A batalha do Brasil contra o coronavírus foi especialmente dura para os profissionais da linha de frente no esforço para salvar vidas: técnicos e auxiliares de enfermagem, enfermeiros e médicos. Esses profissionais, que nos piores momentos da pandemia tiveram de lidar até com a falta de equipamentos de proteção, enfrentaram taxas de mortes que chegaram ao dobro da média dos anos anteriores à Covid-19. Eles só deixaram de morrer mais do que a população em geral quando começaram a ser vacinados com prioridade, no início de 2021.
Ao menos 4.500 profissionais de saúde de hospitais e clínicas públicos e particulares morreram de Covid-19 entre março de 2020, quando a pandemia chegou ao Brasil, e dezembro de 2021.
Os que mais morreram foram os que trabalhavam mais próximos dos pacientes: técnicos e auxiliares de enfermagem, que representam 70% das vítimas entre os profissionais de saúde; seguidos dos enfermeiros (25%) e médicos (5%).
Essa concentração da maioria das mortes nas ocupações com menores salários no setor da enfermagem trouxe ainda uma grande disparidade de gênero no número de vítimas. Como, conforme dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), a maioria da força de trabalho no setor é formada por mulheres, foram elas que mais morreram: oito a cada dez mortos por Covid-19 entre os profissionais de saúde no período pesquisado eram mulheres.
Esses dados sobre o impacto da Covid nos profissionais de saúde brasileiros estão em um estudo que está sendo divulgado pela primeira vez nesta quinta-feira (13/10) e foi encomendado por uma federação sindical que reúne sindicatos de 154 países, a Public Services International (PSI), ou Internacional de Serviços Públicos, em português.
Eles foram computados pelo estúdio de inteligência de dados Lagom Data a partir do cruzamento de microdados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados e Registros de profissionais do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).
A pesquisa faz parte de uma campanha chamada Behind the Mask (Por Detrás da Máscara), que será apresentada pela entidade sindical para a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Os dados sobre os impactos da Covid entre profissionais de saúde foram apurados pela PSI no Brasil, Zimbábue, Paquistão e Tunísia. Entre os motivos para a escolha dos países, segundo a entidade, está a resistência dos governos deles em abordar a luta contra a doença com a seriedade devida.
“Faltaram equipamentos de proteção, oxigênio, vacinas e medicamentos. Sobraram mensagens falsas e desaforadas do governo sobre a Covid-19, chocando o mundo. E até hoje os profissionais da linha de frente seguem desvalorizados no Brasil”, afirma Rosa Pavanelli, secretária-geral da PSI, que tem sua sede mundial em Genebra, e integra a Comissão de Alto Nível do Secretário-Geral da ONU sobre Emprego em Saúde e Crescimento Econômico.
Veja alguns dos achados desse levantamento em gráficos:
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O excesso de mortes entre profissionais de saúde provocadas pela Covid-19 Relatório Profissionais de Saúde e a Covid-19 no Brasil, da PSI/Reprodução
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Antes de serem vacinados, profissionais da saúde morriam mais do que a média. Depois, situação se inverteu Relatório Profissionais de Saúde e a Covid-19 no Brasil, da PSI/Reprodução
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A diferença no impacto entre homens e mulheres Relatório Profissionais de Saúde e a Covid-19 no Brasil, da PSI/Reprodução
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As mortes divididas por ocupação profissional na área da saúde Relatório Profissionais de Saúde e a Covid-19 no Brasil, da PSI/Reprodução
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Crescimento
Os dados da pesquisa revelam que as mortes entre os profissionais brasileiros de saúde se avolumaram mais rapidamente do que o observado na população geral, especialmente nos meses em que faltaram equipamentos de proteção individual para esses trabalhadores.
Mostram ainda que a vacinação fez toda a diferença para salvar as vidas desses profissionais saúde quando começou por eles. A partir da consolidação da vacinação, profissionais de enfermagem e medicina passaram a morrer menos do que a média dos demais brasileiros.
Os meses mais trágicos para os profissionais da linha de frente foram de março a junho de 2021, quando houve mais mortes entre eles do que durante todo o ano anterior.
Não existem dados oficiais sobre quantos profissionais de saúde trabalharam na linha de frente do combate à pandemia, visto que houve grande rotatividade no mercado de trabalho da saúde na época e muitos profissionais atuam em mais de uma unidade de saúde.
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