante do Congresso Nacional.
O homem, que foi indiciado pela Polícia Civil, descreveu, no último dia 24/5, que estava perto do Posto da Torre catando latinhas e fumando crack, quando foi abordado por Israel. Antes de perambular pelas ruas do DF, ele era motorista. Perdeu o emprego e passou a se abrigar em locais públicos. Atualmente, circula pelas bocas de fumo do Setor Hoteleiro Sul.
Em determinado momento, segundo o dependente químico, o parlamentar teria perguntado se ele gostaria de ganhar R$ 50. Em troca, teria de realizar um fetiche sexual do congressista. O homem sustenta em seu depoimento que aceitou a proposta, e o ato teria sido realizado em via pública, próximo ao prédio do Sicredi.
O morador de rua também disse aos policiais que Israel teria pedido para ele indicar onde poderiam comprar três pedras de crack. Segundo contou em depoimento, os dois foram juntos adquirir a droga. No retorno, o deputado, então, foi abordado pelo trio de bandidos. Ao notar que Israel era um alvo fácil, o morador de rua armou com seus comparsas um assalto.
Um deles estava municiado com um facão e rendeu Israel, que ainda teria tentado reagir, mas foi agarrado pelos outros dois bandidos. Os criminosos roubaram o celular, a carteira e as chaves do veículo do deputado. O quarteto envolvido no crime foi indiciado por roubo qualificado.
A partir de imagens instaladas em prédios próximos, foi possível compreender a dinâmica do assalto. As filmagens deixaram claro que a história de Israel apresentava algumas excentricidades. Uma delas é o fato de o deputado dizer que iria a uma loja de conveniência, mas estacionar a mais de 1 quilômetro do local. Tais imagens corroboram para a versão do episódio contada pelo morador de rua que interagiu com parlamentar na noite do crime.
A 5ª DP, que relatou o inquérito, se negou a comentar o caso, afirmando que a investigação é sigilosa.
O que diz o deputado
Em conversa telefônica com a reportagem, o deputado afirmou que estava embriagado na noite do ocorrido e que havia tomado “hiperdosagem de Alprazolan”, medicamento usado no tratamento de distúrbios de ansiedade. “Eu estava muito bêbado e estou fazendo um trabalho psiquiátrico sobre cigarro e bebida”, disse Israel. Em seguida, o parlamentar enviou nota que segue na íntegra:
“Quanto à reportagem publicada pelo Metrópoles, o deputado Professor Israel afirma que:
Foi vítima de uma cruel e armada emboscada como consta em todos os depoimentos dos envolvidos, seguida do crime de roubo em que foi agredido e ameaçado com arma branca.
Todos os envolvidos foram devidamente indiciados e já respondem na Justiça como réus pelo crime. Os depoimentos, que só foram prestados após ampla divulgação na mídia da condição de parlamentar da vítima, são contraditórios e apresentam uma versão que parece ser apenas uma tentativa desesperada dos envolvidos de se furtarem à responsabilidade pelo crime que cometeram.
Além de apresentarem fatos inverídicos, teceram diversos comentários preconceituosos, que indicam claros objetivos de prejudicar a vítima, provavelmente por ser ela pessoa pública e assumidamente homossexual.
Ao sofrer o assalto, a vítima imediatamente procurou as autoridades competentes e teve todo o suporte necessário da Polícia Militar e da Polícia Civil.
O parlamentar tem um mandato combativo e relevante e confia na Justiça para elucidar este episódio“.
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O post Crack, fetiche e assalto: o que há por trás de um crime envolvendo deputado do DF apareceu primeiro em Metrópoles.