Goiânia – O autônomo Henrique Alves de Nogueira, de 28 anos, gritou por ajuda ao ser levado em uma viatura da Polícia Militar na manhã do último dia 11 de agosto em um bairro da capital goiana. Ele passou o dia desaparecido e foi morto, já à noite, pelos mesmos militares que o capturaram.
“Vizinhos comentaram que o preso gritou no momento da detenção, pedindo para os populares não deixarem a PM levá-lo”, informa trecho de depoimento de testemunha anexado ao inquérito do caso ao qual o Metrópoles teve acesso.
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De fato, vídeo de uma câmera de monitoramento que revela o momento em que Henrique é colocado na parte de trás da viatura, mostra que ele tenta resistir, mas acaba sendo colocado no camburão. A abordagem aconteceu no bairro Jardim Europa, região sudoeste de Goiânia, logo após a vítima ter deixado o filho de 4 anos na escola e ter deixado o carro em uma oficina.
Veja o vídeo:
Quatro policiais militares envolvidos no caso foram presos temporariamente na terça-feira (16/8). Eles são suspeitos de homicídio, fraude processual (por tentar apagar provas e forjar confronto), além de tráfico de drogas e porte ilegal de arma, já que no momento em que a vítima foi abordada estava desarmada e sem drogas, mas, após ser morta, os policiais apresentaram drogas e uma arma como sendo dela.
Imagens apagadas
Uma testemunha sigilosa ainda revelou na Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH), que cuida do caso, que três homens que diziam ser policiais apagaram o vídeo da abordagem do DVR, aparelho que armazena as imagens captadas pela câmera de monitoramento. No entanto, familiares da vítima já tinham ido ao local antes e uma cópia tinha sido feita.
Segundo essa testemunha, já no dia do crime houve uma visita de homens à paisana que se diziam militares. Eles teriam analisado as imagens das câmeras, mas não teriam encontrado o momento da abordagem e deixaram o aparelho intacto.
No dia seguinte ao crime, homens que diziam ser policiais voltaram ao local e pediram para olhar as imagens da câmera novamente. Quando eles foram embora, a testemunha percebeu que o DVR não gravava mais e todas as imagens do arquivo tinham desaparecido. O aparelho DVR está passando por perícia.
Viaturas paradas
O local em que Henrique foi levado e o local em que foi morto ficam a uma distância de cerca de 15 km, o que é possível ser feito em cerca de 25 minutos com trânsito normal.
A DIH já fez uma análise preliminar do GPS da viatura envolvida no crime. A mesma viatura policial que capturou Henrique no Jardim Europa foi a envolvida no suposto confronto em que o autônomo foi baleado no bairro Real Conquista, na noite do mesmo dia.
Essa análise revelou que a viatura ficou parada no local do crime durante cerca de 5 horas no dia 11 de agosto. O local é uma estrada de terra bem afastada, sem iluminação pública.
Segundo a investigação, em um primeiro momento a viatura ficou em um ponto entre 19h48 e 20h47. Depois, a viatura se deslocou poucos metros (cerca de 50) até outro ponto no local do homicídio, ficando parada ali entre 20h48 e 00h37.
A data de comunicação do suposto confronto pela polícia foi 20h14, segundo boletim de ocorrência. Já o óbito de Henrique foi constatado por uma equipe médica do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) no local do crime às 21h13. E a Delegacia de Homicídios foi acionada às 22h.
Rigor
Os policiais presos temporariamente envolvidos no caso são o cabo Guidion Ananias Galdino Bonfim, de 31 anos, o soldado Kilber Pedro Morais Martins, de 34 anos, e o também soldado Mayk da Silva Moura Sousa, de 29.
A Polícia Militar informou na segunda que eles foram afastados assim que tomaram conhecimento sobre o caso. Além disso, foi aberta uma investigação interna para apuração rigorosa do caso, segundo a PM.
O Metrópoles não conseguiu contato com a defesa dos policiais investigados no caso.
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